Frenesi Rock ‘n Roll
Por Mariana Mandelli. Foto: Diego Maia
Orloff Five | 06 de setembro de 2008
Via Funchal – São Paulo
“Senhoras e senhores, batam palmas! Tira o pé do chão!”. Não, isso não é a abertura de um espetáculo de circo ou o ápice de uma micareta em pleno carnaval. É a reprodução das falas de Howlin’ Pelle Almqvist, o insano vocalista do The Hives, banda sueca que incendiou o palco do Via Funchal, São Paulo, no último sábado, durante o festival Orloff Five.
Além dos rockers do Hives, o evento contou com mais quatro atrações: Vanguart, o DJ Tittsworth, Plasticines e Melvins. Com aproximadamente seis horas de duração, o festival foi pontual e contou com uma ótima organização. O único problema, para variar, foi o som do Via Funchal, que estava estourado.
O DJ norte-americano Tittsworth, escalado para comandar as picapes durantes os intervalos entre os shows, decepcionou. Famoso por remixar rock com eletrônica, ele repetiu músicas (Nirvana tocou mais de uma vez) e não passou de clichês como “Starlight” (Muse) e “Creep” (Radiohead).
Sem arriscar muito, o já conhecido do público indie Vanguart abriu o festival com uma apresentação competente e permeada pelos hits da banda, como “Just To See Your Blue Eyes See”, “Hey Yo Silver” e a deliciosa “Semáforo”, que encerrou o show.
Com mais de duas dezenas de álbuns lançados, a lenda norte-americana Melvins subiu ao palco para alegria de um público que misturava indies, metaleiros e grunges. Eternamente apontados como uma das bandas que mais influenciou o Nirvana, Buzz Osbourne (também conhecido como King Buzzo, vocal e guitarra), Jared Warren (baixo) e Dale Crover (bateria) fizeram a alegria de um público hipnotizado pelo milagre de ver o mito ao vivo. O som experimental que mistura punk, heavy metal e hardcore causou o delírio de alguns fãs, que se acotovelavam numa espécie de bate-cabeça que dominou o espaço de frente para o palco. Com duas baterias no palco (Crover era responsável por uma delas), o Melvins mandou “Civilized Worm”, “The Kicking Machine”, “Tipping The Lion”, “Suicide In Progress”, “Dog Island” e “The Star-Spangled Banner”, mais conhecida como o hino nacional dos Estados Unidos – o que provocou algumas vaias da platéia. Contudo, as manifestações negativas foram mais longe: um espectador arremessou dois copos de cerveja no palco. Na segunda vez, foi expulso pelos seguranças sob as acusações de Buzz, que gritava “I saw you” (“eu vi você”) ao microfone, emendando os berros em “Boris”, a canção que encerrou a apresentação.
As belas francesas do Plasticines enfrentaram problemas com o som no começo do show, mas, alegres e animadas, deram a volta por cima e tentavam, a todo custo, ganhar a simpatia do público. Fazendo um punk pop cor-de-rosa, Katty Besnard (vocal e guitarra), Marine Neuilly (guitarra), Louise Basilien (baixo) e Zazie Tavitian (bateria) tocaram “Loser”, “Under Control”, “Zazie fait de la bicyclette” e um cover de cover de “These Boots Are Made for Walkin’”, de Nancy Sinatra.
Por volta das 23h, veio o ápice da noite, com o show mais frenético que o Brasil já viu: Hives. Desde o momento que subiu ao palco, a banda foi insistentemente aclamada pelo público, respondendo à altura com seus riffs viciantes, bateria convulsiva e os berros de Pelle ao microfone nos refrões de “Hey Little World”, “Main Offender”, “Try It Again” e “A Little More For Little You”. Tentando o tempo todo falar português, Pelle soltou, entre pérolas bizarras, coisas como “tira o pé do chão” e “te amo, São Paulo”, emendando sua simpatia com hits como “Walk Idiot Walk”, “Diabolic Scheme”, “You Dress Up For Armageddon” e
“You Got It All Wrong”. Ainda sobrou tempo para “A.K.A I-D-I-O-T”, “A Thousand Answers”, “Won’t Be Long”, “Two-Timing Touch And Broken Bones” e “Return The Favour”, em meio às danças de Pelle, que corria de um lado para o outro do palco, e às caretas hilárias do guitarrista Nicholaus Arson (na verdade, Niklas Almqvist, irmão do vocalista).
O bis terminou de enlouquecer a platéia, que, em êxtase, pulou sem parar em“Bigger Hole To Fill”, “Hate To Say I Told You So” (uma das mais esperadas da noite) e a derradeira “Tick Tick Boom”. A loucura do Hives fechou o Orloff Five com, até agora, o show do ano. É missão das atrações do Tim Festival e do Planeta Terra ultrapassarem a energia rock ‘n roll do Hives. Vai ser uma tarefa árdua.