RECIFE EM NOME DE JAH
Cresce o número de eventos e locais dedicados ao ritmo jamaicano
Por Rafael Bouckaert
Colaboração para a Revista O Grito!
O crescimento do público e de eventos da cena musical dedicada ao reggae no Recife é perceptível. Além do surgimento de novas bandas locais, grupos nacionais e internacionais tem incluído sistematicamente a cidade na rota de suas turnês. Um cenário bem mais animador do que o dos anos 1990 quando o ritmo, originário da Jamaica, não tinha muito espaço por aqui e ainda era visto com desconfiança por conta do visual rastafári de seus seguidores e o fato deles aceitarem com serenidade o uso livre de cannabis.
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O reggae tornou-se conhecido em 1963. A banda The Wailers fundada por Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer seria considerada a maior representante do ritmo e na década de 1970. Graças a ela, o ritmo ganhou popularidade na Inglaterra e nos Estados Unidos se tornando assim um ritmo mainstream. A cultura reggae se expandiu e ganhou seguidores por todo o mundo. No Brasil os nomes de Edson Gomes e da Tribo de Jah são fundamentais na difusão do ritmo pelo país, e hoje grupos como Ponto de Equilíbrio e Mato Seco dão continuidade a esta tradição.
Em Pernambuco, um dos seguidores mais antigos é o músico Ívano, um artista que trafega por diversos ritmos e tem álbuns inteiros dedicados ao reggae. Hoje, observa-se um ressurgimento do interesse por esse gênero de música e o produtor e músico Dirceu Melo é um dos responsáveis por esta nova onda no Grande Recife. Dirceu se interessou pelo reggae quando em meados de 2002 junto com amigos formou a banda Manga Rosa e constatou que não havia nenhum local para apresentação de grupos de reggae. Eles então se juntaram com outras duas bandas que tocavam outros ritmos e criaram um evento semanal chamado Quinta NP, na rua do Apolo. “Cobrávamos quatro reais e mulher entrava de graça. A cachaça também era de graça!!!”, recorda Dirceu.
O evento foi um sucesso e muito disso se deveu às noites em que o Manga Rosa tocava. O público aumentou exponencialmente e o evento mudou de local por três vezes para aguentar a demanda. Antes da NP, segundo o músico, não havia nada de reggae acontecendo na cidade. Pouco depois surgiu um convite da Rádio Cidade para a banda Manga Rosa abrir um show da Tribo de Jah, que há anos não tocava por aqui. “Fizemos o show no antigo Espaço Arena e ali mostramos à cena nacional que o Recife estava renascendo pro reggae”.
Segundo Dirceu o crescimento do poder aquisitivo das classes C e D tem permitido uma expansão da cena e o surgimento de eventos dedicados ao reggae. A Groovin, produtora comandada por ele, está ligada a quatro grandes eventos, entre eles o Festival Celebração Reggae que já teve cinco edições. “Apesar de nenhuma banda local ainda ter conseguido o devido destaque na cena nacional, somos hoje uma das principais praças brasileiras para o reggae e isso se mostra pelo fato de já termos recebido todos os grandes nomes nacionais e algumas estrelas internacionais”, diz. Ele lembra que até mesmo o Chevrolet Hall recebeu 12 mil pessoas para ver Alpha Blondy e The Wailers.
Novidades
Mas o crescimento da cena não se traduz apenas em números. Muitos adeptos do reggae trabalham de forma coletiva e estão trazendo novidades para a cena. Um exemplo é o Reggae pelo Reggae, formado por um grupo de jovens apaixonados pelo ritmo. Seus cinco integrantes vem produzindo pequenos eventos e apoiando outros maiores, com o desejo de mudar a imagem de desorganização dos eventos locais do gênero. O Reggae pelo Reggae é um dos símbolos da mudança no estado. Eles também são responsáveis por eventos do tipo sound system, gratuitos e realizados em praças públicas com o intuito de formar novos públicos e reunir os fãs.
A falta de locais para curtir o reggae também não é mais problema. O segmento no estado tem se consolidado e o ritmo já atrai novos adeptos de várias camadas sociais. Novos eventos estão surgindo como o Festival Reggae Brazuca que vai acontecer dia 13 de julho no Clube Português com Edson Gomes, Vibrações, Bantus, Triboras e Semente Yeshua. Além disso, existe o Jardim do Reggae, ponto de encontro dos fãs da música jamaicana. O Jardim surgiu em 2003 e hoje está situado na Cachaçaria Virgulino, realizando shows todos os domingos, com destaque para as bandas regionais.