AS VIDAS DO GATO FELIX
Convertido a ícone pop, o simpático felino é um verdadeiro cronista social dos americanos e passeia com suas aventuras sobre os costumes e obsessões ianques
Por Fernando de Albuquerque
Chaplin, Buster Keaton e Harold Lloyd cada um em sua expressão artística foram grandes gênios. E o Gato Felix possui a mesma proporção deles e também é um fenômeno da era do cinem mudo que se recusa, tal como uma tia velha que faz inúmeras plásticas, a envelhecer. Os tempos mudaram para Felix, a tecnologia, os costumes e as formas de humor também, mas as situações engraçadas em que se envolveu continuam tão interessantes agora, quanto no momento de sua criação, na segunda década do século 20.
Ele fez o caminho inverso de muitos personagens de desenho já que nasceu para ser veiculado enquanto imagem e só depois tornou-se tira em quadrinhos publicada pela imprensa americana da época. Sua gênese, porém, é tão controversa quanto sua própria trajetória já que existe uma grande disputa autoral entre o cartunista Pat Sullivan e o animador Otto Messmer. A única certeza que permeia essa briga é a estréia do gato em 1919 com a animação Feline Follies, época em que sua imagem e personalidade não estavam ainda marcadas pela ironia, sua aparência ainda era discreta e seus grandes olhos e sorrisos ainda não existiam como insignea registrada.
Os curtas de animação de Felix eram exibidos antes das atrações principais (os filmes) e continuam a ser produzidos desde 1925, período em que o personagem encontrou seus fãs e se tornou amado amado pelo público. A aproximação entre o universo infantil e o adulto foi o principal responsável pelo sucesso de Felix e havia sido coroado um ano antes com Felix In Hollywood, quando o gato aparece ao lado de Douglas Fairbanks, Cecil B. DeMille e Chaplin. Nessa época que o Gato passou a ganhar as primeiras cores de ícone sócio-cultural e sua imagem passa a ser usada com chamariz para consumidores em grandes lojas de departamento. Ele passou a ser licenciado para tudo deixando, assim, as salas de cinema para chegar ao lar das famílias por meio das tiras de jornal.
A partir daí uma típica aventura do Gato Felix passou a significar não apenas diversão, mas um mergulho em algumas obsessões com o alcoolismo, revoltas sociais, brigas monetárias. Suas histórias passaram a traçar um raio-x de diversos tempos históricos. O felino viu uma enorme baixa de popularidade com o surgimento do cinema falado nos anos 50 quando novos personagens e antigos conhecidos do Gato ganharam animações retirando-o do pódio. Somente nos anos 60 é que Felix mostrou ser o gato certo na hora certa. E rapidamente transformou-se em um dos maiores reconhecidos ícones do mundo pop. E, ainda hoje, matém fãs em todo planeta mostrando que mais do que sete vidas o felino está pronto para a eternidade.