Clássico “Onda Nova”, censurado pela ditadura, será exibido em Locarno em cópia restaurada

Longa de Ícaro Martins e José Antonio Garcia é uma ode ao desejo e contra todo tipo de moralismo

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Foto: Divulgação.

Produzido nos tumultuados anos da Boca do Lixo paulistana, Onda Nova, dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia, está prestes a voltar para os holofotes internacionais. O filme, que fez sua estreia controversa na 7ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 1983, foi prontamente censurado pelo regime militar brasileiro, impedindo seu lançamento comercial imediato.

Este ano, porém, o longa ganha nova vida na 77ª edição do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça. Selecionado para a seção Histoire(s) du Cinéma, que celebra clássicos raros e filmes que redefinem a história do cinema, Onda Nova será exibido em uma versão restaurada e remasterizada. Esta iniciativa faz parte de um esforço coordenado por Julia Duarte, produtora e sobrinha de José Antonio Garcia, em colaboração com a Cinemateca Brasileira e outros parceiros.

Onda Nova narra as façanhas das jogadoras do Gayvotas Futebol Clube, um time feminino pioneiro que desafiou as normas conservadoras da época, apoiado por ícones do futebol brasileiro como Casagrande, Wladimir e Pitta, figuras centrais da Democracia Corintiana. O filme não só aborda a regulamentação tardia do futebol feminino no Brasil, mas também explora questões pessoais e familiares das jogadoras, contextualizando essas histórias dentro de um período de intensa repressão política.

“É um filme onde o desejo assume o protagonismo, define e conduz as personagens e a narrativa. Mesmo não tratando diretamente de política, ao colocar o desejo como afirmação de identidade e de vida, Onda Nova é a própria negação da ditadura vigente na época. Por isso a censura não foi apenas a uma cena ou outra, mas ao filme inteiro. Foi considerado ‘amoral’ e interditado integralmente”, conta Ícaro Martins, co-diretor do filme.

A restauração de Onda Nova também inclui a reconstrução do trailer e do cartaz originais, cuja identidade visual foi revitalizada por Helena Garcia, filha do falecido diretor José Antonio Garcia.

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Foto: Divulgação.