O ator e publicitário gaúcho Luciano Mallmann sabe os desafios existentes na vida das pessoas com deficiência. Ele é cadeirante desde 2004, quando sofreu uma lesão na medula durante um treinamento de acrobacia aérea em tecido, no Rio de Janeiro, e resolveu explorar o tema na peça Ícaro, encenada na noite da última sexta (12) e sábado (13), na programação do Janeiro de Grandes Espetáculos. O título faz referência direta ao título da peça sobre a figura mitológica de Ícaro, conhecida pela sua tentativa de deixar Creta voando.
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A partir das suas experiências e de histórias pessoais de outras e outros cadeirantes que conheceu, Mallmann criou os seis episódios do monólogo. Durante a apresentação, o ator dialoga com o público, falando de maneira aberta sobre temas como preconceito, trabalho, sexo, inclusão, família e relacionamentos.
A construção das cenas se baseia em elementos do cotidiano, em experiências inusitadas e reflexões do próprio Luciano Mallmann, responsável também pela produção da peça. A iluminação de Fabrício Simões e a trilha sonora de Monica Tomasi criam o clima para cada uma das histórias. A direção é de Liane Venturella, centrada totalmente no trabalho de ator, sem cenário e figurino.
Com uma hora de duração, o intérprete mistura ficção com realidade. Há uma preocupação muito grande de não ser piegas. O ator procura não fazer drama com a sua condição, muito pelo contrário. O monólogo começa com a concepção do espetáculo e segue com relatos de uma menina tetraplégica, que não se relaciona bem com a mãe; um homem em coma que tem alucinações; um suicídio assistido; e uma mulher que teve um filho. Na encenação, trechos como “hoje a palavra cadeirante me dá sorte” ou “está tudo certo” estão presentes.
O ator conta que há muita desinformação sobre lesão medular e Ícaro é a forma dele contribuir na busca por avanços nesse sentido. Existe uma cortina de fumaça de mitos sobre os cadeirantes. A encenação tenta sensibilizar as pessoas sobre questões universais, não apenas para quem está numa cadeira de rodas.
Os cadeirantes não são colocados nem como heróis e muito menos coitadinhos. Assim, Ícaro cumpre a função de fazer as pessoas saírem do teatro repensando suas opiniões.
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