Mesmo num ano difícil de pandemia e desmonte de todas as políticas de financiamento do audiovisual promovidas pelo governo Bolsonaro, o Brasil conseguiu emplacar sete produções no Festival de Cannes, o mais importante do mundo, que este ano acontece de 7 a 17 de julho na Riviera francesa.
Dois longas com diretores brasileiros entraram na seleção. Em sessão especial, o documentário-ensaio “O Marinheiro das Montanhas”, de Karim Ainouz é um diário de viagem filmado na primeira ida de Karim à Argélia, país em que seu pai nasceu. O filme entrelaça a história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília (região montanhosa no norte da Argelia) e Fortaleza, cidade natal de Karim e de sua mãe, Iracema. Karim venceu a mostra “Un Certain Regard” em 2019 com o drama “A Vida Invisível”.
Na seção paralela Quinzena dos Realizadores, entrou “Medusa”, de Anita Rocha da Silveira. Inspirado no mito grego da Medusa, o filme reflete sobre a pressão que a sociedade impõe sobre as mulheres para serem perfeitas na história de Mariana, uma jovem obcecada por controlar cada aspecto de sua vida. É apenas o segundo longa da diretora, que foi premiada no Festival de Veneza com o suspense “Mate-me Por Favor” (2015).
Três curtas foram anunciados na seleção oficial do Festival – dois deles em competição pela “Palma de Ouro” de melhor curta: “Sideral”, de Carlos Segundo (uma coprodução com a França) e “Céu de Agosto”, de Jasmin Tenucci.
Na mostra “Cinéfondation”, que reúne curtas de estudantes de universidades de cinema do mundo todo, o Brasil apareceu com “Cantareira”, de Rodrigo Ribeyro, estudante da escola AIC (Academia Internacional de Cinema). O filme mostra a história de Bento e seu avô Sylvio, ambos com raízes profundas na Serra da Cantareira, mas em momentos diferentes de vida. Sylvio, interpretado pelo ator pernambucano Almir Guilhermino, contempla preocupado o atual estado da Serra, com o “avanço” à espreita do aspecto natural do lugar, já cicatrizado por lojas e estradas abertas em meio a mata. O jovem vive em São Paulo, solitário, envolto pela cacofonia da cidade grande. “Eu cresci na Cantareira, nesse lugar tranquilo, onde o tempo corre numa outra velocidade e onde o som colabora para um estado muito mais sereno”, diz o diretor. “Mudar para o centro de São Paulo, fazer amizade com os trabalhadores da região e perceber todas essas diferenças foi a faísca (para o filme)”.
Além destes cinco filmes de diretores brasileiros, o país também aparece na produção de outros dois longas. A brasileira RT Features, do produtor Rodrigo Teixeira, assina a produção do francês “Bergman Island”, de Mia Hansen-Love, que concorre à “Palma de Ouro”; e “Murina”, da croata Antoneta Kusijanovic, na Quinzena dos Realizadores.