Crise Nas Múltiplas Terras

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A CRISE QUE GEROU TODAS AS OUTRAS
Julius Schwartz, Gardner Fox e Mike Sekowsky cruzaram talentos para juntar a Liga da Justiça aos seus predecessores da Era de Ouro, a Sociedade da Justiça mudando a história do Universo DC
Por Germano Rabello

CRISE NAS MÚLTIPLAS TERRAS
Gardner Fox (texto) e Mike Sekowsky, Bernard Sachs, Sid Greene, Julius Schwartz e outros (arte)
[Panini, 212 págs, R$ 48,00]

Uma coisa é certa sobre os quadrinhos de super-heróis dos anos 60: eles eram bem mais divertidos – tá certo que eles não tinham essa busca pela profundidade psicológica que caracteriza parte da produção atual do gênero. Várias de suas estratégias narrativas podem ser consideradas risíveis hoje e há idéias tão bizarras que se tornam geniais.

Mas afora o fator diversão, Crise Nas Múltiplas Terras apresenta para o leitor contemporâneo importância histórica. Em suas 212 páginas, ela reproduz oito edições da revista Justice League of America que mudaram os rumos dos quadrinhos super-heroísticos. Antes que você fique confuso com os títulos parecidos, saiba que não se trata da saga Crise Nas Infinitas Terras, clássico oitentista de Marv Wolfman e George Pérez, mas sim das histórias em que se começava a mostrar as tais “terras paralelas” – uma idéia que acabou causando muita confusão na continuidade do universo DC.

Antes de mais nada, algumas considerações. O gênero de super-heróis teve uma fase chamada a “era de ouro”, iniciada pelo surgimento do Super-Homem em 1938 e seguida pela criação de dezenas de outros heróis assemelhados. Nos anos 50, essa moda já era passado, e logo a maioria desses heróis tinha sido aposentados pelas editoras. Em 1956, um desses heróis foi trazido de volta, sob uma nova roupagem e identidade: The Flash. O que seria o marco zero para a “era de prata” do gênero.

Pois bem, na edição 123 da revista do Flash, em 1961, pela primeira vez as duas versões do personagem se encontram, na clássica Flash of two worlds. Eles habitavam as tais “terras paralelas” e por isso até então não tinham se encontrado. As terras paralelas ocupariam o mesmo lugar no espaço, mas estariam vibrando em velocidades diferentes. Esse conceito de ficção científica foi trazido à tona por Gardner Fox e pelo editor Julius Schwartz, que ampliaram o alcance dessa idéia para fazer a antiga Sociedade da Justiça encontra a Liga da Justiça! Desta maneira, são trazidos de volta para os leitores mais novos um universo cheio de heróis que para eles serão como novos, e os leitores mais velhos podem matar a saudade de figuraças como o Mr. Terrific, Hourman, Doctor Fate, Espectro, Sandman, entre outros.

Sandman? Sim! Décadas mais tarde Neil Gaiman recordaria que numa das HQs contidas nesse volume (mais especificamente o n.47 da JLA), ele viu pela primeira vez o personagem. Claro que aí não se tratava de Lorde Morpheus, e sim de Wesley Dodds. De qualquer maneira, ele não é o único a reverenciar esse material. Grant Morrison faria uma pequena graphic novel da Liga da Justiça intitulada Earth-2, em que retoma as versões maléficas de super-heróis criadas por Gardner Fox (apesar de pouco inspirado, esse trabalho de Morrison foi uma de suas primeiras colaborações com o grande Frank Quitely).

E já vai acabar o texto e eu nem falei de como o Espectro impede as duas terras de colidirem simplesmente segurando com os pés e as mãos! É, acredite, acontece MUITA coisa nestas páginas e se você se considera um apaixonado pela história dos quadrinhos, este é um lançamento primoroso e essencial. Se você quer entender melhor porque tanta crise no universo DC, ainda mais enquanto está sendo lançada nos EUA o mega-evento Final Crisis (Grant Morrison e J.G. Jones), leia de todo jeito.

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