Os Bonecos Gigantes de Pernambuco, um dos ícones mais representativos da cultura popular do estado, estão prontos para mais uma edição do Carnaval. O acervo, que homenageia figuras emblemáticas do folclore e da história pernambucana, passou por um processo de reconstrução e revitalização após os impactos da pandemia da Covid-19.
À frente desse trabalho está Luiz Carlos Filho, mais conhecido como Lulinha, produtor cultural, escritor e bonequeiro há 28 anos. Com um acervo composto por cerca de 80 bonecos gigantes, ele busca preservar e promover a cultura pernambucana por meio dessas figuras icônicas.
“Para mim, principalmente, porque venho de uma reviravolta muito grande, me reinventando num processo pós-pandemia com os bonecos gigantes. Mas, graças a Deus, me mantive firme e forte, e estamos aqui, renovando o nosso acervo, construindo e trazendo novas cores para o Carnaval e para as grandes festividades de Pernambuco, do Nordeste, do Brasil e do mundo”, disse Lulinha à Revista O Grito!.
Entre os homenageados deste ano estão nomes como Luiz Gonzaga, Chico Science, Jenny Valença, Lampião e Maria Bonita, Ariano Suassuna, além de símbolos folclóricos como os Caretas de Triunfo, os Papangus de Bezerros, os Caboclos de Lança da Zona da Mata e os passistas de frevo. “Na verdade, o grande homenageado dos bonecos gigantes de Pernambuco é a cultura popular pernambucana”, ressalta.
A pandemia trouxe desafios para o setor cultural, impactando diretamente a manutenção do acervo de bonecos. Lulinha relata que perdeu 19 bonecos gigantes feitos de papel machê, material que não resistiu ao mofo causado pelas condições climáticas e pela falta de recursos para a preservação. “Infelizmente, a pandemia causou danos significativos no mundo todo, em todas as profissões, em todos os lugares. A cultura foi duramente atingida. Fomos os primeiros a parar e os últimos a retomar”, lamenta.


Além das perdas materiais, a pandemia agravou as dificuldades financeiras dos artistas e produtores culturais. “Gritei bastante, não fui escutado. Vivi do auxílio emergencial, que veio como um aspirador de pó, sugando todo o nosso capital de giro, nosso acervo, nossa estrutura. Isso afetou profundamente o psicológico, a saúde mental”, relata Lulinha.
Para ele, um dos maiores desafios do pós-pandemia é a falta de incentivos para a cultura popular, que, segundo ele, ainda sofre com a baixa remuneração e o desinteresse do poder público e da iniciativa privada. “Os valores não estão sendo transmitidos de geração em geração como antes, e isso é muito triste e perigoso, pois se trata da nossa identidade, das nossas raízes”, ressalta.
Diante desse cenário, o processo de reconstrução do acervo se tornou um marco de resistência cultural. A nova geração de bonecos está sendo produzida em fibra de vidro, material mais durável e que permite traços mais precisos. “Criar novos personagens pensando na nossa cultura popular foi maravilhoso e gratificante, principalmente para esse novo start que estou simbolizando agora no pós-pandemia”, explica Lulinha. Além disso, bonecos antigos foram restaurados para voltar a ocupar as ruas e celebrar a cultura pernambucana.
Apesar das dificuldades, a retomada dos desfiles dos Bonecos Gigantes no Carnaval representa um momento de celebração para os foliões e para os artistas envolvidos. “Estou muito feliz em ver essa retomada, esse recomeço ganhando novamente as ruas, os bairros, as cidades, levando alegria aos foliões e turistas. É maravilhoso, é gratificante poder voltar a levar a cultura dentro da cultura”, comemora o bonequeiro.
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“O propósito de toda essa construção desse acervo é justamente enaltecer a nossa cultura popular cada vez mais, com amor, verdade e preservação das nossas tradições”, conclui.