Crítica – Disco: James | La Petite Mort

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Foto: Divulgação.
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Com 30 anos de estrada, James ainda tem boas ideias para o indie rock

Por Alexandre Figueirôa

A expressão francesa la petite mort é comumente usada para referir-se à rápida sensação de esvanecimento que experimentamos durante o orgasmo. Esse é também o título do novo álbum da banda britânica James, embora a pequena morte a qual o grupo originário da cidade de Manchester se refere tem como mote a morte real e definitiva. As dez canções do disco se relacionam lírica e emocionalmente de alguma forma com o tema, maneira que o líder e vocalista Tim Booth encontrou para lembrar o desaparecimento recente de sua mãe, uma referência importante de sua vida.

La Petite Mort coloca o James novamente em cena, grupo que surgiu nos anos 80 e chegou a ser apontado como sucessor do The Smiths. Na década seguinte a banda fez sucesso com álbuns como Laid e Please to Meet You, mas interrompeu a carreira em 2000. Sete anos depois o James voltou aos palcos e em 2008 lançou o disco Hey Ma!, anunciando mais uma vez o seu fim. Agora, nova reviravolta e eles voltaram ao estúdio, apresentando esse trabalho coordenado por Max Dingel, o mesmo produtor de discos do The Killers e Muse.

A banda composta por Tim Booth, Jim Glennie (baixo), Larry Gott (guitarra), Saul Davies (guitarra, violino), Mark Hunter (teclados), David Baynton-Power (bateria) e Andy Diagram (trompete) atravessou os diversos movimentos musicais das últimas décadas e sempre se mostrou como uma alternativa a correntes como o britpop, apostando na trilha do indie rock. Em La Petite Mort o James usa mais teclados e sintetizadores que guitarras e, apesar do tema triste que rege o disco, busca um tom menos sombrio e melancólico.

A excitante canção “Walk Like You” que abre o álbum exemplifica bem essa escolha do grupo e mostra a boa performance da banda e da voz clássica de Tim Booth. James investe também em melodias dançantes como “Curse Curse” e “Frozen Britain” e não deixa de lado o rock alternativo que se aplica facilmente às canções “Moving On” e “Gone Baby Gone”. Os momentos mais comoventes do álbum estão reservados para as músicas mais introspectivas como “Interrogation”, “Quicken the Dead” – que traz uma bela introdução mesclando piano e trompete – e as baladas “Bitter Virtue” e “All in My Mind”, canção de acento romântico conduzida por um arranjo orquestral para piano. Encerra o álbum a emocionante e confessional “All I’m Saying” outra música de viés clássico com uma letra marcada também pela perda de uma amiga próxima de Tim Booth.

Com La Petite Mort o James mostra que mantém sua inspiração e habilidade de escritura musical capaz de assegurar um indie rock vigoroso, coerente e sensível. Dessa forma, a banda alcança com tranquilidade a difusão comercial, mas não perde a sua essência. Um belo balanço para quem está com 30 anos de estrada e ainda consegue nos emocionar.

JamesJAMES
La Petite Mort
[Cooking Vinyl/BMG, 2014]
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Nota: 8,0