Neste mês de janeiro, a editora Todavia traz a publicação da Coleção Graciliano Ramos, um dos autores incontornáveis da literatura brasileira. Originalmente publicado em 1936, Angústia é o primeiro título. Com organização, notas e apresentação de Thiago Mio Salla (USP), um dos principais especialistas contemporâneos na obra do autor alagoano. A coleção contará ainda com os famosos rodapés de jornal, nunca publicados, que Antonio Cândido escreveu sobre os romances.
Domínio público
A partir deste ano qualquer editora brasileira poderá publicar os títulos de Graciliano Ramos, isso porque a partir de 1º de janeiro deste ano, a obra do autor alagoano entrou em domínio público, ou seja, os direitos autorais de suas histórias não são mais exclusivos de uma marca. A lei entrou em vigência com o 70º aniversário de morte de Graciliano
Além da Todavia, que lançará Angústia, Os filhos da Coruja – título inédito – e ainda planeja o lançamento de Vidas Secas; A Companhia das Letras também trabalha no relançamento de dois títulos: Vidas Secas e São Bernardo, que chegarão às livrarias em fevereiro.
Os Filhos da Coruja
Além da coleção, a Todavia publicou o inédito Os Filhos da Coruja, para o público infantil, com arte de Gustavo Magalhães. O livro nasce a partir de um texto inédito de Graciliano Ramos. Um poema escrito à mão, com data de 5 de setembro de 1923 e assinado por J. Calisto. Foi com esse pseudônimo que Graciliano assinou textos em que deixava clara uma de suas principais facetas: a de um observador atento da sociedade e cultura brasileiras, com uma linguagem ágil e irônica
Angústia
Estirado numa espreguiçadeira, saltando páginas de um romance que não presta, Luís da Silva percebe um vulto no quintal da casa ao lado. Em vez da senhora idosa que costuma regar as plantas toda manhã, quem surge é uma moça vermelhaça, de olhos azuis e cabelos amarelos: Marina. Essa aparição fortuita irá assaltar a vida do já não tão jovem funcionário público, e o desejo de seduzir a nova vizinha faz com que sua rotina monótona, marcada pela solidão e por um alheamento das coisas do mundo, aos poucos dê lugar a planos de futuro: o matrimônio, um lar a dois. Em um primeiro momento, Marina cede de bom grado às investidas do pretendente e aceita a união, interessada na promessa de relativo conforto material. Quando conhece o burguês Julião Tavares, no entanto, desiste do noivado, o que encaminha Luís da Silva para um vertiginoso processo de degradação.