Costa-Gavras nas gravações de Eden à l’Ouest (2008) (Foto: Divulgação)
CINE-POLÍTICA COM COSTA-GRAVAS
Diretor grego, autor de “Z” vem ao Recife como convidado do CINE PE 2009 e vai tentar convencer a plateia sobre seu cinema engajado
Por Alexandre Figueirôa
Em 2005, o cineasta grego Constantin Costa-Gavras declarou ao semanário francês L’Express “existir nele um fundo de utopia” e que “era preciso recolocar o homem no centro do mundo e lhe dar capacidade de se expressar e convencê-lo de que o individualismo não leva a nada”. Aos 76 anos, Costa-Gavras continua sendo, portanto, alguém convencido de que fazer cinema é fazer política. Os pernambucanos terão a oportunidade, sobretudo quem acompanhar o CINE-PE, de 27 de abril a 3 de maio, de conferir de perto que esta não é uma afirmação exagerada. O diretor de filmes engajados como Z, Estado de Sítio, Atraiçoados, Amém, virá ao Recife para o festival dos Bertini com a missão de provar que não é simplesmente um autor panfletário, mas um idealista cujos filmes apresentam como tarefa levar o espectador a não ser apenas arrebatado pela emoção, mas a refletir sobre uma determinada questão.
Costa-Gavras nasceu em uma família pequeno-burguesa que perdeu tudo, durante a ocupação alemã, e se tornou pobre depois da Segunda Guerra Mundial. Com muito sacrifício terminou os estudos secundários na Grécia, juntou algum dinheiro e foi para a França para entrar na universidade, pois poderia estudar de graça. Inscreveu-se na Faculdade de Letras da Sorbonne para, em seguida, fazer um curso que na época se chamava Filmologia. Nessa fase de sua vida descobriu, em Paris, a Cinemateca Francesa e começou a ver filmes, principalmente aqueles que estavam interditados de serem mostrados na Grécia, pela censura imposta pela ditadura que comandava o país. Pouco depois, conseguiu ser admitido no Institut des Hautes Études Cinématographiques (IDHEC) de onde saiu para ser assistente do diretor Claude Pinoteau.
Com um repertório imensurável de filmes vistos nos anos de aprendizagem, Costa-Gavras se convenceu que todo filme, ao ser devidamente examinado, revelará o seu conteúdo político. Mesmo obras espetaculares, com roteiros bem escritos, atores famosos e perfeitamente dirigidas, segundo o cineasta, apresenta, por trás dessa estrutura clássica, uma mensagem ideológica sendo trabalhada. E foi com este espírito que ele partiu para sua primeira realização Compartiment Tueurs (1965), um filme de gangsteres, adaptação de um livro homônimo, mas ambientado de uma maneira totalmente diferente dos filmes policiais convencionais. Já o segundo trabalho, Um Homme de Trop (1967), era um filme sobre a resistência francesa, mas não a mostrava com o lirismo heróico habitual e sim desvendava as condições cotidianas de seus integrantes. O filme, no entanto, não foi concebido de forma correta e se transformou num fracasso.
Embora tenha ficado triste com o insucesso, Gavras não desistiu de perseguir o seu projeto estético que não desprezava movimentos de vanguarda como a nouvelle vague, mas insistia em abordagens complexas de temas políticos. Foi então que ele realizou Z (1969). A obra trata de um golpe de Estado, do assassinato de um deputado liberal na Grécia e de todo um processo promovido naquele país que desembocou em uma intervenção militar que se transformou em ditadura. Z, por respeitar uma determinada realidade política, segue uma construção capaz de observar a fidelidade absoluta dos acontecimentos, todavia respeita a função do cinema enquanto espetáculo. O diretor desde então busca conciliar a função de divertimento de um filme, contudo falando dos problemas da sociedade, dando uma imagem daquilo que se passa no mundo e que permita ao espectador ao sair da projeção pensar e transcender aquilo que viu.
Os filmes seguintes do diretor seguem esta premissa e alguns deles vão tratar de temas diretamente relacionados com situações políticas em países latino-americanos. Aqui no Brasil, entre os mais conhecidos filmes do diretor e que sempre são lembrados pelos adeptos de filmes politizados, estão Estado de Sítio (1973), sobre a intervenção dos militares no Uruguai contra as organizações terroristas e Missing, o Desaparecido, cujo tema central é o golpe de Estado que derrubou o governo de Salvadro Allende, no Chile. Recentemente, o diretor voltou a provocar polêmica com Amém, em que ele aborda a espinhosa questão da dúbia posição da Igreja Católica frente à perseguição dos judeus pelos nazistas.
Para os cinéfilos mais interessados em invenções da linguagem e elaborações estéticas sofisticadas, Costa-Gavras certamente não é um ídolo. Sua obra é simples, direta, e ele prefere não seguir cartilhas ou manifestos preestabelecidos, mesmo quando trata de questões de ordem política. Contudo é um ícone da cinematografia mundial a quem devemos respeito e merece ser ouvido. Suas experiências podem ser úteis nesses dias de globalização e de mudanças das forças geopolíticas mundiais, processos os quais a arte cinematográfica certamente não está imune de sofrer influências.
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