Show manifestado do Metá Metá e explosão de ritmos marcaram o encerramento do Coquetel
A banda paulista Metá Metá estava manifestada no palco. O Bixiga 70, igualmente. Mais cedo, na sala Red Bull Music Academy, a rapper Karol Conká fez um dos shows mais explosivos daquele espaço. O último dia do festival No Ar Coquetel Molotov foi um dos mais ritmados e sonoricamente ricos da história do evento. E teve ainda os gritos de devoção para a nova estrela do pop brasileiro, Clarice Falcão. Apenas uma banda destoou desse balaio: Perfume Genius (alter-ego do norte-americano Mike Handreas).
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A banda Metá Metá é hoje um dos nomes mais originais da música brasileira. E isso não são palavras soltas motivadas por hype de qualquer espécie. É possível perceber claramente a intenção do trio em romper com convenções presentes há décadas no cancioneiro da MPB e rock brasileiro. Eles experimentam com referências de música africana, latina, heavy metal, candomblé, punk, samba, tudo isso com uma apresentação visceral de Juçara Marçal, que parece buscar uma força da qual se deixa possuir. Completa o time Kiko Dinucci e Thiago França.
É por isso que o Metá Metá causa um impacto mesmo em quem nunca ouviu o som do grupo. A autenticidade serve para ganhar a atenção do ouvinte e a apresentação cheia de ritmo e atitude completa a sedução do show. Os temas abordados nesse “afro punk” do grupo também seguem por novos caminhos, um respiro diferente do que estamos acostumamos. O Teatro da UFPE ontem parecia dominado pelo grupo, que soltou faixas dos dois discos sem muito intervalo ou conversa, o que deu um tom “blitzkrieg” para deixar a plateia arrasada em uma hora de nenhum descanso. “Exu”, “Oya” e outros faixas depois e a manifestação coletiva acabou.
Abrindo o dia o Bixiga 70 fez um show já conhecido pelo público recifense e mostrou faixas de seu segundo disco, homônimo com o primeiro e empolgou o teatro com sua profusão de metais e sopros com direito a muitos solos de instrumentos durante todo o show. O grupo conseguiu até instigar um trenzinho no Teatro da UFPE, que não conseguiu ir adiante por causa da quantidade de pessoas que ficam à beira do palco durante os shows, mas já deu para ter uma ideia da empolgação geral. O dia ainda teve outro momento cheio de ritmo que foi o show de Karol Conká encerrando a sala Red Bull Music Academy, que teve entrada gratuita.
Karol conseguiu suprir a carência no hip hop de estrelas femininas, com personalidade, beleza e presença de palco. Seu disco Batuk Freak é uma bela carta de intenções que revela suas intenções de fazer rap com batidas dançantes com influências de funk e música eletrônica. O show dela no Coquetel Molotov era um dos mais aguardados da noite e empolgou todo mundo no palco da Red Bull. O único que destoou da noite tão animada foi o norte-americano Perfume Genius.
Dono de um trabalho muito delicado e cheio de sutilezas, Mike Handreas não conseguiu uma conexão com o público, apesar de um grupo animado de fãs à frente do palco. Com dois discos lançados, sendo o último Put Your Back N 2 It com uma proposta menos melancólica, ele pareceu não conseguir se comunicar bem com a plateia, que estava ainda anestesiada com o show do Bixiga 70 e ainda à espera de Metá Metá e da estrela Clarice Falcão. Em alguns momentos a conversa das pessoas sentadas conseguiu sobrepujar o som feito por Handreas. Um dos poucos momentos em que os presentes se animaram foi na faixa “Take Me Home”, que tem um arroubo ao piano bem alto. O som de Mike, que fala da superação de traumas pessoais e da aceitação da homossexualidade, talvez ficassem melhor em um outro momento, de mais introspecção.
O dia ainda teve o projeto pernambucano de eletrônica Grassmass, o duo Opala, do Rio de Janeiro e o rock português do Memória de Peixe.