As músicas mais inventivas, divertidas, originais, experimentais, combativas e viciantes que marcaram o ano. Do protesto de Linn da Quebrada ao soul queer de Frank Ocean, passando pelo pop do Mali, angústia juvenil de Lorde, a boa fase do rap brasileiro e muitas surpresas. E como já é tradição colocamos na mesma lista brasileiros e gringos, pois como sempre dissemos, música é música.
Edição: Paulo Floro e Fernando de Albuquerque
Ouça a playlist com todas as faixas no Spotify.
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Frank Ocean part. Jay Z e Tyler The Creator – “Biking“
Através de metáforas sobre bicicletas, Frank Ocean fez uma música sobre as reviravoltas da vida, sobre manter o controle mesmo quando tudo parece perdido e também sobre ser/estar livre. Há diversas referências sobre celebridades do mundo das bikes, magrelas clássicas e equipamentos. Meticuloso como sempre, Ocean uniu em uma base cheia de textura elementos de piano e violão, o que acaba “anunciando” as participações especiais de Jay-Z e Tyler, The Creator. A faixa saiu após o sucesso de Blonde, disco do músico do ano passado e foi uma das muitas canções que ele soltou este ano. | Ouça.
49
DJ Khaled com Rihanna e Bryson Tiller – “Wild Thoughts”
Hoje um dos nomes mais poderosos daquela intersecção lucrativa da indústria pop com o rap, DJ Khaled é um produtor com um ouvido aguçado para unir refrões pegajosos e batidas viciantes. A presença de Rihanna, com seu tom altíssimo, uma base safada de guitarra, uma levada dance e rimas de Bryson Tiller, temos aqui uma das faixas mais dançantes deste ano. | Ouça.
48
Tyler The Creator com Rex Orange County e Anna of The North – “Boredom”
Tyler The Creator chegou todo desconstruído em 2017, o que pode ser visto nesta “Boredom”, um rap que soa como uma revisão de várias coisas que ele fez tanto em sua carreira solo quanto em seu grupo, o The Odd Future. A base melancólica/saudosista soa como uma carta de amadurecimento e seus vocais estão menos monocórdicos. Mas o que faz dessa canção é uma pérola do rap é como ela une versos mais elaborados com diversas mudanças de arranjos e viradas. “Ache algum tempo para fazer algo de útil”, diz o novo Tyler, mais solitário e maduro, mas também mais criativo. | Ouça.
47
Pabllo Vittar – “K.O.”
Quem critica Pabllo Vitar, sobretudo pelo que ela tem de mais popular, está do lado errado da história. Nossa culpa e vergonha em fazer sucesso lança ressalvas em qualquer estrela que se projete com força dentro do pop. Pabllo está no futuro de uma música genuinamente popular que se pretende inovadora e contagiante. Une forró, ritmos do Norte do País, mas também vende sexo, autoestima e sensualidade com pressa como pede a cartilha do pop internacional. “K.O.” tem todos os atributos para ser um clássico de um novo momento da MPB no Brasil (a MPB que se reconhece popular sem vergonha ou culpa). E ter uma artista LGBTQ encabeçando esse momento é bom demais. | Ouça.
46
Playboi Carti – “Magnolia”
Este hit de Playboi Carti se conecta com o melhor do rap de Nova Orleans e faz referência aos Magnolia Projects, conjuntos habitacionais de maioria pobre e com histórico de negligência e violência. Após o furacão Katrina, os prédios deram lugar a construções de classe média alta, afastando a população de baixa renda da região. Carti traz ainda uma das mais viciantes melodias de rap do ano, com uma batida quase hipnótica. | Ouça.
45
Jorja Smith – “On My Mind (Jorja Smith x Preditah)”
Jorja Smith é parte da renovação que vive o pop alternativo britânico (que sempre revela umas novidades boas a cada ano). Aliás, a cena inglesa nunca esteve tão prolífica, incluindo aí seus intercâmbios entre pop, grime, rap e house. “On My Mind” é a melhor música para a pista de dança de 2017, aquele hit certeiro para balançar qualquer maluco no salão. As bases e arranjos de Preditah, com suas levadas entrecortadas e carregadas de soul, são incríveis. | Ouça.
