Cobertura: 2º Panorama do Pensamento Emergente, no Recife

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Fotos: Cristiana Tejo / Reprodução via Facebook
Fotos: Cristiana Tejo / Reprodução via Facebook

OS NOVOS CURADORES
Evento no Recife trouxe novas ideias sobre a figura do curador de arte, um profissional que vai bem além do que escolher quadros para pendurar na parede

Por Rudá Araújo
Colaboração para a Revista O Grito!, no Recife

Ana Maria Maia, 28 anos. Clarissa Diniz, 29. Felipe Scovino, 35. Júlia Rebouças, 29. Renan Araújo, 25. Kamilla Nunes, 24. Esses jovens curadores de exposições, entre outros, participaram na última quarta (22) e quinta (23) do 2º Panorama do Pensamento Emergente, projeto idealizado pela curadora pernambucana Cristiana Tejo. A ideia foi discutir esse novo momento da curadoria no Brasil, marcado por uma nova geração que traz novas ideias para a arte contemporânea.

O encontro, contemplado no Rede Nacional Funarte Artes Visuais, acontece a cada cinco anos e se propõe a reunir curadores atuantes no mercado cultural para refletir sobres os rumos da curadoria. A área vem crescendo no País, com um número cada vez maior de instituições culturais, galerias, ateliês e museus. Propõe-se também a pensar a própria atividade que, por muitas vezes, é enaltecida devido ao poder do curador de legitimar artistas.

Diferentemente da lógica preocupada em bases tradicionais, como cronologia e estilo, o curador emergente prefere seguir outro caminho. Sem querer propor soluções de maneira positivista, esse novo profissional percebe na curadoria um lugar para questionar os valores do mundo contemporâneo, bem como o fazer artístico. Sem deixar de lado o próprio fazer curatorial, fugindo assim da ideia de um “curar”, ou seja, solucionar.

Quero ser curador!
Para quem desejar percorrer os caminhos da curadoria, primeiramente é preciso estar ciente da aventura que é a profissão, se é que a podemos chamar assim. Na verdade são pouquíssimos os que sobrevivem dela. Além do mais, falta clareza no próprio campo quanto às verdadeiras atividades de um curador. Os curadores presentes no simpósio concordaram em unanimidade em relação a isso. A figura do curador já deixou de ser aquele que simplesmente escolhe o quadro da parede, sendo característica essencial uma diplomacia e agilidade para lidar com questões que vão desde a concepção de um projeto à prática curatorial.

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Uma das convidadas do evento foi a crítica de arte do jornal OGlobo Marisa Flórido. Um ponto importante debatido por ela foi o risco do curador cair na armadilha de “higienizar” demais uma exposição, desviando a percepção do público, consciente ou inconscientemente, de elementos primordiais a sua sobrevivência: a obra e o artista. Clarissa Diniz, curadora da exposição Encarar-se: Fernando Perez e Rodolfo Mesquita, realizada no Museu Murillo La Greca, em 2009, lembrou que o artista Fernando Perez, na abertura da exposição, resolveu botar pedaços de um galeto assado em cima de alguns cadernos de desenhos, sujando assim os cadernos. Segundo ela um ato político e artístico para provocar o questionamento sobre esse fazer “curadoria” é válido, mas ele não pode acabar despersonalizando o artista.

Nu-arte
Como todo evento aberto ao público, o simpósio não ficou imune à recorrências de clichês ultrapassados de arte contemporânea. Na quarta à tarde, em certo momento um indivíduo de nome Wonder Wallace, inesperadamente, ficou completamente nu, e ainda não se contentando, ficou de pé em cima de uma cadeira. Se ele queria holofotes para essa ~performance~ não conseguiu, já que ninguém deu muita bola. Uma das organizadoras do evento, cordialmente, soube contornar o imprevisto e o pediu para a criatura se recompor e o evento seguiu normalmente.

Durante os dois dias de seminário os participantes confirmaram mais uma vez o fato de que quem faz curadoria hoje no Brasil são filósofos, historiadores, arquitetos, críticos, antropólogos, sociólogos, jornalistas, fotógrafos, museólogos, artistas e quem mais quiser assumir esses riscos e aventuras, vendo nesse “ser curador” ou “estar curador”, a materialização de mais uma ferramenta de criações de possibilidades. Mas não resta dúvida que o 2º Panorama do Pensamento Emergente conseguiu borbulhar a mente dos que estavam presentes.

O Espaço Fonte, no Centrão do Recife, se mostrou um lugar ótimo (e ainda pouco conhecido) para eventos como esse. As fotos desta matéria foram tirados do Facebook de Cristiana Tejo, a organizadora do simpósio.

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