DRINQUE INDIE
Evoluindo de fanzines para um mix coeso que mistura quadrinhos, música e até poesia, Café Espacial é grata surpresa
Por Zé Oliboni*, especial para O Grito!
CAFÉ ESPACIAL # 3
Vários Artistas
[Independente, 60 págs, R$ 5,00 + 1,00 despesas postais, pelo site www.cafeespacial.com]
Em outubro de 2007, Sérgio Chaves e uma grande equipe lançaram a primeira Café Espacial e surpreenderam no meio de uma grande leva de revistas independentes publicadas na mesma época. De lá para cá mais dois números foram lançados, sendo o mais recente agora em novembro de 2008.
Vale contextualizar um pouco esse novo cenário em que Café Espacial está inserido. Os anos de 2007 e 2008 foram muito bons para os quadrinhos independentes. Vários artistas começaram a migrar dos fanzines para revistas produzidas em gráfica com um acabamento melhor e, apesar do investimento maior, o custo final para o leitor era, muitas vezes, o mesmo de um fanzine xerocado.
O número de novos títulos e artistas era tanto que se formou até um coletivo chamado Quarto Mundo para organizar melhor essa produção e distribuição. No meio dessas revistas em quadrinhos, inclusive ligada ao Quarto Mundo, estava o Café Espacial, inclusive porque Sérgio, o editor, sempre foi fã de quadrinhos.
Desde 1999, Sérgio Chaves edita o premiado fanzine Justiça Eterna, uma publicação artesanal sobre quadrinhos. O zine lhe garantiu diversos contatos no meio independente e experiência na área de edição. Com esses contatos e sua experiência, ele se juntou a jornalista Lídia Basoli e chamou o desenhista Laudo Ferreira (da personagem erótica Tianinha entre outros trabalhos) e Laura Gattaz para formar o conselho editorial.
É claro que o salto do fanzine para a revista independente não foi tão fácil como parece. Segundo Sérgio Chaves: “Com a Café Espacial a dedicação é totalmente diferente dos fanzines. Enquanto o trabalho com os fanzines é experimental e descompromissado, com a revista o desafio e a responsabilidade são maiores. A dificuldade em si é somente financeira (mesmo em se tratando de uma publicação sem fins lucrativos), pois a falta de apoio/patrocínios no momento impede que ampliemos nosso trabalho como gostaríamos.”
Felizmente isso se compensa com a aceitação dos leitores e da mídia especializada que tem elogiado muito a revista e sua equipe. Sérgio disse que “a cada edição a Café Espacial vem conquistando maior visibilidade, e é isso o que nos deixa cada vez mais motivados.”
Não é pra menos. Em uma primeira olhada é impossível não se encantar com o visual das histórias em quadrinhos. Nas três edições vemos que o nível artístico das HQ’s é muito grande. É interessante notar que não há um estilo ou tema predominando, são histórias bem curtas, mas que têm um padrão estético elevado. Segundo o editor, são todos artistas que ele encontrou no meio independente.
Mas não é só de quadrinhos que vive a Café Espacial, na verdade, a partir da terceira edição tem ficado mais claro que ela é uma revista independente que tem, entre outras coisas, quadrinhos.
Um dos grandes destaques da revista tem sido as entrevistas com bandas independentes e as resenhas de discos também independentes. A terceira, conta, por exemplo, com uma bela matéria com O Teatro Mágico, trupe performática que mistura cordel, música, circo e muito mais e, sem se ligar a nenhuma gravadora, possui uma verdadeira legião de fãs.
E assim, entre contos, análise de cinema, fotografia, ilustração e até espaço para poesia segue a Café Espacial, um mix muito bem editado, muito coerente e funcional.
NOTA: 8,0
* Zé Oliboni é editor do Pop Balões