As 30 Melhores HQs de 2016

tophq

Textos de Paulo Floro e Fernando de Albuquerque.

Que ano esse 2016 para os quadrinhos! Com a consolidação de editoras novas como Mino, Veneta, Nemo e Marsupial o nosso mercado recebeu obras importantes estrangeiras o que só indica a maturidade que estamos perto de atingir para chegarmos a um nível como França e Argentina.

Mas foram os brasileiros – e sobretudo os independentes – quem mais brilharam neste ano. Mais do que quantidade, a produção nacional destacou-se pela inventividade e uma maior exploração das possibilidades das histórias em quadrinhos. Foi também o ano da consolidação das HQs onlines, que só crescem. Sejam em blogs/tumblrs e afins ou em plataformas de streaming, a tendência está forte.

Este ano decidimos aumentar o número de HQs em nossa lista – de 25 para 30. Primeiro pela enorme dificuldade em fechar a lista final em meio a tantas HQs boas (nunca lemos tanto gibi, adoramos nosso trabalho), mas também para igualar o Top de quadrinhos em nível de importância com o Top de álbuns, que tem 30 posições há muitos anos. Também pela primeira vez fizemos uma lista de menções honrosas, que vão lá no final do post.

Todas as posições vem com link para comprar as HQs (muitas delas com desconto). Para fortalecer ainda mais o mercado e a cena de quadrinhos é importante essa dica: compre quadrinho! De novo: compre quadrinho!

Sem mais, segue a nossa lista! E um ótimo ano a todo mundo que acompanhou a nossa cobertura de quadrinhos. Aqui as listas de 2012, 2013, 2014 e 2015 para quem quiser relembrar.

msmarvel

30
MS. MARVEL VOL. 1: NADA NORMAL, de G Willow Wilson e Adrian Alphona
[Panini]

A Marvel decidiu abraçar a diversidade – primeiro como uma acertada estratégia de marketing e depois como uma necessidade real de representar melhor seus leitores. De todo mundo vem funcionando bem. A Ms. Marvel de agora é uma jovem descendente de imigrantes paquistaneses e que precisa lidar com seus poderes ao mesmo tempo em que resolve seus corres de ginásio, amores adolescentes e assuntos típicos da adolescência. Ponto fora da curva da cronologia Marvel de super-heróis, a HQ tem um tempo próprio e dedica muito de suas páginas para tratar das diferenças culturais e da religião islâmica, sempre com muito respeito, humor e nenhum estereótipo. A Panini, graças a deus, está lançando encadernados da série além de inclui-la em mixes nas revistas mensais. | Compre.

chiquinha

29
UGRITO #8 – A MEDIOCRIZAÇÃO DOS AFETOS, de Fabiana Langona, a Chiquinha
[UgraPress]

Fabiana Langona, que antes assinava como Chiquinha, é mestra em tratar de relacionamentos e idiossincrasias dos nosso tempo com humor e ironia. Seu volume na ótima coleção UGritos, da Ugra Press, é um de seus melhores trabalhos. Em um curto ensaio em quadrinhos ela discorre sobre a banalização que demos aos sentimentos e como o amor acabou tornando-se um produto vendável e uma obrigação social. Mais sobre os UGritos. | Compre.

petreca

28
YE, de Guilherme Petreca
[Veneta]

Petreca conquista o leitor pelo deleite visual antes de tudo. Fisgado por isso o leitor entra em um universo incrível neste Ye, que saiu pela Veneta. Passado em um mundo com inspiração medieval da Europa Oriental e com toques da cultura andina, o livro remete a contos de fada com toda a sua crueza e traz uma metáfora sobre enfrentar o medo. O autor conta a história de um garoto que parte em uma jornada para curar uma mazela dada pelo Rei Sem Cor. Na melhor escola de Neil Gaiman, Petreca conduz o leitor por uma história que oscila entre a leveza e o drama carregado. Leia nossa resenha. | Compre.

bear

27
BEAR VOL. 3, de Bianca Pinheiro
[Nemo]

Bianca Pinheiro é uma das mais talentosas quadrinistas de sua geração. E 2016 foi o ano em que o mercado lhe deu o devido valor. Além do terceiro volume de Bear, HQ que ela também publica online, a autora teve ainda sua HQ independente Dora reeditada pela Mino e viu nascer Mônica – Força, seu álbum para a série Graphic MSP, da Maurício de Sousa Produções. Mas é Bear onde vemos melhor sua assinatura. Um gibi que traz profundidade e delicadeza equilibrados e uma sagacidade no texto que não vemos facilmente em trabalhos voltados para o público infanto-juvenil. Torcemos agora para que Bear invada outras mídias, o que será bem merecido. Leia mais: entrevista com Bianca Pinheiro. | Compre.

