O retorno mais aguardado dos últimos anos chegou com tudo: emoção, euforia e saudade são algumas das palavras que ajudam a descrever a noite dessa sexta-feira (17), no Marco Zero, que abriu o Carnaval do Recife. Para o baiano Caetano Veloso, a volta foi em dose dupla. Depois de dois anos sem a folia, o show do cantor marcou também os dez anos desde sua última apresentação no Carnaval da capital pernambucana.
Com um repertório que contemplou, predominantemente, clássicos da carreira, Caetano foi de cara aplaudido ao entoar “Você Não Entende Nada” como canção de abertura. “Sampa”, “You Don’t Know Me”, “Cajuina” e “Odara” também integraram o setlist, que, do início ao fim, arrebatou a multidão.
Ainda no palco, ele relembrou a visita, em 1949, do Vassourinhas, um dos clubes carnavalescos mais tradicionais do Recife, a Salvador e a influência desse episódio na origem da grande festa baiana. “Em larga medida, o Carnaval da Bahia é uma eterna homenagem, grata, ao Carnaval do Recife”, declarou.
Com uma sombrinha de frevo na mão, Caetano agradeceu o público recifense. “Cidade que mora no meu coração. Sou tão grato a vocês quanto o Carnaval da Bahia é grato ao carnaval de Pernambuco”, anunciou pouco antes de cantar o frevo “Evocação Nº 1”, de Nelson Ferreira.
Certos momentos do show renderam danças e gingados e pudemos ver o baiano, de fato, requebrando. Foi o caso de “Reconvexo”, que fez todo o Marco Zero ser tomado por gritos em reverência ao artista. Já outras faixas mais serenas, como a clássica “Menino do Rio”, arrancaram do público, que lotou o Recife Antigo, um coro caprichado.
Na reta final do show, Caetano convidou ao palco a pernambucana Duda Beat e os dois dividiram os vocais em um feliz dueto de “Sem Samba Não Dá”, canção que compõe o último álbum Meu Coco (2021). Dona de hits como “Bixinho” e “Chega”, ela teve como grande tarefa o encerramento dessa noite que nasceu para entrar para a história dos carnavais da cidade.
Geraldo Azevedo e convidados
Mais cedo, o palco do Marco Zero foi comandado por Geraldo Azevedo, um dos três homenageados do Carnaval desse ano, que trouxe vários convidados. Almério, Silvério Pessoa, Jota Michiles, Lula Queiroga, Fafá de Belém e Chico César foram algumas dessas participações.
Mesmo com alguns problemas técnicos de som, Geraldo Azevedo não teve, de forma alguma, seu brilho ofuscado. Uma das interpretações mais enérgicas do show foi o pot-pourri do “Hino dos Batutas de São José” e de “Maracatu Atômico” ao lado de Jorge du Peixe.
Outro grande destaque foi a participação de Alceu Valença, que incendiou o público com o frevo “Me Segura Que Senão Eu Caio”, rendendo pedidos de bis. Após a apresentação dos dois pernambucanos, porém, algo um tanto inesperado aconteceu. Ao chamarem Elba Ramalho ao palco para o Grande Encontro do trio, Alceu e Geraldo tiveram que contornar a demora da cantora para subir ao palco após todo o Marco Zero ser tomado por um coro uníssono de “olê, olê, olá, Lula”.
Conhecida por um posicionamento favorável ao ex-presidente Bolsonaro, a pernambucana, no fim das contas, adentrou o palco já no meio de “Táxi Lunar”, quando o público foi tomado pela euforia da versão em frevo da canção. Ao lado de Geraldo e Alceu, ela, ainda assim, conseguiu empolgar a multidão com “Frevo Mulher”.