44
Ibibio Sound Machine – “Give Me A Reason”
A banda de afro-punk londrina Ibibio Sound Machine tem feito interessantes pontes entre a eletrônica britânica e a explosão sonora do Sul e Oeste Africano, sobretudo de países como Malauí, Nigéria e Mali. “Give Me A Reason” é a epítome desse intercâmbio, com destaque para vocais de Eno Williams e a percussão do brasileiro Anselmo Netto. | Ouça.
43
Major Lazer part. Anitta e Pabllo Vittar – “Sua Cara”
“Sua Cara” é muito representativo de como o pop brasileiro deu um salto de popularidade e relevância em 2017. Com produção do Major Lazer (projeto de Diplo que mistura house e electro com ritmos como reggae, afrobeat, samba e funk), a faixa conta com dois dos nomes mais bombados do pop brasileiro hoje, Pabllo Vittar e Anitta. A batida é urgente, repetitiva e cheia de nuances que incluem uma base de dancehall. Mas seu apelo vem mesmo dos vocais de Anitta e Pabllo, que fizeram dessa faixa um hit e um dos maiores sucessos em português nas paradas internacionais em muitos anos. Não é interessante que uma mulher periférica e uma drag queen estejam fazendo todo esse rebuliço no pop brasileiro?
| Ouça.
42
Charlotte Gainsbourg – “Deadly Valentine”
Charlotte Gainsbourg consegue unir o melhor de dois mundos: reforça a tradição francesa de vocais lânguidos, sensuais e sussurrados ao ouvido com a inovação estética da música eletrônica atual, que vai buscar no R&B e no rap as inspirações para se manter inventiva, instigante. “Deadly Valentine” une tudo isso e é uma das mais interessantes faixas de Charlotte em toda sua carreira como cantora. | Ouça.
41
Otto – “Bala”
Cada vez mais entrosado como o brega, Otto soltou mais uma faixa romântica que une seu indefectível vocal rouco com uma letra que é sofrida e exagerada como pede o cancioneiro bregoso pernambucano. Mas “Bala” é também sobre o tempo, sobre as dores e alegrias que as lembranças trazem, tudo numa base de percussão que é típica da sonoridade de Otto. | Ouça.
40
Lil Uzi Vert – “XO TOUR Llif3”
Uma música sobre abuso de drogas e um relacionamento desastroso fizeram de Lil Uzi Vert um dos maiores nomes do rap em 2017. A vulnerabilidade do rapper ao tratar de temas como suicídio, depressão e traição apontam para um novo momento das rimas do rap norte-americano mainstream. O rapper foi um dos maiores sucessos do hip hop este ano, o que indica que ainda ouviremos falar bastante dele no futuro. | Ouça.
39
Kamasi Washington – “Truth”
Kamasi Washington é um dos mais importantes saxofonistas hoje e consegue fazer uma interessante inserção do jazz dentro do universo do rap e soul. É frequente colaborador de nomes como Kendrick Lamar e este ano fez colaboração no disco das irmãs Ibeyi. “Truth” (música e também o clipe) soa como um abraço apaziguador em tempos confusos e violentos. Com muita influência do gospel americano, Kamasi chega para apaziguar, mas também para inspirar a quem pensou em desistir face às loucuras e virulência de pessoas como Donald Trump. | Ouça.
38
Arca – Desafío
O produtor venezuelano Alejandro Ghersi, o Arca, faz de “Desafío” sua obra-prima pop depois de uma série de provocativas produções experimentais. É aqui também em que ele se mostra mais aberto, discorrendo sobre solidão, inadequação, mas também superação e renovação. Cheio de falsetos e distorções, a faixa é uma bem construída balada com o que a eletrônica tem de mais inventivo hoje. | Ouça.
37
Vince Staples – “Big Fish”
Uma música sobre as mudanças da vida, “Big Fish” representa também uma mudança de rumo para Vince Staples, que adentra o terreno do rap mais pop, menos experimental, mas ainda assim inovador. Ele chega aqui falando um pouco de sua trajetória e mantendo sua assinatura de batidas secas de eletrônica com uma rima de cadência pesada. | Ouça.
36
Khalid – “Young Dumb & Broke”
Khalid fez diversos “hinos” na sua estreia, American Teen, mas a melhor de todas é “Young Dumb & Broke”, uma faixa com um tom todo saudosista que rememora os anos mais interessantes e confusos na vida de todo mundo, o final da adolescência. A faixa tem um apelo pop, mas é um R&B em sua forma mais básica, sexy e melancólica. | Ouça.