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26
SENDERO LUMINOSO – HISTÓRIAS DE UMA GUERRA SUJA, de Alfredo Villar, Luis Rosell e Jesús Cossio
[Veneta]

Sabemos bem pouco sobre a produção latina de quadrinhos, com exceção da Argentina e Uruguai. A Veneta diminui um pouco essa discrepância com o lançamento de um clássico das HQs peruanas. E ainda ajuda a jogar luz sobre um dos conflitos mais obscuros e sangrentos de nosso continente, que foi a guerra do grupo guerrrilheiro Sendero Luminoso contra o Governo do Peru. Quem mais perdeu nessa história foram os índios, que viram sua produção e sua cultura massacrados ao longo de décadas. Um documento poderoso contado de forma crua e direta em quadrinhos. De quebra tivemos uma obra de Jesús Rossio, nome importante dos quadrinhos ibero-americanos, lançada no Brasil. Veja nossa resenha. | Compre.

estranhos

25
ESTRANHOS, de Fefê Torquato
[Independente]

Fefê Torquato, criadora da personagem Gata-Garota, mostrou a versatilidade de seu traço nesse projeto independente Estranhos, em que explora privacidade e vida cotidiana. O uso que ela faz dos enquadramentos mostra um domínio da arte dos quadrinhos e a colocam como uma das mais inventivas autoras de sua geração. É uma obra que merece ser mais conhecida, bem como todo o trabalho de Fefê. | Compre.

nijigahara

24
NIJIGAHARA HOLOGRAPH, de Inio Asano
[JBC]

Passado e presente se misturam nesse mangá de Inio Asano, hoje um dos nomes mais interessantes de se acompanhar do mangá autoral japonês (sua série Solanin saiu em 2011 pela L&PM). Em Nijigahara temos enaltecida uma característica marcante do autor, que é trabalhar diversas linhas narrativas ao mesmo tempo, todas ligadas a algum evento, neste caso o boato de um monstro habitando os túneis da escola. É uma obra que parece confusa em uma primeira leitura, mas que de tão envolvente acaba convidando o leitor a desvendar a trama. O traço de Asano traz a profundidade necessária para a história e explora texturas que não vemos normalmente na produção oriental. | Compre.

zonzo

23
ZONZO, de Joan Cornellà
[Mino]

Cornellà é o quadrinista que merecemos nesses dias doidos que correm. Sua HQs exploram o pior (ou seria o melhor) desta era do absurdo. Controverso, o autor catalão é hoje um dos mais conhecidos quadrinistas no mundo com milhões de seguidores na internet. Seu traço limpo e as cores pastéis escondem histórias repletas de crueldade, sangue e excrementos. É uma obra que revela o pior de nós sem nenhum pudor e, por isso mesmo, é tão perturbadora quanto genial. Veja nossa resenha. | Compre.

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22
NIMONA, de Noelle Stevenson
[Intrínseca]

Noelle Stevenson criou uma carismática anti-heroína nesta HQ Nimona. Empoderada e distante dos clichês das narrativas de aventura e fantasia, Nimona é a personagem que sonhávamos – e merecíamos – mas que sempre foram escanteadas por autores pouco imaginativos das histórias estilo D&D e afins. O mundo retro-futurista da autora é bastante imaginativo e o traço tem o dinamismo necessário para manter o ritmo da trama sempre veloz. Leia nossa resenha. | Compre.

parricidio

21
O PARRICÍDIO
[Baboon Comix]

Os autores Beeau Goméz e Rodrigo Qohen já tinham mostrado um ótimo trabalho em Acid Jazz, coletânea que lançaram em 2015. Mas em O Parricídio eles avançam ainda mais na experimentação de cores, formas e narrativa, o que coloca a dupla como uma das melhores novidades no quadrinho autoral brasileiro hoje. | Compre.

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20
UMA NOITE EM L’ENFER, de Davi Calil
[Mino]

Davi Calil juntou os fracos da pintura do século 19 – Van Gogh, Paul Gauguin, Toulouse-Lautrec, Gustav Klimt e Francisco de Goya – para contar histórias perturbadoras que relacionam suas vidas pessoais com os incríveis trabalhos artísticos que produziram. Quem conduz a trama é Van Gogh, que sobreviveu a uma tentativa de suicídio na França (na vida real ele realmente partiu para o além). A obra, contada em episódios, é um dos mais ousados trabalhos nacionais este ano, narrativa e esteticamente falando. Destaque para a paleta de cores usada por Calil, maior exemplo de sofisticação e técnica que vimos em 2016. Veja nossa resenha. | Compre.

saga

19
SAGA VOL. 3, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples
[Devir]

A saga espacial de Brian K. Vaughan e Fiona Staples chega ao seu terceiro número no Brasil, o que já é algo a se comemorar. Neste volume temos um olhar ainda maior no lado intimista da história, ao mesmo tempo em que o aspecto “épico” retorna lento para culminar em uma das sequências mais bonitas já vistas nos comics norte-americanos nos últimos anos. É difícil contar mais sem entregar spoilers, mas basta dizer que Saga é hoje um dos títulos mais inventivos e um dos textos de ficção científica mais interessantes (incluindo aqui qualquer mídia). | Compre.

