Bixarte
Traviarcado
Independente, 2023. Gênero: Rap, Pop
Traviarcado, segundo álbum de estúdio de Bixarte – nome artístico de Bianca Manicongo – exalta a negritude e a vivência trans da artista com ritmo acelerado e inspiração nas religiões de matriz africana. O disco conta com colaborações de artistas negros e LGBTQIA+ que complementam os versos da rapper paraibana nas músicas que trazem versos sobre luta antirracista, vitoria de pessoas marginalizadas e batalhas diárias contra a opressão.
A artista foi um dos destaques do No Ar Coquetel Molotov, que aconteceu no sábado (21), no Campus da UFPE, no Recife. Veja a nossa cobertura completa.
Fazendo paralelos com o próprio trabalho de Bixarte em seu primeiro álbum, Faces, lançado em 2019, Traviarcado apresenta uma evolução da artista, tanto nos quesitos técnicos quanto artísticos. A produção deste disco entra em um território muito mais profissional, com uma presença forte do pop junto ao rap e uma coesão sonora que liga as músicas com batidas do afrobeat. Há também um verniz pop muito evidenciado, com produção sofisticada do DJ e beatmaker paraibano Big Jesi e o paulista Sanvtto.
Ainda que as temáticas nas composições sejam muito parecidas, com referências às religiões de matriz africana, à cultura nordestina e a história das pessoas trans e travestis no brasil, a coerência nos versos é maior, além da maturidade de Bianca em passar a mensagem de sua música.
Com falas de rebeldia ao padrões sociais e uma quebra das expectativas da vida de uma travesti no Brasil, as rimas de Faces, comparadas as de Traviarcado, soam rasas e carregadas por significados que parecem montados e pré-concebidos. Bixarte parece aprofundar os significados de suas composições, com mais detalhes, cadência, letras mais subjetivas, tudo carregado por uma interpretação de muita personalidade.
As parcerias são outro ponto alto no álbum. Os artistas escolhidos para colaborar com os versos da poetisa paraibana somam à rebeldia e ao orgulho proclamados nas letras. A faixa “Carta De Advertência”, com os rappers WinniT e Julian Santt – ambos homens trans – justifica o título e soa como uma carta carregada de desabafos da comunidade trans ao resto da sociedade brasileira. Já a divertida “Pitbull Sem Coleira”, com Urias, é um batidão com levada funk que certamente entrará como um dos pontos altos do pop brasileiro esse ano.
Traviarcado se mostra como resultado da evolução da rapper, que parece entender mais sobre si e sobre as suas experiências, ao mesmo tempo em que consegue explorar bem as possibilidades do rap.