Da Revista O Grito!, em Belo Jardim (PE)
Fotos de Hannah Carvalho/Divulgação
Durante catorze edições, o No Ar Coquetel Molotov é reconhecido nacionalmente por sua bem sucedida reunião de expoentes da música independente brasileira e internacional. A etapa do Interior do evento – que chegou à sua quarta edição –, por sua vez, começou na quarta-feira (17), com atividades em diversos locais de Belo Jardim, no Agreste pernambucano. No sábado (20), o Parque do Bambu recebeu apresentações musicais, em evento aberto. Entre os destaques estavam Lia de Itamaracá, Romero Ferro, Francisco, El Hombre e Jurandex.
O público assistiu às apresentações no palco principal e no Som da Rural. Os artistas não decepcionaram. Os destaques da noite fizeram shows vigorosos, com domínio da música e sintonia com a plateia local.
No palco Som da Rural, a festa teve início com a Rasga Mortalha, da cidade de Caruaru. O grupo foi um dos escolhidos deste ano na Seletiva No Ar Belo Jardim. As sonoridades das músicas da banda abrangem vários ritmos, sem esquecer se desvencilhar da sua verve regional. O entardecer no Agreste trouxe consigo a cantora e declamadora Agda Moura, do município de Santa Cruz do Capibaribe, ainda no palco Som da Rural. Ela recitou a rotina da vida nordestina, indo do rock a ritmos tradicionais como coco e ciranda.
Quando já era noite, o público foi se aproximando do palco principal e coube a Romero Ferro botar a galera pra dançar. O cantor e compositor pernambucano levou um show com mistura de referências do brega recifense, sonoridades do pop e nuances do movimento New Wave, da década de 1980. Destaque para a canção “Pra te conquistar”, que integra o repertório do segundo disco de carreira do artista.
Diretamente de Belo Jardim, o rapper Jurandex apresentou as canções do seu álbum “Lado Negro”. O trabalho aborda questões sociais e raciais, focando na realidade de que todo cidadão pobre sofre com abuso da policia, realidade presente nas periferias do Brasil.
Considerada um patrimônio vivo da cultura pernambucana, a cirandeira Lia de Itamaracá reuniu ciranda, maracatu e maxixe, com canções como “Moça namoradeira” e “Santa Tereza”, “Minha Ciranda” e “Quem me deu foi Lia”. Última atração da festa, o quinteto paulista Francisco, El Hombre fez a plateia sentir o calor da rua com o repertório do disco SOLTASBRUXA, o primeiro da banda, que mescla diversos ritmos latinos. As letras das músicas têm inúmeras críticas de cunho social, político e econômico.
Os músicos emocionaram os fãs com uma apresentação cativante. Não há corpo que obedeça ao comando de ficar parado enquanto eles tocam. Francisco, El Hombre é sintomática na sociedade brasileira. Eles representam a juventude que sente, que se indigna e grita! E quem não quer soltar a plenos pulmões sabendo que um dos nossos políticos é fascista de cargo alto e voz viril, exaltador de torturador, que ele é um cara muito escroto? Francisco, El Hombre solta a voz. É necessário.
Às vésperas do segundo turno das eleições para presidente da República, o tom político foi bastante ressaltado. Dentre os gritos da plateia, emergiram falas de “Ele Não”, repetidos por Romero, Jurandex, Lia e Francisco e suas bandas. Levar o festival para outras cidades contribuem para a divulgação do evento e levar artistas específicos atinge um nicho que curte mesmo. O Coquetel Molotov é um evento que parece ser tido feito para ser vivido.
Agora a expectativa fica para a edição deste ano no Recife, que acontece dia 17 de novembro, no Caxangá Golf & Country Club. O tamanho do Coquetel Molotov, necessário na cena dos festivais de música nacionais, sobretudo os independentes, é desafiadora. O evento merece atrair público generoso na sua 15ª edição. Confira a programação completa.