A NOVA QUE É VELHA
Apesar do revival disco e toques de hip hop, novo disco de Mariah Carey repete velhos traquejos
Por Josafá Santana
Cinco anos e muitos adiantamentos são a marca da chegada do novo disco de Mariah Carey às lojas e plataformas digitais amanhã, dia 27. O título não poderia ser mais egocêntrico Me. I Am Mariah… The Elusive Chanteuse (Eu. Eu sou Mariah, a cantora ilusória). Esse trabalho marca os 25 anos de carreira da cantora que ainda insiste numa fórmula presente na sua discografia desde sua estreia homônima em 1990. A novidade fica por conta das nuances nostálgicas das canções e batidas que reverberam influências da era disco e hip-hop dos anos 80.
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Logo na abertura, temos a solene e triste balada “Cry”, uma música emotiva que traz toda sensibilidade da cantora e mostra que voz e piano é uma fórmula certeira para músicas intimistas de Mariah. “Dedicated” é uma homenagem a grandes nomes do hip-hop dos anos 80 e 90. A batida envolve e faz um retorno ao passado, mas sem deixar de ser contemporânea. “Make It Look Good” traz a Steve Wonder e sua gaita, que disputa com a cantora as notas mais altas desse soul suave e retrô.
A faixa ‘Thirsty’ é uma produção de Hit-Boy, que também cedeu o seu estilo na faixa ‘Niggas In Paris’ de Jay-Z e Kanye West. Mariah dispara, sabe-se lá pra quem “Best thing that happened to your ass was me” – alguém duvida da autoconfiança dessa mulher? O momento fofo fica por conta de “Supernatural”, que exalta a maternidade e conta com as participações dos seus filhos de três anos, Monroe e Morrocan, também conhecidos como “Dem Babies”. Como sempre é esperado, ela faz uma regravação e desta vez escolhe o clássico de George Michael, “One More Try”. A música parece só preencher o espaço dessa rotina dos discos dela e se torna uma faixa morna e aguada.
As músicas mais dançantes são uma retrospectiva da era disco e segue a tendência lançada pela dupla Daft Punk com o disco Random Access Memories. “You Don’t Know What To Do”, com a participação do rapper Wale, tem o refrão grudento, no qual ela sacramenta a insegurança de um amante. “Meteorite” tem uma forte influência da New Wave e faz referência à famosa frase de Andy Warhol, na qual ele afirma que no futuro todo mundo terá 15 minutos de fama. Essa música está cheia de indiretas para as cantoras novatas do mainstream e insinua a importância de Mariah como uma das estrelas da indústria musical, mesmo depois de duas décadas de carreira.
Mantendo a tradição, Mariah fecha o disco abrindo as portas da igreja e ~abençoando~ os seus fãs com uma canção gospel. Cheia de gritos, “Havenly (No Ways Tired/Can’t Give Up Now)” expõe os famosos melismas e exageros vocais, dignos de suas cinco oitavas que a tornaram conhecida do público. A versão de luxo do disco ainda conta com duetos de Mary J. Blige em “It’s a Wrap” e de R. Kelly em “Betcha Gon’ Know”, ambas um reaproveitamento do fracassado trabalho da cantora de 2009, Memoirs of an Imperfect Angel.
Com esse disco, Mariah conseguiu uma qualidade que há tempos não se via em sua obra. Porém, ainda peca por não sair do óbvio. Ela se predispõe a fazer o melhor naquilo que ela sempre fez com maestria que é expor seus desgostos e mágoas em letras melosas e sofridas, o que acaba soando piegas para uma cantora com mais de quarenta anos.
MARIAH CAREY
Me. I Am Mariah… The Elusive Chanteuse
[Def Jam, 2014]
Nota: 7,0