35
Les Amazones d’Afrique – “Dombolo”
O combo africano Les Amazones D’Afrique, formado por diversas cantoras do Oeste Africano, mostrou que o desconhecimento do pop feito na África é fruto da preguiça da mídia e má vontade de produtores. “Dombolo”, com vocais de Angelique Kidjo, é uma das mais perfeitas obras da música pop africana, com explosão, ritmo e uma base de percussão inconfundível. | Ouça.
34
Xênia França – “Pra Que Me Chamas?”
Integrante do Aláfia, Xênia França lançou em 2017 diversos manifestos que unem o empoderamento negro e feminino com as inovações do pop. “Pra Que Me Chamas?”, falando sobre apropriação cultural e preconceito, é uma dessas pedradas. A canção faz parte da ótima estreia em disco de Xênia, lançado este ano.| Ouça.
33
Drake – “Passionfruit”
Drake está certo quando diz que chamá-lo de rapper é um reducionismo. “Passionfruit” é nada mais do que uma faixa de pop/R&B com uma sofisticada produção e batida seca que remete aos breaks. Esta é a melhor faixa de seu disco, digo, playlist, More Life, lançado este ano e que traz uma coleção eclética de hits de todo tipo (incluindo rap). | Ouça.
32
Fever Ray – “To The Moon and Back”
Karin Dreijer, a mente e voz por trás do Fever Ray retornou em 2017 para adicionar mais inovação ao pop internacional. Com sua voz aguda e distorcida que é marca do seu trabalho, a sueca voltou mais pesada e punk, tratando de filosofia, ficção-científica e gênero. “To The Moon and Back”, com sua batida pesada, traz letra sobre sexualidade e ambiguidade queer. | Ouça.
31
Calvin Harris part. Frank Ocean e Migos – “Slide”
Calvin Harris chegou com essa base pop que qualquer nome hoje na indústria, de Katy Perry a Beyoncé, adoraria ter em mãos. Mas aí temos Frank Ocean com suas variações vocais e interpretação inconfundível e “Slide” passa a soar muito mais como uma música de Ocean do que qualquer coisa. A chegada dos Migos fazem um clímax interessante, mas essa deliciosa faixa, hit de 2017, é a prova de que Frank Ocean dominou o cenário pop sem nem mesmo ter lançado um álbum de inéditas. | Ouça.
30
Amadou & Mariam – “La Confusion”
Principais nomes da música do Mali, a dupla Amadou & Mariam poderiam apenas curtir o sucesso internacional, mas decidiriam lançar um disco ainda mais político e contundente nas letras. E o mais interessante: nunca estiveram tão inventivos e pop, fazendo um trabalho ainda mais instigante, apontando novos rumos, como é o caso dessa mezzo-balada “La Confusion”, que fala do conturbado momento político de seu país natal. | Ouça.
29
Thundercat – “Friend Zone”
Misturando jazz, soul e desenho animado japonês, Thundercat é algo sui generis no cenário pop hoje. “Friend Zone” mostra o quanto é difícil categorizar esse músico, frequente colaborador de nomes como Kendrick Lamar. | Ouça.
28
Lorde – “The Louvre”
Lorde trouxe a angústia juvenil para o centro do pop novamente, mas fez isto com inovações estéticas e sofisticação que a levaram para o primeiro escalão do gênero em 2017. “The Louvre” quebra com fórmulas do pop ao trazer o clímax para o início da música e deixar o final mais tenso. O nome “The Louvre” faz referência ao início do relacionamento, cercado de felicidade, alegrias, perfeito como uma obra de arte de museu, mas que soa velho com o tempo, um quadro numa parede. | Ouça.
27
Rincon Sapiência – “A Volta Pra Casa”
Rincon Sapiência criou uma crônica d@s trabalhador@s do Brasil nesta faixa que traz como personagem central uma mulher da perifa e seu longo trajeto de ir e vir. Faixa mais emotiva de Galanga Livre, novo trabalho do rapper, a faixa tem uma base melancólica e remonta à tradição das baladas de rap nacionais. | Ouça.
