Música boa é que ressoa
A música em 2018 fortaleceu diversas tendências que já vinham crescendo desde o ano passado, como o R&B independente, as novas sonoridades do rap, o pop falado em espanhol, a força da música instrumental, a renovação da cena pernambucana, entre outros. Mas talvez a maior e mais importante tendência tenha sido o modo como utilizamos a música e como ela ressoa no que acontece ao nosso redor.
A ressonância social de trabalhos como o de Janelle Monáe, Rosalía, Baco Exu do Blues, Djonga e vários outros, só aumentou a relevância cultural desses artistas. Já Ariana Grande, Empress Of, Robyn e Soccer Mommy utilizam seus trabalhos como forma de tratar a própria saúde mental, seja expurgando traumas, seja potencializando questões identitárias e de sexualidade. O modo como isso chega aos nossos ouvidos – e o afeto que conferimos a essas músicas – é algo poderoso.
Para quem acompanhou 2018 sabe como foi difícil chegar a essas 50 melhores músicas. Na nossa playlist atualizada durante o ano todo reunimos mais de 500 faixas, brasileiros e estrangeiros, de diversos gêneros. Aproveita para seguir nosso perfil no Spotify e aqui a playlist para ouvir todas as faixas da lista.
50
Maria Beraldo – “Tenso”
Maria Beraldo jogou toda tensão e angústia nesta faixa que oscila entre o experimental e o pop, mas com forte espírito punk. Multi-instrumentista, ela é um dos destaques da nova cena nacional e colabora com artistas como Iara Rennó, Elza Soares e Itamar Assumpção. “Tenso” é uma faixa com uma bela interpretação e com diversas camadas de arranjos o que atiça o ouvido a cada nova audição.
49
Liniker e os Caramelows – “Lava”
“Lava” marca um retorno de Liniker, que soltou ótimos singles neste ano que passou e que deve lançar um aguardado disco novo em 2019. É uma música que explora todo o potencial de sua voz ao mesmo tempo em que é densa, sensual e carregada de dramaticidade. Certamente um dos seus melhores momentos.
48
Alex Anwandter – “Locura”
O chileno Alex Anwandter fez um disco de dance-político em Latinoamericana, seu novo álbum. Com uma faixa carregada de house, jazz e elementos da música tradicional latina, esse hit apenas confirma a ótima fase que vive o pop latino atualmente. “Locura” é dançante como se tivesse saído de um clube dos anos oitenta e trata de questões muito particulares de nós, latinos, de maneira muito verdadeira.
47
Ella Mai – “Boo’d Up”
Esta cantora inglesa de 24 anos se apega ao R&B dos anos 1990 para criar canções, com este hit de 2018, “Bood’Up”, em que ela aborda a ansiedade que envolve a descoberta de um novo amor. A faixa também joga com camadas e movimentos, ao manter uma batida típica de balada ao fundo ao mesmo tempo em que coloca a voz de Ella em uma cadência animada. Como nos relacionamentos, vivemos essa dualidade entre chorar e sorrir.
46
Soccer Mommy – “Your Dog”
Primeiro single do disco Clean, “Your Dog” traz a vocalista Sophie Allison revelando tudo o que passou enquanto estava em um relacionamento abusivo. O clipe traz a cantora dançando com seu corpo morto de seu companheiro, que, segundo ela, remete a uma retomada de forças após anos de paralisia. O indie rock da faixa traz arranjos singelos para abordar um tema árido e a interpretação de Allison une tudo com maestria.
45
Mestre Anderson Miguel – “No Hoje e na Hora”
O Mestre Anderson Miguel, de apenas 23 anos, fortalece a tradição do maracatu rural ao trazer diversos elementos do pop em seu disco Sonorosa. Natural da Zona da Mata de Pernambuco, ele carrega com orgulho as referências do ritmo para novas gerações, ao mesmo tempo em que cria uma personalidade artística muito própria.
44
Azealia Banks – “Anna Wintour”
Azealia Banks esteve no Brasil este ano e acabou se envolvendo em diversas controvérsias, polêmicas, brigas. O mesmo aconteceu nos EUA, onde também se viu nas manchetes por “n” motivos. O que todos na verdade deveriam estar comentando, na verdade, é sua música, que vem encontrando um espaço vago de divas house, caso dessa “Anna Wintour”. Explorando o encontro do pop farofa, do house e ainda mostrando toda a força do seu gogó, esta faixa é um hino instantâneo LGBTQ feito para derrubar qualquer boate.