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18
OS ÚLTIMOS DIAS DE POMPEO, de Andrea Pazienza
[Veneta]

Considerados um dos mais importantes nomes dos quadrinhos italianos, Andrea Pazienza (1956 – 1988) foi um dos fundadores da lendária revista Frigidaire e teve trabalhos seus publicados pela revista Animal nos anos 1980. Mas só agora sua obra-prima chega ao Brasil. Os Últimos Dias de Pompeo conta os momentos finais de um artista viciado em heroína. É um triste paralelo com a morte precoce de Pazienza, por overdose, um ano depois do lançamento da HQ na Itália. | Compre.

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17
REPETECO, de Bryan Lee O’Malley
[Quadrinhos na Cia/Companhia das Letras]

Repeteco – tradução brasileira para Seconds – de Bryan Lee O’Malley foi uma prova de fogo para o autor de Scott Pilgrim. Nesta HQ ele consegue atender a uma demanda por material novo sem se repetir, mas ao mesmo tempo mantendo-se fiel ao seu estilo. A trama de uma chef que ganha a chance de mudar suas decisões passadas acabou servindo para O’Malley explorar as possibilidades de seu traço e gêneros como o terror psicológico. | Compre.

magraderuim

16
MAGRA DE RUIM, de Sirlanney
[Lote42 e online]

A quadrinista cearense Sirlanney tem a coragem necessária para uma boa HQ autobiográfica. Seus desenhos e cartuns exploram temas como sexualidade, ansiedade, medo, gênero, trabalho, família e relacionamentos, sem obviedades ou frases de impacto. É um trabalho que oscila entre o experimental e o humor mais cru possível. Além disso Sirlanney tem uma obra que não se exime: é feminista declarada e trata de temas como representatividade com um papo bem direto. Ela migrou do online para uma bela edição da Lote42 este ano, ainda que já tenha lançado uma versão impressa de Magra de Ruim ano passado. | Compre e leia online.

ruinas

15
RUÍNAS, de Peter Kuper
[Marsupial]

Peter Kuper é um dos mais importantes quadrinistas norte-americanos. Cria da fase áurea dos quadrinhos underground dos EUA esta sua nova obra, Ruínas, saiu bem rápido aqui no Brasil e traz um lado pouco conhecido do autor. Ele explora um traço e narrativas bem diferentes de seu trabalho mais conhecido, Spy Vs Spy. A obra aborda a viagem de um casal à cidade de Oaxaca, no México, onde acabam colidindo com fatos políticos da história do México, o que acaba mudando a vida de ambos para sempre. | Compre.

topografias

14
TOPOGRAFIAS, de Julia Balthazar, Bárbara Malagoli, Lovelove6, Mariana Paraizo, Puiupo e Taís Koshino
[Selo Piqui]

Topografias uniu trabalhos de seis autoras brasileiras, todas com obras importantes lançadas recentemente. Com estilos e predileções diferentes por temas e estéticas, o que dá liga a essa coletânea é o interesse em experimentar na narrativa. O projeto tem como um de seus motes a reflexão sobre as possibilidades da linguagem das histórias em quadrinhos. Em cada história há um estilo diferente, desde a composição dos desenhos na página, passando pela escrita, narrativa, cores e técnica utilizada. Um trabalho gráfico de peso que só demonstra onde já chegamos nessa aventura da HQ brasileira. | Compre.

ugrito

13
TIME LAPSE (COLEÇÃO UGRITO #5), de Thiago Souto
[Ugra Press]

O passado se “amontoa” como um vídeo time-lapse; nessa HQ de Thiago Souto que faz parte da coleção UGrito, da Ugra Press. Na trama o jovem protagonista inicia uma caçada ao seu “eu” mais velho ao mesmo tempo em que reflete sobre a implacável passagem do tempo. Souto soube usar a linguagem das HQs ao seu favor para abordar a metafísica de nossa relação com o tempo. | Compre.

