Batucada Tamarindo
Olóri – Agbáyé
Fervo Produções, YB Music | 2025
Há algum tempo que “ancestralidade” e “raízes” se tornaram termos bem frequentes na música brasileira – do mainstream ao alternativo -, com recortes temporais e territoriais diversos, mas quase sempre seguindo a lógica de o ancestral existe como uma relíquia, sem ser tocada ou adaptada ao contemporâneo.
Em vez disso, o grupo Batucada Tamarindo trata sua ancestralidade como matéria sob a qual se constrói algo novo. Olóri – Agbáyé, segundo álbum do grupo, tira inspiração das manifestações populares da Zona da Mata de Pernambuco – sobretudo o Maracatu Rural – e as reveste com grooves, instrumentos eletrônicos, instrumentos de corda elétricos e percussões, ao mesmo tempo que todos esses elementos modernos incorporam os pontos de jurema cantados pelas mestras populares. É seguindo por esse caminho que o grupo desvia do pastiche e acaba expandindo a compreensão do que é ancestralidade e como abordá-la.

Inclusive, a participação das mestras e o uso dos pontos também evidenciam a relação inseparável entre o maracatu e as religiões afro-brasileiras. Ao intensificar o caráter ritualístico que ancora o maracatu, o disco acrescenta nuances e significados que passam despercebidos pela grande maioria, que vê apenas pela perspectiva folclórica.
Ao longo das oito faixas, todas feitas através de colaborações e participações especiais, também fica claro que o Batucada Tamarindo faz música de forma horizontal, colaborativa, sem a centralização na figura do autor ou do vocalista, o que contribui para a o fluxo de inspirações e os diferentes momentos construídos no disco pelos integrantes do grupo através das suas participações revezadas.
Olóri – Agbáyé reformula como a ancestralidade pode ser abordada, menos como algo cristalizado e mais como algo a ser aproveitado e referenciado, uma forma de produzir cenários diferentes para se entender tradições.



