Em comemoração ao centenário de nascimento de Rubem Fonseca (1925–2020), a editora Nova Fronteira lançará, em maio, uma coleção especial que reúne todos os contos publicados pelo autor, além de dois textos inéditos, escritos ainda na juventude. O box será composto por três volumes, com prefácios assinados por estudiosos da obra fonsequiana, e contará com revisões baseadas em anotações deixadas pelo próprio escritor.
Os contos inéditos foram descobertos por Bia Corrêa do Lago, filha de Rubem Fonseca, pouco tempo após sua morte. Os textos estavam guardados em um armário da casa do autor, entre diversos papéis sobre os quais ele jamais havia comentado. Escrito em 1948, quando tinha apenas 23 anos, o material antecede o primeiro lançamento oficial de Fonseca, ocorrido em 1963.

“Escolhi esses contos porque me pareceram muito diferentes em estilo entre si. Ao mesmo tempo, estão muito relacionados com o que ele veio a desenvolver como escritor, como contista depois. Achei muito interessante ver que já estava ali o germe, a semente do escritor que ele viria a ser e que publicou o primeiro livro em 1963”, declarou Bia. “Para mim chama muito a atenção a originalidade dos contos e a maneira de escrever. Os temas também eram muito caros a ele, voltados para a solidão humana.”
Os textos inéditos têm como protagonistas dois homens solitários, deslocados dos códigos sociais e imersos em dilemas existenciais. Em Natal, Paulo é um homem que se angustia com a solidão enquanto envelhece, especialmente diante da proximidade das festas de fim de ano. Já em Arinda, Jonas é um escritor que se distancia da realidade ao mergulhar intensamente em sua ficção, a ponto de confundir fantasia e verdade.

Cada volume da coleção terá um prefácio assinado por um especialista: Vera Lúcia Follain de Figueiredo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), comenta os textos iniciais e inéditos; Maria Antonieta Pereira, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), analisa a produção das décadas de 1990 e 2000; e Miguel Sanches Neto, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, oferece uma leitura sobre o estilo do autor em seus últimos anos. A caixa que abriga os volumes também inclui um texto de apresentação do ensaísta e poeta Silviano Santiago.
Além da curadoria editorial, parte dos contos foi revisada a partir das anotações pessoais deixadas por Fonseca, com sugestões de alterações de pontuação, grafia e vocabulário. O material foi cedido pela família para garantir fidelidade ao desejo do autor.
“Estou realmente muito feliz de comemorar o centenário com esse box. Porque tem gente que se perde, não sabe nem o que procurar do meu pai. A coleção de contos é uma maneira de você ter tudo junto e conhecer a obra completa contística dele. Além de ter os inéditos, há estudiosos que comentam cada fase da obra dele. Acho que isso vai atrair muitas pessoas e novos leitores”, afirmou Bia Corrêa do Lago.
Reconhecido como um dos grandes nomes da ficção brasileira, Rubem Fonseca publicou 30 livros entre romances, novelas e contos. Com estilo direto e moderno, destacou-se em obras como O caso Morel (1973), Feliz Ano Novo (1975), O Cobrador (1979), A grande arte (1983) e Agosto (1990). Recebeu importantes prêmios literários, como o Jabuti (seis vezes), o Juan Rulfo, o Camões e o Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras.
Com informações da Agência Brasil.

