CONTRARIANDO A LÓGICA COM FEITIÇARIA
Aurélia Thierrée é quem comanda espetáculo que troca encenação por ilusionismo e pirotecnia mecânica para o encantamento do público
Por Fernando de Albuquerque
L’ORATÓRIO D’AURÉLIA
Aurélia Thierrée & Victoria Thierrée Chaplin
Teatro da UFPE – 28 de junho
É brincando com o tempo que Aurélia Thierrée conduz ao fim seu próprio espetáculo. Primeiro ela retira um concerto de relógios de todas as épocas (de um mítico cuco com passarinho verde àquele cassio digital que foi sinônimo de pura modernidade). Na sequência se transforma em um relógio de areia em que encarna, literalmente, o tempo. Nesse exato momento a platéia está completamente tragada pela apresentação que subverte a ordem da própria gravidade e nos conta uma estória que não tem início e fim, ou que possua um território demarcado. No palco ela concretiza aquilo que é puramente fantasmagoria do imaginário ao colocar, por exemplo, um homem que caminha com a própria sombra em carne e osso.
Mas apesar de assinar criação e direção com su mamá, Victoria Thierrée Chaplin, Aurélia divide o palco com mais três atores. Jamais faria aquilo sozinha e sem auxiliares. Ela lança mão de uma miríade de recursos mecânicos e cenotécnicos para levar o espetador ao estado de suspensão. O mesmo ocorre com as linguagens. Circo, teatro de luz negra, boneco, mímica, dramática, clown, teatro e dança e o escambau gigante de técnicas de apresentação estão expressos em seu oratório. No entando, uma cisma paira no ar. Tal como um filme estilinho blockbuster, repleto de gêneros mixados para fazer o público rir e chorar ao mesmo tempo, será que a única idéia do Oratório de Aurélia é capturar o espectador e agregar pagantes? A narratividade não apresenta o menor resvalo de um objetivo demarcado que não seja o de encantar. Cumpre com seu papel…mas deixa uma pulga atrás da orelha, pois com seus olhinhos puxados e nariz construído pelo bisturi, Arélia tem uma cara nada simpática.
No palco os objetos de cena se deslocam, as cortinas bailam como bailarinas do Egito antigo, os panos suspendem a intérprete à alturas, roupas caem do teto e tornam-se par de uma contradança nada benéfica. E são justamente esses recursos que fazem L’Oratório D’Aurélia uma grande gangorra entre o sonho e o pesadelo. O domínio da técnica, com exercício da precisão e da sincronia das cenas, por parte de Aurélia e Victoria mostram que é possível tecer no mesmo tablado diferentes estéticas, sem ressaltar uma ou outra.Tudo aparece com plena organicidade e em favor de uma construção poética.
A apresentação é composta por oito atos, sem continuidade de roteiro. E entre eles não há nada no começo, ou no fim. Talvez, nem mesmo no meio. E nada de diálogos também. A tensão em torno do porvir é o que mantém a platéia atenta durante os exatos 75 minutos do espetáculo. Excentuando alguns breves cochilos.
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