Artista misterioso da eletrônica lança mais um disco genial e intrigante
BURIAL
Untrue
[Hyperdub/Flur, 2007]
Até onde um artista pode contribuir para aumentar o hype em torno de si? Burial sabe responder. Recluso, hermético e misterioso, o produtor não se apresenta ao vivo, não divulga sua identidade (cogita-se que menos de dez pessoas saibam que ele é de verdade) e raramente concede entrevistas. Sabe-se que é britânico e está na faixa dos 20 anos.
Depois de uma estréia aclamada, Burial retorna com Untrue, e nos questiona se sua distância dos holofotes da música pop não é algo necessário para a proposta musical ousada que desenvolve.
Untrue retoma o experimentalismo do primeiro disco homônimo, lançado pelo selo Hyperdub, especializado em dubstep, gênero relativamente novo, que tenta revitalizar a eletrônica buscando referências no jazz, soul e hip-hop. Mas o que garante o impacto maior em Untrue é mesmo sua atmosfera desoladora, suas batidas extremamente tristes e melancólicas. Alguns críticos já o chamaram de devastador.
Os estalos de vinil, os vocais soul angustiados e a textura orgânica de suas músicas tornam o disco intrigante. É complexo explicar o músico. “Endorphin” tem um vocal muito triste, como um lamento e um fundo tenso que esconde uma voz distorcida. Se não fosse tão limitador e sem sentido, poderíamos comparar Burial a certos momentos de Portishead ou mesmo Aphex Twin. Mas, sim, ele está distante. Talvez essa seja sua real intenção em se esconder: sua música é tão particular que leva a acreditar que o músico alimente idéias de pureza. Untrue intriga e provoca, mas também estabelece empatia com o ouvinte. É um disco para se ouvir sozinho. [Paulo Floro]
NOTA: 9,0