COESÃO E ECLETISMO
Banda mineira apresentou o novo disco aos fãs num show em que o balanço e as diferentes soluções rítmicas reforçaram a unidade do grupo
Por Pedro Salgado
Colaboração para a revista O Grito!, em Lisboa
Fotos Flávia Mafra
Lisboa, 12 de Outubro, Fábrica do Braço de Prata.
Na Sala Wittgenstein, embelezada por quadros naturistas que acresciam agradabilidade ao espaço, o recinto apresentava-se cheio e repleto de fãs portugueses e brasileiros e alguns turistas curiosos. Pouco depois da meia-noite, o grupo mineiro pela voz de Luiz Gabriel Lopes apresentou-se: “Boa noite! Obrigado por nos esperar.”. De uma assentada, “Blues Via Satélite” e “Desencontro” irrompem em versões percussivas, swingadas e ao estilo d´Os Mutantes.
Fazendo jus ao espírito do novo álbum, Eu Preciso De Um Liquidificador, o Graveola enveredou por uma toada de pop sessentista, contemplando ao longo do show mais sonoridades e demonstrando o seu ecletismo. A bem recebida e mais antiga “Samba De Outro Lugar” representou o primeiro grande momento da noite e validou o trabalho da percussionista Flora Lopes e a mais recente “Farewell Love Song” mostrou que o grupo conseguiu evocar um Radiohead mais carnavalesco.
Uma das boas surpresas da atuação veio ao som de uma cover do músico português JP Simões. “A Lenda Do Homem Pássaro”, nas mãos do Graveola, adquiriu um fundo hipnótico inicial e prosseguiu em tom de marcha fúnebre com Juliana Perdigão a brilhar no clarinete. E aqui evidenciou-se o papel de uma banda (com várias soluções rítmicas e a beneficiar de muitas horas de estrada percorridas), capaz de produzir um momento especial na terceira noite do Mês do Brasil, na Fábrica do Braço de Prata.
Em evidente crescendo, com um público dançante e a fazer coreografias com as mãos, o grupo contou com a participação do músico João Paulo Prazeres, em “Benzinho”, e interpretou uma curiosa rendição de “Insensatez: A Mulher Que Fez”, na qual o colorido instrumental casou com os arabescos guturais de Luiz Gabriel Lopes. “Antes Do Azul (Papará)”, bem ao estilo de Caetano Veloso, iniciou a última e bem aclamada sequência final do espetáculo, privilegiando o novo trabalho.
“Desdenha” e “Desmantelado” prolongaram as emoções e na interpretação de “Babulina´s Trip” o funk dos anos 70 foi repescado e a banda apresentada aos presentes. Revelando um modernismo saudável, o grupo despediu-se com um número revivalista em que Yuri Vellasco trocou a bateria pela guitarra e Flora Lopes a percussão pela bateria. Pouco mais de uma hora bastou para perceber que o Graveola respira saúde e que as próximas datas europeias irão confirmar o seu inquestionável talento.
PS importante: A foto que abre o post é de um show este mês no Rio de Janeiro e foi retirado do Facebook da banda. Assim que as fotos da apresentação em Lisboa chegarem, atualizaremos o artigo.
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Pedro Salgado é jornalista português e colabora com a Revista O Grito! revelando a cena pop independente de Lisboa. Leia mais dos textos dele.