Crítica: As Melhores Coisas do Mundo

03 As Melhores Coisas Do Mundo

03 As Melhores Coisas Do Mundo

UM ÉPICO SOBRE DESCOBERTAS
As Melhores Coisas do Mundo é um filme belo e verossímel sobre as dores e delícias de ser adolescente

Por André Azenha
Colaboração para a Revista O Grito!, em São Paulo

Mal havia iniciado a projeção de “As Melhores Coisas do Mundo”, na sala onde eu estava presente, e logo um garoto comentou em voz alta: “Fizeram ‘Malhação – O Filme’”. Não é bem por aí.

O personagem principal é um jovem de 15 anos, Mano, (Francisco Miguez), que passa por todos os problemas da adolescência – a cobrança dos amigos para perder a virgindade, a auto-afirmação, a paixão não correspondida, etc. E que ainda precisa encarar o divórcio dos pais – no caso, o pai decide assumir-se gay e vai morar com o namorado, fato que faz o jovem virar motivo de chacota na escola.

Mano – cujo irmão mais velho (Fiuk, filho do cantor Fábio Jr.) vive uma crise com a namorada – divide seus dias com os melhores amigos e companheiros de escola Carol ( Gabriela Rocha) e Deco (Gabriel Ilanes), e seu confidente professor de violão Marcelo (Paulo Vilhena).

Escrito com talento por Luís Bolognesi, marido e costumeiro parceiro profissional da diretora Laís Bodanzky (trabalharam juntos em filmes como “O Bicho de Sete Cabeças”, “Chega de Saudade”), o filme e a novela teen da Globo possuem apenas dois fatores em comum: o ator Fiuk e a vida adolescente.

Enquanto o programa de TV estereotipa e idiotiza os adolescentes, “As Melhores Coisas do Mundo” – cujos realizadores, por já terem passado dessa fase da vida há algum tempo, poderiam cair no mesmo erro de “Malhação” – consegue mostrar o que há de bom e ruim nesse universo com naturalidade. As inseguranças, a curtição, a paixonite de uma estudante pelo professor descolado, a paixonite do garoto inseguro pela gostosona da escola (situação que o leva a aprender uma canção dos Beatles que ela adora – e qual jovem nunca tentou conquistar a amada assim?), a crueldade de alguns alunos com aqueles colegas que não se enquadram nos padrões “normais” da sociedade, a blogueira que expõe tudo o que ocorre no colégio, entre outros temas. E ainda abordam os muitos pais que incompreendem o que sucede na vida dos filhos.

Tudo retratado com segurança e ajudado pelo elenco coeso. Desde o protagonista Francisco Miguez, aos pais interpretados por Denise Fraga e Zé Carlos Machado, Caio Blat como o professor que incentiva os alunos a duvidarem de tudo e até Paulo Vilhena na pele de um professor de violão barbudo e meio filósofo. Todos correspondem. Apenas Fiuk está deslocado e ainda precisa melhorar enquanto ator. Aliás, é curioso ver Blat e Vilhena, que ainda são jovens, interpretando figuras de autoridade que servem de exemplo para a garotada.

Se o longa tem alguns problemas como as narrações em off do protagonista e de sua amiga (que não fariam falta se fossem limadas da edição final), e um desfecho um tanto óbvio, destaca-se por conseguir mostrar a realidade adolescente e, como um garoto, que dá várias pisadas de bola em virtude da imaturidade (como zoar uma colega lésbica, para depois arrepender-se, ou, por ciúme, quase ferrar a carreira de um professor) vai amadurecendo com os próprios erros.

Acima de tudo, “As Melhores Coisas do Mundo” prova ser possível, no cinema brasileiro, fugir da dobradinha “sexo e violência”, como insiste grande parte do público que tem aquela velha síndrome de vira-lata (ou ignorância) e acha que tudo feito no Brasil é ruim e/ou apelativo. Não é.

Exemplos dessa (positiva) versatilidade da produção cinematográfica nacional, além do filme de Laís Bodanzky, são os também recentes “Sem Fio”, de trama e montagem alucinantes, e o sensível e divertido “Apenas o Fim”, produzido com R$ 8 mil e que traz praticamente dois atores em cena o tempo todo. Reflitamos antes de atirar as pedras

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