43
E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante – “Daiane”
O álbum de estreia do E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante é repleto de bons momentos, mas essa “Daiane” resume bem o álbum (ainda que seja uma das poucas faixas nem os títulos enormes, que adoramos). Ela tem diversas camadas, traz um instrumental que evita os chavões e conduz o ouvinte por diversos momentos emotivos, como se estivéssemos em um filme. Este é um dos destaques da música instrumental este ano.
42
Luiz Lins Part. Diomedes Chinaski e MatheusMT – “Compassas in Copacabana”
Luiz Linz e Diomedes Chinaski são os destaques do rap pernambucano em tempos recentes. Eles seguem com a proposta de mudar o paradigma do hip hop concentrado no Sudeste, iniciado com “Sulicídio” (caso de Diomedes) nesta “Compassas in Copacabana”, uma faixa gangsta que bate contra o preconceito de origem.
41
Pabllo Vittar – “Problema Seu”
Pabllo Vittar aproveitou o bom momento para lançar um disco bem redondo, sofisticado e repleto de hits. “Problema Seu” se aproxima do axé para fazer uma faixa dance-house talhada para as pistas de dança. Como uma das personas artísticas mais famosas do Brasil, despertando amor e despeito (por parte dos conservadores), Pabllo parece mandar um recadinho para quem ainda relativiza seu sucesso: “problema seu”.
40
Ava Rocha – “Joana Dark”
Ava Rocha segue antropofágica e apresenta seu novo single em que explora xamanismo, maconha, cultos afro-brasileiros e funk carioca em uma faixa que remete à lenda de Joana D’Arc, uma das mais famosas mulheres a lutar contra o que lhe foi imposto. Com jogo de palavras, rimas cheias de punch e tom ritualístico, essa música também explora uma nova sonoridade para Ava.
39
Cuco Part. J-Kwe$t – “Summer Time High Time”
Saído diretamente das playlistas de músicas para ouvir chapado em 2018, essa “Summer Time High Time” traz Cuco em seu melhor momento. O artista americano-mexicano explora trap e R&B nessa faixa sobre passar o tempo com seu crush. Mas tem como destaque também por adicionar a identidade latina a um sub-gênero tão popular.
38
Beach House – “Dark Spring”
Os reis do dream-pop Beach House voltaram este ano com um excelente trabalho, 7, mas decidiram não surfar no conforto já alcançados como ícones de seu gênero musical. Ao contrário, decidiram explorar novas paisagens sonoras, caso desta pesada “Dark Spring”, em que apostam num som bem mais soturno e experimental que trabalhos anteriores. A faixa entra para a lista de melhores músicas da dupla.
37
Duda Beat – “Bédi Beat”
Fincada no romantismo indie-rock, a pernambucana naturalizada carioca Duda Beat retomou uma tradição do pop brasileiro do cancioneiro romântico. “Bédi Beat” fala de relacionamento, mas com ironia e ainda questiona como a ansiedade entra no jogo do relacionamento. “Eu vivia à flor da pele e nem percebia / Que das vezes que eu ria, era vontade de chorar”, diz a cantora, ainda com o forte sotaque de Pernambuco conservado.
36
Fabiana Palladino – “Shimmer”
A inglesa Fabiana Falladino faz uma música eletrônica muito influenciada por Joni Mitchell, Kate Bush e Todd Rundgren. Essas referências que se afastam do house tradicional lhe dão um sabor diferenciado em relação ao que está sendo feito hoje na dance music. “Shimmer” traz produção de Jai Paul, o recluso e inovador produtor britânico que, ao lado do irmão Anup, formam o Paul Institute, espaço dedicado à inovação no pop com sede em Londres.
35
Torre – “O Rio Aos Olhos Dela”
Uma grata surpresa do indie-rock pernambucano em 2018 foi o disco da banda Torre. “O Rio Aos Olhos Dela” serve bem para resumir o estilo do grupo, que aposta em uma interpretação cuidadosa e um instrumenta detalhado que leva o ouvinte a um espaço intimista, repleto de sensorialidade. Vale a pena ouvir o álbum inteiro da banda, repleto de bons momentos.
