Cobertura FIQ 2015: Festival discutiu presença das mulheres nas HQs

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Gail Simone: não há limites para as HQs feitas por mulheres. (Divulgação).
Gail Simone: não há limites para as HQs feitas por mulheres. (Divulgação).
Gail Simone: não há limites para as HQs feitas por mulheres. (Divulgação).

Da Revista O Grito!, em Belo Horizonte

“Nunca vimos tantas quadrinistas na vida”, era o espanto geral que pairava durante todo o Festival Internacional de Quadrinhos, que aconteceu em Belo Horizonte de 11 a 15 deste mês. O evento, o mais relevante para as HQs autorais no Brasil, contou com uma programação que privilegiou o debate sobre representatividade de gênero e deu também mais espaço para discutir o espaço das minorias dentro dos quadrinhos.

Este espaço maior para as mulheres no FIQ foi além da retórica de uma suposta “modinha” de representatividade e permeou praticamente todos os debates, desde um painel de fantasia e quadrinhos até a conversa com o criador de Bone, Jeff Smith. A curadoria trouxe mais minas para as mesas, independentemente do tema proposto, o que derrubou o artifício confortável de concentrar o debate de gênero dentro da velha e batida mesa “as mulheres nos quadrinhos”.

“Há menos de 10 anos atrás quando veríamos um painel assim com tantas meninas?”, perguntou Mariama Fonseca, uma das criadoras do blog Lady’s Comics, que lançou no FIQ a revista Risca, feita por quadrinistas. “Ainda há muito a mudar, mas acredito que as mulheres estão conseguindo ter mais voz em um meio que sempre foi feito por homens e para homens”.

Babs Tarr, de Batgirl. (Divulgação).
Babs Tarr, de Batgirl. (Divulgação).

A escritora Gail Simone, responsável por obras revistas como Mulher-Maravilha, Aves de Rapina e Batgirl, esteve no FIQ e falou sobre a mudança no entendimento do quadrinho feito por mulheres. “Não existem limites para as HQs feitas por mulheres. Em um passeio rápido aqui no FIQ vi vários formatos, temas, estilos, cores”, disse. Quando começou sua carreira na indústria dos comics norte-americanos Gail enfrentou um ambiente bem opressor para profissionais femininas na área. Ela já chegou incomodando ao expor a misoginia do mercado dos gibis de super-heróis. Ela é autora do site Women in Refrigerator, que reunia cenas de violência contra personagens femininas.

Gail lembrou do clichê da super-heroína louca. Você já deve ter lido: uma personagem mulher é tão poderosa que ela não consegue lidar com tamanho dom e acaba enlouquecendo. O recurso vem sendo usado há mais de 50 anos pelas editoras Marvel e DC, com bastante sucesso. Jean Grey/Fênix e Feiticeira Escarlate são dois exemplos bem conhecidos. “Isso apenas refletia o que acontecia na vida real. Muitas mulheres eram tidas como loucas, vadias, apenas porque começavam a a crescer no mercado”, disse.

Felipe 5horas, Gail Simone e Ana Luiza Koehler: mulheres nas HQs. (Divulgação).
Felipe 5horas, Gail Simone e Ana Luiza Koehler: mulheres nas HQs. (Divulgação).

Quando começou a trabalhar nas HQs, Gail perguntou a um conhecido editor norte-americano se eles sabiam a percentagem de meninas que liam as revistas. “Ele disse ‘não sabemos e não queremos saber’. Hoje em dia, todas as editoras estão atrás do público feminino. O discurso mudou bastante”. Gail é autora de Aves de Rapina, um título de sucesso que mostra um grupo de super-heroínas. “Quando peguei o gibi disse a todos que eu conseguiria fazer uma história interessante que mostrasse aquelas personagens como algo bem maior do que apenas sidekicks de super-heróis homens.”

O FIQ ainda foi palco de debate sobre representatividade. Além da maior presença das mulheres fazendo e consumindo quadrinhos, um tema importante levantado foi como elas estavam sendo mostradas nas páginas. “O corpo feminino nunca foi respeitado nos quadrinhos”, disse Lovelove6, autora de Garota Siririca sobre uma menina bissexual viciada em masturbação. “A mulher muitas vezes aparece como prêmio. Além disso o sexo hétero nas HQs sempre surge com uma expectativa de violência e coerção muito grande”, disse. O trabalho da autora é algo distinto no quadrinho atual por mostrar relações lésbicas tendo como alvo o público feminino.

Sobre isso Gail Simone disse que vem tentando aumentar a diversidade das mulheres nos quadrinhos. “Nos personagens que criei tenho tido a preocupação de falar aos desenhistas e coloristas que há mulheres negras, gordas, altas e baixas. Durante muito tempo todos os artistas desenhavam uma única mulher gostosa, apenas mudando a cor do cabelo”.

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