Crítica: 300 – A Ascensão do Império, de Noam Murro

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Foto: Divulgação/Warner.
Foto: Divulgação/Warner.

300 – A Ascensão do Império tem visual sarado, mas é fraco nas ideias

Por Paulo Floro

O primeiro 300 (2007), dirigido por Zack Snyder, envelheceu bem. O longa afirmou uma estética muito particular, levada para longas como Sin City, The Spirit e Sucker Punch – Mundo Surreal. Ou seja: ouse na narrativa que a tela verde faz o resto. É apoiado nessa fama que 300 – A Ascensão do Império chega aos cinemas com longos sete anos em relação ao longa original. Agora, vemos uma outra batalha da guerra dos gregos contra os persas, além da origem de Xerxes (Rodrigo Santoro).

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Por isso, 300 – A Ascensão do Império é tanto um prequel quanto uma continuação de 300. Alguns fatos do primeiro filme, como a morte de Leônidas e a traição do corcunda Elfiates, são citados aqui. Até algumas cenas antigas foram aproveitadas, já que Gerard Butler, astro do original, não aceitou retomar o papel que o revelou em Hollywood. Nisso, o terreno ficou livre para abordar uma outra batalha igualmente famosa nas chamadas Guerras Médicas, a Batalha de Salamina, travada no mar.

Na história, Artemísia (Eva Green) é uma general cruel e eficiente. Nascida na Grécia, ela comanda persas contra sua terra natal nutrida por um ódio após sua família ter sido estuprada e morta em um dos embates internos entre os gregos. É também ela que orquestra a ascensão de Xerxes ao trono, agora venerado como um deus-rei. Seu maior inimigo é o ateniense Temístocles, que sonha em uma unificação da nação grega.

O filme gasta uma longa sequência para mostrar a origem de Xerxes. Para isso, volta a eventos anteriores ao primeiro longa de 2007, quando Dario, pai de Xerxes e então rei dos persas, é morto por Temístocles (Sullivan Stapleton). 10 anos depois, com um poderoso exército, seu filho retorna à península grega para empreender um dos maiores combates navais da Idade Antiga. No entanto, o cerne do longa está na rivalidade Temístocles X Artemísia , ou no entendimento do roteiro, na liberdade X opressão. Para soar ainda mais bobo, no bem X mal.

Eva Green está perfeita no papel. Com sua beleza naturalmente enigmática, ela dá nuances ao papel de grega que trai o próprio povo por uma revanche pessoal (na vida real, Artemísia era filha de um persa com uma cretense). Mas o roteiro não ajuda a criar um drama mais elaborado dentro do espetáculo visual em computação digital. Temístocles, por exemplo, tido como arrogante e prepotente nos livros históricos, aparece como um paladino impassível e defensor da liberdade (há uma parte no filme em que ele se “desarma” dessa postura, em um encontro com sua arqui-inimiga, mas é bem breve).

Defensor de uma união grega contra os persas, ele vai até Esparta para tentar convencer a rainha Gorgo (Lena Heady, a Cersei de Game Of Thrones, em um papel que lhe caiu como uma luva) a unificar seus exércitos.

Evan Green, a melhor coisa desse novo 300. (Foto: Divulgação/Warner Bros.).
Evan Green, a melhor coisa desse novo 300. (Foto: Divulgação/Warner Bros.).

O velho Oriente Vs Ocidente

Ao longo da história, o Ocidente se apropriou da história grega como base da construção de uma identidade, sobretudo no que diz respeito aos valores. Mas, uma leitura mais aprofundada percebe que tudo é muito romantizado, sobretudo no ideal de liberdade e democracia da Grécia. No entanto, o filme se apoia nessa visão rasa.

Na trama, narrada pela rainha espartana Gorgo, os persas “não suportavam” a liberdade dos gregos. Liberdade? Risos. As cidades-estado gregas, sobretudo as maiores Atenas, Esparta e Corinto, tinham a escravidão como base da economia e da vida cotidiana. Apenas as pessoas muito pobres não possuíam um escravo, tratados como propriedade. Em 300 – A Ascensão do Império, apenas a Pérsia possui escravos. A ideia que temos hoje de democracia também avançou bastante desde a Grécia Antiga. Por lá eram considerados cidadãos apenas os homens adultos livres.

No blockbuster hollywoodiano padrão que é esse novo 300, faltou espaço para contextualizar tantos pormenores do período. Por isso, foco nos combates motivados por ideias que, de fato, nunca existiram (spoiler histórico: as Guerras Médicas foram motivadas por revoltas de territórios gregos dominados pelos persas e também pelo controle do comércio marítimo na região). O longa ainda joga tintas exageradas no embate do Ocidente civilizado contra o Oriente bárbaro. Há até um homem-bomba (!) destruindo embarcações gregas.

Barrigas tanquinho e muito sangue digital, mas pouca imaginação (Foto: Divulgação/Warner Bros.).
Barrigas tanquinho e muito sangue digital, mas pouca imaginação (Foto: Divulgação/Warner Bros.).

Estética cansada

Apesar de ter a seu favor a estética conhecida de 300, o novo 300 – A Ascenção do Império sofre pela repetição. Estão aqui as diversas cenas em câmera lenta, o sangue em profusão e as tomadas aéreas ajudadas pela computação gráfica. Ou seja, acabou-se a inovação.

E claro, ainda temos a barriga de tanquinho dos atores, pré-requisito para fazer parte do elenco, e que foi usado como arma de divulgação da Warner para promover o filme. Gravado quase inteiramente em estúdio, com um fundo verde, a produção foi toda preenchida com material manipulado digitalmente. Até a água que aparece em tela é feita de computação gráfica.

Concebido para ser uma adaptação da HQ Xerxes, escrita por Frank Miller, o longa teve o roteiro modificado diversas vezes. Em parte por culpa do atraso de Miller, que demorou para finalizar a origem de monarca persa em quadrinhos.

Apesar de ter bons momentos, sobretudo as batalhas navais, o longa se torna cansativo por não arriscar nada de novo em sua narrativa. Faltou imaginação.

300300 – A ASCENSÃO DO IMPÉRIO
De Noam Murro
[300 – Rise Of An Empire, EUA, 2014 / Warner Bros.]
Com Sullivan Stapleton, Eva Green, Lena Headey e Rodrigo Santoro

Nota: 5,5