34
Teyana Taylor – “Rose In Harlem”
Parte da leva de discos produzido pelo prolífico Kanye West este ano, “Rose In Harlem” dá o destaque merecido à Teyana Taylor, dona de uma das vozes mais potentes do hip hop atual e cuja interpretação ressoa uma emoção quase instantânea no ouvinte. Com sample de “Because I Love You Girl” do The Stylistics (1974), a faixa fala de se reencontrar com suas raízes, de sua comunidade, no que isso tem de bom e ruim.
33
Barro – “Fogo Tenaz”
Barro é um dos principais nomes do pop nacional e sua música conserva uma ligação muito forte com suas raízes pernambucanas, o que o coloca em uma posição de destaque, com um sabor único que o diferencia do que está sendo feito hoje no gênero. Seu novo disco tem tantos bons momentos, mas certamente um dos melhores é “Fogo Tenaz”, tanto pelo apelo popular que possui, quanto pelos arranjos que fazem a música perdurar na cabeça horas depois de ouvi-la.
32
Glue Trip – “Time Lapses”
Cantada em inglês esta faixa tem tudo o que caracteriza uma faixa dos paraibanos do Glue Trip: vozes com delay, batidas eletrônicas, violão de nylon e um clima etéreo que convida o ouvinte a embarcar em uma viagem sonora sem muitos percalços. O clipe traz ainda um clima de road-movie, com estética vintage, que casa bem com a música.
31
Pusha T – “If You Know You Know”
DAYTONA tem sido vendido como um clássico instantâneo do rap. Talvez. Mas o que se sabe é que Kanye West (produtor) conseguiu explorar todo o potencial de Pusha T neste trabalho cheio de bons momentos. “If You Know You Know” com sua pegada dance meio experimental traz letras que remetem ao passado gangster de Pusha ao mesmo tempo em que trazem referências do pop cosmopolita de West.
30
Ariana Grande – “no tears left to cry”
Este foi um ano incrível para Ariana Grande. “no tears left to cry”, principal single do seu disco Sweetener é um daqueles hinos pop feitos para causar um impacto inicial estrondoso logo nos primeiros acordes. Todo feito num tom bastante alto, a faixa também esconde nuances, com uma produção que serve sobretudo para dar destaque à voz de Ariana e sua necessidade de superar seus traumas.
29
MGMT – “Me and Michael”
O MGMT é uma dupla bem bissexta na música indie. Lança hits improváveis de tempos em tempos quando a gente menos percebe. Mesmo que seus discos não se tornem tão memoráveis quanto hits como “Kids”, “Time To Pretend” e agora esse “Me and Michael”, eles provam que seguem explorando as inovações do pop em faixas que surpreendem a cada acorde.
28
Jay Rock, Kendrick Lamar, Future e James Blake – “King’s Dead”
A trilha sonora de Pantera Negra é uma belezura, mas “King’s Dead”, tema do personagem Killmonger, é a mais interessante e ousada do álbum. Começa que se trata de um rap experimental em uma trilha de filme de super-herói, que tende a caminhar por espaços mais seguros, musicalmente falando. Enquanto faixa isolada ela é um dos melhores momentos de Jay Rock ao explorar elementos como repetição e mudança de ritmos. Impossível ficar impassível diante disso aqui.
27
Romero Ferro – “Acabar a Brincadeira”
Romero Ferro encontrou uma identidade sonora muito particular em 2018 ao explorar um cantinho do pop que agora pode chamar de seu: o brega newwave. Com produção de Patrick Tor4, “Acabar a Brincadeira” explora elementos oitentistas ao mesmo tempo em que traz a cara local bem característico do som de Romero. A faixa traz letra sobre relacionamentos abusivos e uma interpretação primorosa do músico, que remete ao melhor do cancioneiro romântico pernambucano, mas com pegada bem moderna.
26
BK – “Deus do Furduço”
Parte do disco conceitual de BK lançado este ano, “Deus do Furdunço” segue falando sobre pobreza e desigualdade social. Aqui o rapper explora a sonoridade do samba-rock em uma letra em que se coloca como uma entidade que preza a esbórnia e excesso, um desafio para o cara da quebrada que só quer seguir com a vida.
