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Brendan Fraser foi nomeado a categoria de Melhor Ator do Oscar por seu papel no longa. (Foto: Divulgação/California Filmes).

Crítica: Com Brendan Fraser, A Baleia é um drama incômodo sobre um homem em busca de redenção

A performance do ator indicado ao Oscar abrilhanta um roteiro que carece de camadas mais profundas de humanidade

Crítica: Com Brendan Fraser, A Baleia é um drama incômodo sobre um homem em busca de redenção
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A Baleia
Darren Aronofsky

EUA, 2022, 1h57, 14 anos. Distribuição: California Filmes
Com Brendan Fraser, Sadie Sink e Hong Chau
Em cartaz nos cinemas

Quando A Baleia, novo longa do diretor Darren Aronofsky (Cisne Negro e Mãe!), começa, tudo o que vemos, numa das primeiras cenas, é uma tela de computador. Nela, há diferentes pessoas, cada uma disposta em um quadrado – que descobrimos, no mesmo instante, serem estudantes com câmeras ligadas em uma aula. No centro, porém, há um espaço totalmente preto e dele é possível ouvir uma voz grave repassar à turma lições. “Por que ele não pode consertar a câmera?”, questiona um dos estudantes. E o vozeirão logo responde, em tom descontraído, que sua webcam está quebrada.

É assim, sem vermos rosto algum, que a direção escolhe sutilmente nos introduzir a um personagem cuja rotina é uma luta ingrata para fugir dos olhares alheios. Interpretado por Brendan Fraser, o dono da voz é Charlie, um professor de inglês que sofre com a obesidade mórbida e com todo o estigma social que sua condição carrega.

Com seus quase 300 kg, ele evita contato com toda e qualquer pessoa – com exceção de Liz (Hong Chau), uma amiga e enfermeira sempre a postos para lhe ajudar. Porém, ao descobrir que está vivendo seus últimos dias de vida, o protagonista inicia uma busca para reatar laços com Ellie (Sadie Sink), sua filha adolescente que ele abandonou ainda na infância após se divorciar e assumir uma relação homoafetiva.

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Sadie Sink dá vida a Ellie, uma típica adolescente rebelde. (Foto: Divulgação/California Filmes).

Produzido pela prestigiada A24 e adaptado da peça homônima de Samuel D. Hunter, que assina o roteiro, o filme é um drama psicológico que explora uma premissa simples e exaustivamente já trabalhada em muitas produções por aí: um pai que busca se reconectar com sua filha. Mas o que distingue A Baleia é a capacidade, a partir disso, de articular a complexidade e a ambiguidade humana com temas sensíveis como homofobia, radicalismo religioso, luto, gordofobia e depressão – ainda que, nem sempre, o tratamento seja o mais certeiro.

O resultado é mais um trabalho de Aronofsky repleto de alegorias, desta vez remetendo à Bíblia e ao clássico Moby Dick, de Herman Melville. Se na obra clássica temos um capitão Ahab com sede de vingança e obcecado pela baleia branca, na produção audiovisual, por sua vez, a obsessão de Charlie é a filha e sua sede é, na verdade, pela redenção, por um último bom ato ainda em vida.

Mas Charlie certamente não seria o mesmo sem Brendan Fraser. Indicado ao Oscar de Melhor Ator pelo papel, não é de se surpreender que ele seja um dos favoritos para levar a estatueta. Sua performance pungentemente honesta transmite as dores, medos e vergonhas que tanto atravessam esse protagonista de forma singela e natural, sem apelar para firulas e sentimentalismos baratos. A atuação de Fraser até nos faz esquecer, em diversos momentos, da montagem megalomaníaca envolvida na produção do personagem.

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Indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, Hong Chau interpreta Liz, única amiga de Charlie. (Foto: Divulgação/California Filmes).

Ambientado em um único espaço – o apartamento escuro e triste onde Charlie vive –, A Baleia torna-se também um drama claustrofóbico, onde o espectador percorre uma trilha angustiante e um tanto incômoda para acompanhar esse homem enclausurado em sua casa e nele mesmo.

O problema é que chegam a ser repetitivas as cenas em que assistimos Charlie compulsivamente se empanturrando de comida – cenas cujas escolhas de enquadramento e de trilha sonora servem única e exaustivamente para representá-lo como uma figura bizarra e monstruosa, anulando sua humanidade. E assim, se o pretendido por Aronofsky era trazer uma representação diametralmente oposta à forma como pessoas gordas costumam ser retratadas nas telas, o filme, em algum nível, ainda corrobora com uma visão estigmatizante.

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