26
The Blaze – “Virile”
A dupla francesa The Blaze tratou do homem e suas contradições nesta “Virile”, faixa que lança olhar sobre a necessária desconstrução do homem contemporâneo, cada vez mais frágil e ansioso tendo que lidar com um mundo de pressões e violência. A base é baseada na mais pura house francesa, escola que já revelou bons nomes na eletrônica mundial. | Ouça.
25
Hurray For The Riff Raff – “Pa’lante”
A cantora Alynda Lee Segarra fez de “Pa’lante” uma das mais importantes músicas de protesto de 2017 ao rememorar a luta dos porto-riquenhos nos EUA contra a exploração. A música, levada ao piano, é inspirada em um jornal publicado pelo grupo ativista formado por porto-riquenhos Young Lords. Traz ainda um trecho de um poema que lembra de ativistas que lutaram pelos direitos humanos no século passado. | Ouça.
24
Djonga – “Esquimó”
Djonga une rap e tradições da música brasileira nesse clássico, Heresia. “Esquimó” é a melhor faixa do álbum e fala das relações tensas da periferia ao lidar com a violência policial, racismo, crime e outros desafios em um nível diário. “Hoje somos riso, amanhã seremos choro” dá o tom cíclico dessa faixa que é um resumo do bom momento do rap brasileiro em 2017. | Ouça.
23
yaeji – “raingurl”
Uma rapper americana/coreana nerd mostra o nível de imprevisibilidade do cenário pop mundial em 2017. Abraçada pela cena eletrônica alternativa, yaeji assumiu uma postura “tô nem aí” e soltou diversas produções inovadoras e cheias de charme. Vamos aguardar que ela mantenha esse mesmo nível de inventividade com a pressão para seu primeiro álbum, que sai ano que vem. | Ouça.
22
Rodrigo Ogi part. Diomedes Chinaski, Coruja, Marcela Maita e Emicida – “Insomnia2”
Ogi é o principal narrador do status de violência da periferia brasileira hoje. Em “Insomnia2” ele chamou nomes que compartilham dessa revolta contra uma sociedade violenta para pobre e preto, a exemplo de Emicida e Diomedes. “O rap devia ser pra emancipar nóis / e não festinha pra encher de droga cu de playboy”, diz a letra. Estão certíssimos. | Ouça.
21
Carly Rae Jepsen – “Cut To The Feeling”
Carly Rae Jepsen já é um caso conhecido de como a indústria pop, deliberadamente, subestima alguns artistas. Jepsen, tida como “one-hit-wonder” por muitos por conta de “Call Me Maybe” é um dos nomes mais criativos desse mercado e solta a cada ano uma pérola, como é o caso dessa incrível “Cut To The Feeling”. | Ouça.
20
Linn da Quebrada – “Bomba Pra Caralho”
Desafiando convenções de todo tipo, Linn da Quebrada chegou com os pés na porta no cenário musical brasileiro, ainda muito comedido com as questões sexuais e de identidade de gênero. Ao lado de nomes como Liniker e As Bahias, a MC trouxe uma atitude libertária para a MPB. Unindo funk, rap com a melhor tradição da música brasileira combativa, “Bomba Pra Caralho” é um hino de querer ser quem quiser e uma ode contra o preconceito. | Ouça.
19
Björk part. Arca – “The Gate”
Björk uniu-se ao produtor venezuelano Arca para esta “The Gate”, faixa que trata de uma superação amorosa e da importância de se mostrar aberta a novos relacionamentos. Um dos pontos altos de toda a carreira de Björk, aqui ela une a eletrônica mais experimental com a delicadeza da flauta e piano para uma faixa libertária. | Ouça.
18
St. Vincent – “New York”
St. Vincent cantou o absurdo do mundo em “New York”, faixa que faz parte do disco conceitual MALASSEDUCTION. Conhecida por ser exímia guitarrista, aqui a cantora arriscou-se em uma base eletrônica que oscila entre a orquestração e o minimalismo, mas também traz uma poderosa proposta pop dançante. | Ouça.
17
Cardi B – “Bodak Yellow”
A faixa viral do ano é também um clássico moderno do rap. Cardi B quebrou diversas barreiras com esse hit, incluindo o marco de ser a primeira rapper mulher a alcançar o topo das paradas desde Lauryn Hill no final dos anos 1990. Falando de emancipação e auto-estima, ninguém dominou tanto a cultura pop quanto Cardi e seu sucesso astronômico. | Ouça.