25
Karol Conká – “Vogue do Gueto”
O aguardado novo disco de Karol Conká, Ambulante, finalmente saiu e reforça seu estilo que une rap com batidão. A produção de Bo$$ In Drama, que muitos torceram o nariz por se tratar de alguém alheio ao hip hop, fez um trabalho incrível ao unir diversas referências dance ao vocal potente de Conká. Caso desta “Vogue do Gueto”, que une funk carioca e house para enaltecer as batalhas vogue da perifa.
24
The Carters – “APESHIT”
A simples existência do casal Beyoncé e Jay Z já suscita diversos comentários sociais sobre poder, negritude e fama. E quando eles decidem lançar um disco que reforça (e discute) essa relevância e ainda fazem isso com um clipe dentro do Museu do Louvre, um espaço tradicionalmente elitista e branco? Por tudo isso, “APESHIT”, é um marco por levar todas essas discussões a um nível muito elaborado. Sem falar que é um dos melhores momentos da fase atual de Beyoncé, tanto nas letras quanto na interpretação vocal (e ainda tem ela fazendo rap, o que é incrível).
23
U.S. Girls – “Pearly Gates”
MEssa faixa cheia de ironia faz um comentário aos comportamentos sexuais abusivos por parte de homens poderosos, que foi um dos temas urgentes deste 2018. A letra fala de uma mulher que acaba de falecer tendo que fazer sexo com São Pedro para poder adentrar aos céus. Na sonoridade, “Pearly Gates” traz um clima de suspense misturado a uma batida dançante, o que reforça o tom de sátira.
22
Elba Ramalho – “Calcanhar”
Elba Ramalho lançou um dos melhores discos de sua extensa carreira neste O Ouro do Pó na Estrada, que reforça seu estilo e suas raízes, mas ao mesmo tempo olha para a estrada adiante com diversas sonoridades. “Calcanhar”, uma das melhores faixas do disco, traz um diálogo interessante entre a guitarra pesada e o forró.
21
Travis Scott Part. Drake – “SICKO MODE”
Travis Scott lançou o disco mais bem-sucedido deste ano, com diversas faixas nas paradas da Billboard. E fez isso com um trabalho bem sofisticado, conceitual. Nessa música “SICKO MODE”, o rapper chama Drake para um enaltecimento do seu estilo excessivo, o tal “sicko mode”, com diversas viradas de ritmo e rimas pesadas.
20
Drake – “Nice For What”
Drake foi novamente onipresente este ano. Seu disco Scorpion, longuíssimo, parecia se apoiar em um estilo de produção bastante seguro do rapper, mas algumas faixas se sobressaíam, caso desta “Nice For What”, que traz sampler de Lauryn Hill. Mais do que uma faixa de verão, essa música confirma o incrível talento de Drake em unir seu carisma e rimas a uma produção moderna e viciante.
19
Peggy Gou – “It Makes You Forget (Itgehane)”
A sul-coreana radicada em Berlin, Peggy Gou, largou a moda para se dedicar à música. Seu primeiro EP se destaca por apostar em novas referências para propor um dance cheio de ironia, desconstruído. “It Makes You Forget” tem variações de tom, mudanças de arranjos repentinos e surpreende a cada minuto.
18
Carne Doce – “Amor Distrai (Durin)”
Salma Jô explora novos tipos de sensualidade no novo disco da Carne Doce, que explora, entre outros temas, o corpo feminino e suas representações. A faixa segue com a proposta da banda em fazer comentários sobre questões ligadas ao feminismo. “Amor Distrai” é um libelo contra a tentativa de cercear o corpo das mulheres, as regras criadas por homens. Uma elegia ao gozo, alto e claro.
17
Noname – “Self”
Trafegando entre a poesia e o rap (e ignorando seus limites), a Noname criou uma cadência muito particular que a distancia de tudo o que foi feito no gênero este ano. A sua música ainda traz temas relevantes como violência, política e religião. A curtinha “Self” é a melhor faixa do seu disco, Room 25, que é um dos melhores exemplos de como o hip hop vem experimentando novas referências.
