Por Rafaella Soares
Uma noite bem heterogênea. A segunda-feira (20) do Festival Rec Beat escalou um line-up bem diversificado, que vai desde o experimentalismo do projeto Oy, da cantora Joy Frempong (Suiça), passando por Agridoce, formação da cantora Pitty com seu guitarrista, Martin, até o show do novo disco de Lirinha, Lira. Quem abriu a noite foi o produtor e agitador cultural Roger de Renor, seguido da pernambucana Rumbanda. Quando Joy subiu ao palco, a aglomeração no Palco Alfândega já era considerável.
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Uma característica do público do festival é estar aberto à novos sons, por curiosidade e pelo estímulo extra ao que não é convencional que o Carnaval sugere. Difícil escapar dos adjetivos experimental e incomum para falar de OY. Sua música se utiliza de interferências e sons hipnóticos, somados à letras repetitivas, que podem conquistar ou repelir de imediato o espectador. Além das bases eletrônicas, zoadas de brinquedos e pads eletrônicos provocando eco, por vezes irritante, a exemplo do momento em que ela enchia vezes uma bexiga e esvaziava o ar no microfone, provocando um som angustiante que se assemelhava ao de unhas arranhando um quadro-negro. Um baterista a acompanhava. Sóbrio ou sob efeito de alguma substância, foi heróico ouvi-la.
Depois desta viagem nem um pouco palatável, foi a vez da atração mais esperada pelo público teen roqueiro: o projeto Agridoce, da cantora Pitty e seu guitarrista, Martin. Era impressionante como a platéia conseguia até mesmo cobrir o som da voz da baiana: ninguém se destacou mais do que Pitty nesta segunda. A noite foi toda dela e de seu guitarrista, Martin, que juntos formam o projeto Agridoce. Mesmo antes do show, centenas de fãs já esperavam por alguma chance de vê-la na saída do backstage. Após a apresentação, muita histeria para tentar entrar no camarim. Uma das poucas cantoras legitimamente pop – no sentido clássico do termo, de arregimentar paixões, etc – Pitty trouxe um dos maiores públicos até agora. Talvez até maior que o Quanta Ladeira, que sempre foi recorde.
Já Lirinha fez um dos shows mais vibrantes dessa sua nova fase solo. Foi mais um lançamento de seu disco Lira, lançado no final do ano passado. Diferentemente da primeira apresentação no Mercado Eufrásio em janeiro deste ano, o cantor retomou o tom performático bem parecido com seu antigo grupo, o Cordel do Fogo Encantado. E deu muito certo. Misturando declamações de versos com guitarras bem pop de suas novas músicas, o show provocou comoção como costumava fazer em carnavais passados com seu grupo. Destaque para “Adebayor”, feita em colaboração com Lula Côrtes, morto ano passado e “Lágrimas Pretas”, que foi feita para Pitty dentro do projeto 3 Na Massa. Lula ainda foi homenageado com o frevo “A Pisada é Essa”.
No encerramento do dia, o afrobeat do Bixiga 70 mostrou que anda valendo todo o hype que vem recebendo. Com um instrumental poderoso, o grupo trouxe uma releitura dos terreiros de umbanda, sons africanos e muito batuque e sopro. Nascidos no bairro do Bixiga, a banda foi uma das revelações do ano passado na cena independente brasileira e fez no Recife seu primeiro show para uma grande multidão. E a empatia foi certeira. O público aprovou e dançou as músicas neste que foi o dia mais lotado do festival até agora.
Neste último dia, o Rec Beat traz Criolo, no que deve ser o mais importante show do rapper, pelo tamanho do público do festival. [Colaborou Paulo Floro]