Durante 12 dias, o público pôde conferir espetáculos nacionais e internacionais, além de diálogos “tremáticos” que uniram cênicas, arte e política
Na última quarta (10) a cena cultural teatral abriu as portas para a 5º edição do Trema Festival de Teatro, que tem como objetivo reunir peças de diferentes lugares em um só evento. O evento traz este ano uma temática voltada para a distopia com relação à sociedade atual, por meio da arte. Ao todo foram 15 espetáculos que aconteceram em diferentes espaços do Recife, como o Teatro Santa Isabel e o Espaço Cênicas.
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Na estreia a peça Noite, do grupo português Circolando apresentou qualidade e técnica apurada confirmando-os como um dos principais coletivos lusitanos. O espetáculo foi encenado no Teatro Barreto Júnior e trouxe elementos da dança auxiliada com um DJ. O cenário composta por pneus e a obra poética de Al Berto trouxeram um sentimento de inquietações para o início de um viagem selvagem e caótica, sem fim. Na quinta-feira, o grupo se apresentou mais uma vez. Além do espetáculo, durante o dia aconteceu também a oficina “O corpo expressivo: masterclass em movimento”.
O Espaço Cênicas contou com a estreia solo do ator Marcio Fecher, Meu nome é Enéas – O Último Pronunciamento. A peça narrou a história de um homem de origem humilde que com quase nenhum recursos se tornou cardiologista, físico e matemático; dedicando seus últimos dias de vida ao projeto de uma nova política nacional. No teatro Hermilo Borba o espetáculo Filho, Diga que você está de acordo! Máquinafatzer entrou em cena. Na montagem do Teatro Máquina, grupo do estado do Ceará, parte dos fragmentos do Fatzer, obra inacabada de Bertolt Brecht, escrita entre 1926 e 1931 são desenvolvidas em aproximadamente 1h30.
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Para falar sobre o Trema! e a plataforma de mesmo nome, a Revista O Grito! Conversou com um dos organizadores do festival, Pedro Vilela. Confira abaixo a entrevista:
O que é o trema?
O trema é uma plataforma de desenvolvimento em torno do teatro. Então ela procura desenvolver uma série de ações. Hoje nós contamos com o festival que está chegando a sua 5º edição e com a Trema Revista de Teatro, que possui incentivo do Funcultura e que será lançada sua décima edição dentro da programação do festival.
O que você quer dizer quando fala de plataforma?
A ideia de plataforma surge na tentativa de experimentar um novo modelo mais flexível do que um grupo de teatro em si. No grupo teatral existe uma horizontalidade, no qual todos os integrantes fazem parte das ações que são realizadas, na plataforma não, temos um núcleo estável e desenvolvemos projetos com diferentes organizadores, dependendo da necessidade. Então na nossa revista, por exemplo, temos como colaboradora Olívia Mindêlo que é nossa editora-chefe. No festival trabalhamos com uma série de outros colaboradores que realizam produções executivas e fazem acompanhamento de todas as ações. Então a gente tenta navegar por essa dinâmica.
Quem é o idealizador desse projeto e como funciona a dinâmica da equipe?
O Festival é idealizado por mim, enquanto fazia parte de outro coletivo teatral chamado Magiluth (PE) e com a minha saída trouxe para essa plataforma. Hoje a plataforma é composta por mim na idealização e direção artística, Mariana Rusu, na produção geral e Thiago Liberdade, comunicação e design. Nós 3 já temos uma trajetória de realização na cidade em torno do teatro. Pertencíamos a um coletivo do Recife e resolvemos mudar um pouco nossa formatação de trabalho, nosso modelo e nossa dinâmica, para dar espaço a ideia de plataforma. Nós saímos desde 2015, mais especificamente eu e Thiago, para tentar uma nova dinâmica de trabalho.
Como aconteceu a escolha das peças?
Cada ano realizamos um recorte curatorial; neste ano o recorte passa pelo pensamento de distopias de realidades e durante o ano vou circulando pelos festivais acompanhando o máximo de trabalhos possíveis para compor a grade de programação.
Qual será o próximo trabalho?
Em junho nós estrearemos o primeiro espetáculo de nossa plataforma, que será um solo em torno das igrejas neopentecostais chamado Fogo no Altar, com produção e atuação minhas. Nosso desejo é poder ter uma plataforma que impulsione encontros, partilhas, intercâmbios e que possam de alguma maneira contribuir para a formação do público recifense e da classe artística, na qual a equipe está inserida.