Nostalgia, psicodelia e punk gay foram destaque no Abril Pro Rock
Homenagem a Reginaldo Rossi, rock lo-fi do Sebadoh, Trummer SSA e pernambucanos Johnny Hooker e Orquestra Betotélica foram os pontos altos da noite
Por Alexandre Figueirôa
Do Recife
A primeira noite do Abril Pro Rock 2014 teve de tudo. Quem foi ao Chevrolet Hall pôde curtir com tranquilidade uma cena musical pop diversa e instigante, marcada, sobretudo, pelas releituras de gêneros e estilos e o hibridismo de ritmos. Dos toques de psicodelia da Orquestra Betodélica a performance punk gay de Johnny Hooker, os shows apresentados, nessa sexta (26), confirmam o APR como um espaço cujo maior mérito é apontar artistas inovadores e criativos que certamente ditarão as tendências dos próximos anos. Sem esquecer também dos que já tem uma carreira sólida, mas continuam sendo referência em seu estilo como o rock básico da banda norte-americana Sebadoh.
Leia Mais
Cobertura: APR 2014 – Felipe Cordeiro foi destaque no primeiro dia
Quem chegou cedo no APR começou a entrar no clima do festival logo na entrada do Chevrolet Hall com a presença do Som na Rural, de Roger. No palco ao lado do carro, se apresentaram o caruaruense Joanatan Richard, o cearense Daniel Groove e Fábio Trummer, da banda Eddie. O público ainda tímido após a abertura dos portões se empolgou com o rockabilly de Richard e conheceu o novo projeto do vocalista da Eddie, Trummer SSA. Nos dois palcos principais os shows de abertura ficaram por conta de Tulipa Ruiz e Bárbara Eugênia. Elas fizeram exibições competentes, demonstrando maturidade e cativando o público.
As apresentações de uma maneira geral foram bem equilibradas e acompanhou o espírito que norteou a seleção dos convidados desta edição do APR, onde 80% por cento da programação é de bandas e artistas inéditos no festival. O público presente respondeu de forma positiva a essa opção e acompanhou com interesse tanto o pessoal da Cena Beto – Aninha Martins, Juvenil Silva e Graxa – quanto o mix de ritmos paraenses de Felipe Cordeiro, demonstrando curiosidade pelas novas expressões em gestação no cenário musical.
A Orquestra Betodélica fez uma apresentação envolvente com sua musicalidade aberta ao rock, à psicodelia e aos ritmos locais. Contagiou o público que, a exemplo dos artistas no palco, cantou e dançou sem parar por quase uma hora. Felipe Cordeiro, com um grupo de músicos afinados, tocou cumbias, carimbó, lambada com uma pegada ora rock ora eletrônica e também fez muita gente dançar.
Mas as atrações que mais mexeram com a plateia foram sem dúvida as do pernambucano Johnny Hooker e a da banda norte-americana Sebadoh. Hooker já tem fã-clube de carteirinha. As letras irreverentes de suas canções falando de dramas de amor e paixões arrebatadoras aliadas a uma performance debochada e sensual fizeram seu show o mais quente da noite. Os fãs não queriam deixar Hooker sair do palco e entraram em total sintonia com o artista quando ele cantou “Volta”, sua música mais conhecida, trilha sonora do filme Tatuagem.
O rock lo-fi do Sebadoh também deu um gás na primeira noite do APR. A banda, em sua primeira turnê pelo Brasil, não decepcionou quem acompanha sua trajetória na cena indie-rock. Sua principal característica é a simplicidade na performance, dispensando arranjos mirabolantes e frescuras visuais. Foi assim que eles revisitaram músicas de sua carreira e do disco mais recente Defend Yourself.
Autoramas, veterana no evento, foi outro show que fez a plateia dançar. Eles deram o pontapé inicial na nostalgia que invadiu o APR deste ano e que teve em seguida uma homenagem a Reginaldo Rossi. A banda carioca, uma das mais conhecidas da cena independente brasileira, sempre flertou com o rockabilly e a Jovem Guarda e para sua apresentação convidou o músico Renato Barros, um ícone dos anos 60 com o grupo Renato e seus Blue Caps. A interação entre Renato e o Autoramas foi total e por uns instantes o Chevrolet Hall entrou em clima de bailinho, com os sucessos de Renato, sobretudo as antiga versões de músicas dos Beatles, como “Menina Linda”. O pernambucano China também subiu ao palco e cantou com eles o sucesso de Roberto Carlos, “Não Serve Pra Mim”.
O tributo a Reginaldo Rossi, morto no ano passado, coroou a sessão nostalgia. A homenagem foi idealizada por Paulo André, organizador do APR. André convidou os músicos que por décadas integraram a banda do Rei para acompanhar os artistas da nova geração interpretando as canções de Rossi. Aninha Martins, Canibal, Ylana, Johnny Hooker, Fabio Trummer, Isaar, entre outros soltaram a voz em louvor a Rossi, cabendo a China, com uma lata de cerveja na mão, relembrar o seu maior sucesso, a música “Garçom”. Pena, que o tributo, pela hora avançada, aconteceu num momento em que muita gente já tinha deixado o Chevrolet Hall.