16
Charli XCX – “Boys”
2017 foi o ano dos homens, merecidamente, serem enquadrados em todas as suas violências, simbólicas e literais. Foi o ano do #MeToo, das denúncias. É interessante que Charli XCX tenha feito uma ode aos homens nesse seu massivo hit. “Estou ocupada pensando em homens”, diz a cantora, irônica e segura de si. O clipe, dirigido pela própria, traz um desfile de homens de todas as origens, tamanhos e cores, todos desconstruídos, distantes de um imaginário conhecido de masculinidade. Foi legal ver que uma mulher tomou o controle da imagem que esperamos dos homens. | Ouça.
15
Baco Exu do Blues – “Te Amo Disgraça”
Dono de um dos melhores discos de rap do ano, Esú, o músico baiano Baco Exu do Blues fez uma música de amor em “Te Amo Disgraça”, uma declaração exagerada de romance e sexo, cheia de imagens literais (como transar até quebrar o colchão). Uma mistura inusitada de rap, funk proibidão e sonetos apaixonados. | Ouça.
14
Oumou Sangaré – “Kamelemba”
Hoje uma das maiores estrelas da música do Mali, Oumou Sangaré se apoiou no afrofuturismo e no pop africano nesse hit de Mogoya, seu novo disco, lançado este ano. A letra é um chamado de união das mulheres para que não se deixem enganar pelas promessas do amor romântico. Essa faixa é um dos maiores hits do pop do ano, ainda que não tenha tido o alcance merecido.| Ouça.
13
Perfume Genius – “Slip Away”
Um pouco menos barroco que seus trabalhos anteriores, o Perfume Genius retorna mais solar com “Slip Away”, mas ainda lidando com seus próprios demônios de maneira aberta. A faixa é uma explosiva ode a ser quem quiser e traz uma base pesada de percussão e guitarra, iniciando já bem tensa até atingir um clímax repentino.| Ouça.
12
Chico Buarque – “As Caravanas”
Com beat-box de Rafael Mike, do Dream Team do Passinho, Chico Buarque canta o desconforto da classe média com a periferia nessa faixa de seu novo disco. É uma crítica sobre as tensões existentes hoje no Brasil e que ficam talvez mais evidentes na esbranquiçada Zona Sul carioca, calcada numa violenta exclusão social. | Ouça.
11
Kelela – “Frontline”
Kelela está na dianteira do R&B contemporâneo hoje, apontando rumos interessantes ao gênero. “Frontline”, de seu aguardado disco de estreia, mostra que ela domina o gênero a ponto de quase quebrá-lo, transformá-lo em outra coisa. Futurista, experimental e cheia de sensualidade, mas sem ser óbvia, essa faixa é o cartão de visita de uma das artistas mais inventivas hoje. | Ouça.
10
Dua Lipa – “New Rules”
Dua Lipa tornou-se ícone de um pop que serve tanto para emancipar quanto para se descabelar na pista de dança. “New Rules” é um hit massivo por conta de sua batida viciante com ecos de europop, mas também porque atende a uma demanda do público por autoestima e amor próprio. É o hino contra o boy lixo, contra o homem pequeno, que precisa se expurgado. Com carisma, bom alcance vocal e refrão pegajoso, Dua criou as três regras básicas do pop em 2017.
09
Letrux – “Ninguém Perguntou por Você”
Letícia Novaes, ex-Letuce, é uma das poucas artistas a se arriscar dentro do pop contemporâneo hoje, partindo sempre de arranjos e letras inusitados. “Ninguém Perguntou Por Você” é um convite à pista de dança, mas também uma balada cheia de malemolência. As letras parecem endereçadas ao seu ex, parceiro de sua antiga banda. Mas também soam atemporais, servindo como um descarrego de alguém inconveniente. A temática da separação é tratada com humor nonsense nesta que é uma das mais divertidas faixas do ano. |
08
Tinariwen – “Sastanàqqàm”
Uma pena que não olhamos para a cena musical africana com afinco. Dentro desse contexto tão amplo no som do continente, um dos maiores destaques é o Mali, país que revela a cada ano artistas pop de diversas matizes e estilos, a exemplo de Oumou Sangaré, Inna Modja e a banda de rock tuareg Tinariwen. “Sastanàqqàm” é uma faixa poderosa de rock com muitas referências do som tradicional malinense, com sua guitarra característica bastante dançante.