16
Troye Sivan – “My My My”
2018 foi um ano incrível para artistas LGBTQ (Years & Years, CupKakke, Janelle Monáe, Pabllo Vittar, etc) e Troye Sivan fez parte desse momento incrível. “My My My” é seu hit maior e traz um artista muito seguro de suas escolhas e que prega a positividade, celebrando a existência. A faixa tem uma batida viciante e é um dos melhores exemplos de como o dance também pode render catarses.
15
Empress Of – “When I’m With Him”
A norte-americana Empress Of fortaleceu o seu senso de comunidade latina em músicas que abordam a solidão, inadequação, além de questões ligadas a relacionamentos, sempre com um olhar muito particular. “When I’m With Him”, é uma faixa dançante sobre se apaixonar e que traz letras em inglês e espanhol, cada um com uma cadência diferente.
14
The 1975 – “Love It If We Made It”
A banda The 1975 lançou um dos mais sofisticados discos de rock este ano e fez isso com a revitalização das bases que fazem o gênero tão popular. Essa música carrega aquele estilo de hino, em que todo mundo canta junto em coro uníssono levado pela cadência das batidas. É uma das faixas com a letra mais atual ano, tratando de temas como imigração, violência policial e falência do sistema prisional.
13
Tuyo – “Terminal”
O trio paranaense Tuyo explora em sua música sonoridades como o R&B, dream-pop e o synth pop, mas as letras em português da banda parecem criar um espaço todo novo para esses gêneros. “Terminal” resume bem o som do trio, que traz experimentações vocais interessantes e letras duras que contrastam com a levada da música.
12
Cardi B Part. Bad Bunny e J. Balvin – “I Like It”
Cardi B abraçou suas raízes latinas no seu maior hit de 2018 (quase superando “Bodak Yellow), “I Like It”. Ela chamou um dos maiores nomes do pop latino, J Balvin, o que deu ainda mais relevância a essa faixa, que tem tudo para ser tão histórica quanto “Despacito”, quando a olharmos com distanciamento histórico. É o encontro do rap novaiorquino tradicional com ritmos caribenhos, azeitados por uma produção super sofisticada.
11
cupcakke – “Crayons”
CupcaKke quebrou todas as regras com seu disco Ephorize ao falar de sexo sem rodeios e questionar o lugar da mulher no rap. “Crayons” é tão direta e expansiva que é impossível não sentir seu impacto nos primeiros acordes. Dê o play apenas se aguentar o tranco.
10
Snail Mail – “Pristine”
Uma jovem cantora de 19 anos foi a responsável por revitalizar o indie-rock em 2018. E fez isso abrindo o coração em letras bastante confessionais levadas por suas guitarras criadas na cartilha de lendas como Sonic Youth e Patti Smith. Como diversas outras faixas do disco de estreia, Lush, “Pristine” é uma carta endereçada a um ex-amor, aqui em uma tentativa de expurgo de um sentimento de perda. Um dos melhores momentos do rock, justo quando o gênero começa a ser redescoberto.
09
Janelle Monáe – “Make Me Feel”
Janelle Monáe se inspirou em Prince, que aqui aparece tanto quanto guia musical quanto emotivo, para uma faixa que celebra a sexualidade plena, o fim dos rótulos, a positividade sexual. Monáe fez um disco conceitual que denuncia os perigos de cercear as diferentes identidades de gênero e esta faixa é a melhor representante da proposta da artista. Musicalmente Janelle está ainda mais sofisticada e segue ampliando as fronteiras de seu R&B, agora muito calcado no rock e no dance dos anos 1970. Um primor pop que ressoa diversas questões sociais do nosso tempo ao mesmo tempo em que bota todo mundo pra dançar.
08
bule – “Coro”
A banda pernambucana bule é uma surpresa ainda a ser conhecida por mais pessoas. “Coro” reforça o talento desses jovens músicos para criar uma identificação instantânea no ouvinte a partir de um som difícil de ser categorizado. Por isso nos apegamos ao estilo dito por eles mesmos, “pop buliçoso”, algo que é viciante à primeira batida, psicodélica e com letras nonsense que parecem ter saído de um fluxo de consciência.
07
Mitski – “Nobody”
A norte-americana Mitski faz um som minimalista, preciso, onde cada acorde e nota parece ter sido colocado com uma pinça. Tanta disciplina serve, curiosamente, para carregar letras cheias de emotividade, de peito aberto. “Nobody” carrega uma batida dance animada misturada a um refrão roqueiro meio soturno para falar de alienação e estranhamento que sentimos quando nos deparamos em um espaço estranho, em uma situação de desolação, seja por um fim de relacionamento, seja por ambiente desconhecido.
