Beau Tem Medo
Ari Aster
EUA, Finlândia e Canadá, 2023, 2h59, 18 anos. Distribuição: Diamond Films
Com Joaquin Phoenix, Patti LuPone e Amy Ryan
Em cartaz nos cinemas
Conhecido como o diretor por trás dos brilhantes e perturbadores Hereditário (2018) e Midsommar (2019), Ari Aster se consolida hoje como um dos nomes mais expressivos do gênero de terror psicológico no cinema. Em seu terceiro filme, Beau Tem Medo, mais uma produção da A24, ele tenta alçar novos voos em uma narrativa que flerta com camadas cômicas para criar uma fábula de terror bizarra que passeia pelos pesadelos e delírios de um homem ansioso e paranoico.
Interpretado por Joaquin Phoenix, o protagonista Beau Wassermann mora em uma região em plena convulsão social, com cadáveres espalhados pela rua e assassinos à solta. Ele está sujeito a todo tipo de violência e brutalidade na porta de casa e como se não bastasse, o prédio onde reside está caindo aos pedaços: o elevador solta faíscas ao abrir as portas e uma infestação de uma espécie de aranha venenosa toma conta do imóvel. Tudo que o ronda é um caos aterrorizante e motivos não faltam para que Beau sinta medo.
Mas os eventos ganham outra dimensão quando, prestes a partir em viagem para visitar sua mãe, com quem mantém uma relação complicada e nada saudável, ele se vê envolvido em uma série de situações inusitadas, para dizer o mínimo. Ao perceber que sua mala e as chaves de casa foram roubadas no corredor do prédio, Beau inicia uma odisseia caótica com estranhos invadindo seu apartamento e um atropelamento que o leva à casa de uma família desconhecida (núcleo vivido por Amy Ryan, Kylie Rogers, Nathan Lane e Denis Ménochet).
Mas nem tudo é o que parece ser e, a partir de um certo ponto, o espectador passa a desconfiar do que está testemunhando. É o já conhecido jogo de dualidade entre projeção/delírio e realidade, mas que em Beau Tem Medo ganha outra escala com uma sobreposição de possibilidades e camadas que é elevada à enésima potência – e embora nem sempre isso esteja bem articulado ao longo das três horas do filme, ainda assim produz um resultado minimamente curioso que permite ao longa transitar habilmente entre um surrealismo sombrio e um riso auto piedoso.
Dessa forma, Aster nos arrasta para um funil de medos, ansiedades e ressentimentos de um homem de meia-idade inseguro e incapaz de tomar as rédeas da sua vida. Se por um lado vamos ganhando noção de que nem tudo é o que está mostrado na tela, somos simultaneamente envolvidos pela sede de desvendar mais sobre as profundezas e obscuridades desse personagem. Uma tentativa que muitas vezes é frustrada já que o diretor e roteirista nunca entrega respostas óbvias – e que bom!
Mas é no ato final que a trama atinge seu ápice, com o imponente confronto entre Phoenix e a magnífica Patti LuPone, que interpreta no presente Mona Wassermann, a mãe de Beau. O embate se torna em um monólogo poderoso, concentrando para si grande parte do peso que o segundo ato do filme não consegue entregar. Portanto, por mais não seja o melhor trabalho do diretor até aqui, ainda assim mexe com as emoções e angústias e faz valer a ida ao cinema.
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