07
SZA – “Drew Barrymore”
Depois de uma série de EPs, a cantora SZA dominou o cenário R&B com sua voz que mistura sensualidade com ironia, além de trazer bases e batidas que desafiam convenções do gênero. “Drew Barrymore” é incrivelmente pessoal, tratando de solidão, insegurança e relacionamentos tóxicos. A opulência da produção caminha para uma reviravolta, uma superação dessas inseguranças.
06
Ibeyi – “Away Away”
Unindo uma produção com apelo pop com referências musicais cubanas e latinas, as irmãs Ibeyi são uma das pérolas da música contemporânea hoje, com sabor cosmopolita genuíno. “Away Away” é o maior hit da carreira do duo depois de “River” e mostra o talento delas para criar músicas de apelo pop, com inspiração de soul, R&B e eletrônica, ao mesmo tempo em que se mantém fincadas em suas raízes. Tem ainda um trecho em iorubá ao final, o que torna a faixa ainda mais especial. |
05
Frank Ocean – “Chanel”
“My guy pretty like a girl” diz Frank Ocean na abertura dessa faixa, um dos seus muitos lançamentos em 2017, mesmo sem ter lançado um disco cheio. É um dos momentos queer mais interessantes de 2017, desafiando convenções sobre sexualidade e relacionamentos. É também uma faixa sobre ser podre de rico, sobre ser famoso, mas há tantas referências em “Chanel” que podemos dizer que esta é a música-chave para entender o enigma que Frank Ocean representa no pop. Sem por um lado ele fala de seu namorado com traços femininos, por outro ele também clama por não ser enquadrado em nenhum rótulo. Avesso à própria indústria que o idolatra, Ocean faltou quase todos os grandes festivais para os quais foi convidado e conseguiu o controle de sua própria carreira como poucos. Essa personalidade é tanto meticulosa quanto desleixada e pode ser percebida nessa faixa que traz uma produção com riqueza de detalhes. |
04
BaianaSystem – “Invisível”
O BaianaSystem segue na dianteira das transformações do cenário pop brasileiro. Depois de um excelente disco no ano passado, DuasCidades, o grupo de Salvador trouxe uma faixa que trata da invisibilidade do homem comum, negro, pobre e trabalhador. A segregação social sempre foi pauta da banda, mas neste single eles fizeram a faixa mais contundente da carreira da banda em uma batida cheia de tensão e ritmo.
03
Kendrick Lamar – “HUMBLE.”
Kendrick Lamar retornou ao rap mais básico com “HUMBLE.”, um pouco distante do tom jazzístico e orquestrado de seus trabalhos anteriores. A faixa lança novas bases ao falar de temas universais como racismo, amor e religião. A batida criada por Mike WiLL Made-It traz uma base de piano e um linha de 808 clássico, o que mostra que Lamar decidiu aprofundar-se nas raízes do gênero para fazer uma faixa que conclama uma mudança de paradigma: “seja humilde”, diz ele neste hit de DAMN., trabalho lançado este ano.
02
Lorde – “Green Light”
“Green Light” tem aquela combustão juvenil das emoções ligeiramente processadas, carregadas de paixão e urgência, um clássico do pop mundial, inconteste e atemporal. Também é retrato de uma artista original, com um incrível domínio do próprio estilo e que caminha por caminhos menos óbvios dentro de um gênero cheio de fórmulas. “Green Light” é também uma música sobre amadurecer, sobre adentrar a idade adulta e sobre lidar com as próprias inseguranças e medos. |
01
Rincon Sapiência – “Ponta de Lança (Verso Livre)”
Impossível ficar impassível aos primeiros acordes de “Ponta de Lança”, faixa que encerra Galanga Livre, um dos mais importantes discos lançados no Brasil em 2017. Descarregando suas rimas sobre diversos temas que rondam esse Brasil caótico e estranho de 2017, Rincon nos dá uma luz de que é preciso estar sempre vigilante, acordado. Há poucos compositores tão lúcidos quanto este rapper e poucos com a capacidade de gerar envolvimento com uma batida tão simples e direta. Música do ano, com certeza.