Ava Rocha corre riscos e se afirma como destaque do novíssimo pop brasileiro
Ava Rocha, que até aqui muitos conhecem como a filha de Glauber Rocha, vem chamando atenção com um charme quase magnético de diva transportada direto dos anos 1970 para dar um sopro de autenticidade nas vozes do pop nacional. Com seu segundo trabalho descobrimos que ela é uma persona muito mais complexa do que qualquer rótulo ou categoria que tentemos encaixá-la.
Ava Patrya Yndia Yracema resume bem as intenções artísticas de Ava, que foi buscar nas entranhas do cancioneiro popular e no legado pop brasileiro dos anos 1970 a base para sua música. Há referências ao tropicalismo, à sexualidade gritante de Gal na fase Fa-Tal, Jards Macalé, além de nouvelle-vague francesa, experimentalismos de John Cage e Lou Reed e mulheres fortes que vão de Frida Kahlo a Mulher Maravilha.
Junto a tudo isso uma voz grave e bastante segura e uma banda poderosa, que se garante nas viagens experimentais e nas diferentes mudanças de rumo melódico ao longo do álbum. A produção foi de Jonas Sá com mixagem de Martins Scian. A nata da geração atual de músicos brasileiros colaboraram com a inventividade do disco, como Domenico Lancelotti, Pedro Sá, Marcelo Callado, Gustavo Benjão e Negro Leo.
Ava Patrya se destaca por ser caótico e faz disso seu trunfo. A produção do álbum conseguiu dar coesão ao caldo de referências sonoras e gerou um trabalho cheio de facetas, cores, cheiros e sabores. “Boca do Céu”, que abre o disco, “Hermética” e “Auto das Bacantes” são belezas de execução, enquanto “Uma” traz vocais de Uma, a filhinha pequena de Ava.
Ava Patrya Yndia Yracema traz complexidade sonora que deve fazer a cabeça de quem se dispõe a descobrir novas sonoridades. E é também a mostra de que o pop brasileiro atual segue com muita segurança por novos e arriscados caminhos criativos.
AVA ROCHA
Ava Patrya Yndia Yracema
[Disco Maravilha, 2015]
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