TEATRO NOIR
Gambiarra Cult estreia com muitos tropeços, pouco entretenimento, tensão e um gato bem animado no saguão
Por Fernando de Albuquerque
Da Revista O Grito!
Um filme noir. Era essa a expressão que definia o sentimento de quem chegava no Teatro da UFPE, na chuvosa noite de sexta. Dois emos de branco, com maquiagem pesada, debaixo de um guarda-chuva na beira da escada e um vazio no saguão principal e entrada compunham a cena desoladora da estreia do festival Gambiarra Cult, que aconteceu no Teatro da UFPE, no Recife.
Cheio de boas intenções e calças skinny, a programação era muito boa, mas os meninos… muito jovens. E além da maturidade, faltava de tudo: cerveja, animação, luzes, papo legal e, principalmente, GENTE. Sobrava tensão, medo que os artistas não tocassem e atrasos. Sem falar que chegamos no local debaixo de um clima pesado com o cancelamento do show do Garotas Suecas por falta de dinheiro e o motivo alegado de “não popularidade”.
O melho show da noite foi o de Thiago Pethit. Ele compensou todo e qualquer percalço, com direito à músicas inéditas, que estarão no novo trabalho do cantor.
Pethit tem se mostrado um legítimo enterteiner, conduzindo o público com simpatia, contando piadas, dando instruções. Ainda tem o luxo de contar com uma plateia que sabe cantar a maioria de suas músicas. O show foi bem curto, cerca de 40 minutos e aconteceu depois de um atraso de quase uma hora, quando o público estava na expectativa do Apanhador Só, que tocou por último.
Um show de Pethit é uma experiência ainda mais interessante que seus registros em estúdio: a improvisação e as brincadeiras que faz com a voz mostra o quanto ele tem domínio técnico. Some-se isso a uma “pinta” toda desenvolta e temos um show da cena independente que precisa ser descoberta por mais pessoas. Ele deixou registrado o pedido de vir tocar no Rec-Beat, em um recadinho especialmente dedicado ao produtor Antonio Gutierrez no palco. Fez bem.
O Apanhador Só encerrou a noite, trazendo músicas do elogiado disco homônimo lançado em 2010. Eles trouxeram faixas como “Nescafé” e “Um Rei e O Zé”, que servem para afirmar a peculiaridade do som feito por eles, um pop muito melódico que passeia entre o experimental e o altamente assobiável. Pena que a produção tenha falhado na ordem das atrações, o que fez com que o grupo gaúcho ficasse com cara de anticlímax tocando depois de Pethit, com mais fãs na platéia.
As bandas que abriram, Nuda e Nós e A Máquina do Tempo fizeram shows corretos, com destaque particular para o Nuda, que anda merecendo mais espaço na cena local para tocar faixas de seu muito elogiado Amarenenhuma.
Um dos outros destaques de quem chegava no Gambiarra era o gato cinza no saguão do Teatro da UFPE. Ele pulava, dançava e animou a noite dos “emos pingados”.