06
Ariana Grande – “thank you, next”
Ariana Grande atingiu um patamar acima no pop atual. Ela já vinha explorando seu vocal poderoso com faixas superproduzidas que fugiam do óbvio da indústria pop, mas este ano ela deu uma guinada maior em direção ao R&B. “thank you, next” é seu modo de superar traumas de 2018 e é endereçada aos seus ex. Mas, ao contrário de músicas de superações tradicionais, aqui ela transforma o rancor em cura ao tratar de seu passado com afeto e maturidade. Uma faixa de empoderamento que todos podem se relacionar e que reafirma Ariana como um dos maiores talentos do pop hoje.
05
Robyn – “Honey”
“Honey” segue a tradição musical de Robyn em fazer da pista de dança um espaço terapêutico. Dançar para se livrar das agruras, o que fortalece uma das tendências da música pop ouvidas este ano. Com um batida dance que remete ao clássico “Dancing on My Own”, a cantora sueca, que fez seu retorno este ano, faz um hino sobre se valorizar.
04
Djonga – “A Música da Mãe”
O rapper mineiro Djonga segue mirando os racistas nesta faixa “A Música da Mãe”, que saiu como single após lançar o novo disco O Menino Que Queria Ser Deus. Aqui ele questiona a fama e o sucesso, o fato de ser aceito como um legítimo representante do que seria um artista bem-sucedido, mas ao mesmo tempo ter que lidar com o preconceito de ser um jovem negro no Brasil atual. É também uma faixa de reflexão sobre família, valores e desigualdade social que talha o fazer artístico.
03
Baco Exu do Blues – “Bluesman”
“Tudo o que era preto e do demônio e depois virou branco e foi aceito, eu vou chamar de blues. Entenda: Jesus é blues”, diz Baco Exu do Blues na faixa que dá nome ao seu novo álbum, lançado no final de 2018. Para ele “Bluesman” é o negro que não aceitou ser comandado, explorado e categorizado. Faixa bastante direta e com forte inspiração R&B, a música soa como uma maneira de lidar com a depressão, um trato à saúde mental da população negra e pobre, libelo contra a opressão, uma injeção de auto-estima que todos precisam nas vésperas de um 2019 que parece tenebroso.
02
Elza Soares – “O Que Se Cala”
Depois da aclamação de A Mulher do Fim do Mundo, Elza Soares retorna dizendo que não vai se calar. Que vai seguir sendo a melhor representante de um pop que se insurge e se propõe a debater um país sem violência, boa para todxs. Aqui ela levanta sua voz com um tom de punk-rock neste samba de Douglas Germano que o produtor Guilherme Kastrup remodelou para soar bem pesado e que contou com a colaboração dos coprodutores Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos. “O meu país / é o meu lugar de fala”, canta Elza, potente.
01
Rosalía – “MALAMENTE – Cap.1: Augurio”
A cantora pop Rosalía uniu a tradição flamenca com o pop contemporâneo em “Malamente”, primeira faixa do seu ótimo disco El Mal Querer, lançado este ano e que traz um trabalho conceitual sobre uma mulher presa em um relacionamento abusivo, mas que se liberta. A artista olha o pop como uma forma de transformar a tradição em algo inovador e atual. Ao contrário de muitos artistas, que usam referências tradicionais como um verniz ou como uma “vitamina” para um som pop convencional, Rosalía coloca o flamenco como um ritmo vivo, um potência criativa que ganha destaque em toda a faixa. Mas às palmas e entonação vocal tão tradicionais do ritmo ela insere arranjos de trap, subgênero do rap e também do dance (na base cadenciada). Um trabalho minucioso de produção assinada pela própria cantora e pelo produtor espanhol El Guincho.
Aqui a playlist completa!
Foto de abertura: Montagem sob foto de Janelle Monáe para JUCO/Arts&Motion/Divulgação.
Colaboraram na lista: Paulo Floro, Alexandre Figueirôa, Tulio Vasconcelos, Rafaella Soares, Éber Pimenta, Isabella Caldas.