Corto Maltese – As Etiópicas

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HOMEM DOS SETE MARES
Pixel lança quinto álbum da série Corto Maltese, marujo com jeito sensual que se tornou obra-prima, criada pelo Italiano Hugo Pratt
Por Fernando de Albuquerque

CORTO MALTESE – AS ETIÓPICAS
Hugo Pratt
[Pixel, 2008]

Escritor e desenhista de origem italiana, Hugo Pratt morreu há 13 anos. Mas sua obra-prima, Corto Maltese – um misto de lobo-do-mar solitário, aventureiro, desbravador dos cinco continentes e sete mares – continua vivo e procurando emoções por onde quer que passe. Para aqueles que desejam reviver a emoção de se deparar com um texto poético, denso, cheio de ação e reflexão, nada melhor do que conferir, ou rever, as páginas de As Etiópicas, quinto álbum lançado pela Pixel para os amantes do marujo no Brasil. A história é uma pequena amostra do que foi produzido por Pratt e protagonizado por Corto nas quase três décadas de parceria entre autor e criatura.

Nesta aventura, Pratt, mais uma vez, combina as andanças do personagem com fatos reais e faz Corto se embrenhar na guerra entre turcos, árabes e ingleses – a mesma que permitiu Lawrence das Arábias, um jovem e sonhador tenente britânico, virar clássico da história, do cinema e da literatura. Neste caso, como em todos os outros, a “missão” vivenciada por Corto Maltese é pura ficção, mas os fatos em volta são reais: em 1916, conduzido por dois guias muçulmanos, nosso aventureiro chega ao Iêmen, que à época estava tomado pelos turcos, atravessa a Somália ocupada pelos ingleses, passa pela Etiópia para chegar à África Oriental Alemã. Andanças no meio de um barril de pólvora, e de muitos perigos e tiros, mas que ajudam a compreender um pedaço da história recente.

Especificamente neste episódio, Corto Maltese enfrenta a morte, e escapa dela novamente. Mas vai além: mais do que nos reportar às batalhas e lutas nas areias do deserto, também faz várias alusões a um homem que não apenas é referência literária de muitas as gerações, mas que chocou ao mundo quando decidiu abandonar os cafés e a vida boêmia de Paris para se refugiar nos países africanos, como contrabandista, traficante de armas e mercenário. Sim, ele mesmo, Arthur Rimbaud. No caso, sendo protagonista de histórias passadas nos primeiros anos do início do século 20, Corto não poderia, ainda, conhecer a fama e a verve do enfant terrible das letras. Mas Pratt sim, e homenageou Arthur ao fazer com que seu lobo do mar percorresse o itinerário de Rimbaud (de Djibuti a Harrar) quando resolveu incorporar o traficante de armas. Uma bela forma de interligar vidas, histórias, sonhos.

Por essas e por outras situações, o marinheiro Corto e seu mundo podem ser igualados aos
personagens e universos criados por escritores do porte de Herman Melville, Joseph Conrad e Robert Louis Stevenson. Ou seja, o marujo corso, com sua personalidade marcante, seu espírito desbravador, seu temperamento independente, mas sereno, conseguiu tornar-se um clássico dos quadrinhos de todos os tempos. Para se ter idéia da sua força no gênero, basta dizer que em 1996 um júri, formado por críticos europeus de seis países, elegeu o conjunto de suas aventuras como “os quadrinhos do século 20”.

Corto Maltese surgiu em 1967, como um dos muitos personagens pitorescos do clássico A Balada Do Mar Salgado. O seu “caráter”, segundo contava Pratt, lhe chamou atenção, porque dava a possibilidade de desenvolver boas histórias. Ao ser convidado pela revista PIF para publicar uma série, Pratt elegeu Corto como personagem central. E criou um mito das HQs. Após eleger o marinheiro como protagonista das suas sagas, Pratt deu-lhe um perfil: Corto nasceu do encontro entre uma cigana da Andaluzia — Nina de Gibraltar — e um marinheiro inglês da Cornualha, que fazia uma escala no litoral do Mediterrâneo. Anticolonialista, ele é um marinheiro que já teve um barco no começo da vida, mas o perdeu em um desastre logo nos primórdios de suas aventuras.

NOTA: 8,0

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