lemire

12
O SOLDADOR SUBAQUÁTICO, de Jeff Lemire
[Mino]

Conhecido no Brasil por seu trabalho na série Sweet Tooth e por seus roteiros para Marvel e DC, Jeff Lemire tem até agora como sua obra-prima autoral esse O Soldado Subaquático. É um trabalho bem pessoal que explora nossa relação com a memória familiar, infância e passagem do tempo. A trama mostra um mergulhador que espera seu primeiro filho ao mesmo tempo que revisita os momentos finais de vida de seu pai. | Compre.

marcooliveira

11
FINÓRIO, de Marco Oliveira
[Zarabatana Books]

Inspirada em um episódio vivido na infância, Finório, de Marco Oliveira, aborda a violência e suas consequências a partir da história de Francisco, um jovem que sofre toda sorte de violências e injustiças ao longo da vida e que acaba tornando-se um indivíduo vingativo na vida adulta. O uso do preto e branco e a narrativa ágil dão um clima tenso à HQ, que explora desde o gênero policial até o terror psicológico. Oliveira é de uma versatilidade incomum na cena de quadrinhos brasileiro – suas três obras até aqui são bem diferentes entre si, tanto no tema quanto na estética (Mute e Aos Cuidados de Rafaela, igualmente recomendadas), o que faz desse autor um dos nomes mais importantes de sua geração. | Compre.

guerrassecretas

10
GUERRAS SECRETAS, de Jonathan Hickman, Esad Ribic, Ive Svorcina e Paul Renaud
[Panini]

As sagas intermináveis da Marvel e DC são estratégias de marketing e vendas lucrativas: geral reclama, mas compra. E assim as histórias dos personagens são renovadas (repetidas) ad infinitum. As Guerras Secretas imaginadas por Jonathan Hickman, roteirista revelação dos comics americanos, acabaram tornando-se um ponto fora da curva na saturação que é o mercado de super-heróis. Com uma história coesa cozida ao longo de quase dois anos pela editora o evento é cheio de autorreferência e tem cronologia intrincada como toda saga, mas também um brilho próprio que faz com que qualquer leitor possa lê-la sem se preocupar em acompanhar às dezenas de revistas relacionadas. Além disso Hickman deu profundidade ao Dr. Destino como há muito tempo não víamos ao mesmo tempo em que explorou as complexidades éticas dos heróis da Marvel criando uma narrativa em que nada é gratuito. O desenho de Esad Ribic trouxe um clima realista e deu o tom pessimista e tenso que marcou a saga. | Venda em bancas e comic-shops.

stephencollins

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A GIGANTESCA BARBA DO MAL, de Stephen Collins
[Nemo]

O quadrinista inglês Stephen Collins arriscou-se em seu primeiro trabalho de narrativa longa (ele faz tiras para o jornal The Guardian). Em A Gigantesca Barba do Mal ele conta a história de um habitante comum da ilha de Aqui cuja barba não para de crescer nunca, o que acaba causando pânico e terror em todo mundo da região. Com esse mote simples o autor trata da crise de identidade que vive a sociedade atual, o que dá margem para pensarmos em temas bem atuais como a crescente hostilidade entre os povos e o acirramento das tensões entre diferentes comunidades. Os habitantes de Aqui vivem isolados em seu mundo e temem tudo o que existe além dele, representados na HQ por um oceano tenebroso que inicia o mundo de Lá. A barba descomunal do personagem representa as ideias e sentimentos reprimidos pelo protagonista, que finalmente se libertam. É uma obra cheia de nuances e camadas, bastante atual, mas atemporal pelo modo como contou sua trama fantástica. | Compre.

bernardo

08
VOCÊ É UM BABACA, BERNARDO, de Alexandre S. Lourenço
[Mino]

Um dos quadrinistas mais inventivos de sua geração, Alexandre S. Lourenço lançou sua primira narrativa longa após a ótima coletânea de tiras Robô Esmaga. Você É Um Babaca, Bernardo conta a história absurda de um homem sem muito tino na vida que, de repente, precisa lidar com o espírito impulsivo de sua cabeça, agora separada de seu corpo acomodado e passivo. A trama combinou bem com o estilo de Lourenço e seu talento em explorar as possibilidades da página em branco. As diversas disposições dos quadros, mesclados a soluções inusitadas para contar a história fazem desse álbum um dos trabalhos mais criativos da produção atual da HQ nacional e que, com certeza, ainda influenciará outros nomes mais pra frente. | Compre.

una

07
DESCONSTRUINDO UNA, de Una
[Nemo]

Desconstruindo Una é uma obra poderosa sobre como o silenciamento da voz das mulheres alimenta uma cultura da violência da qual toda a socideda é cúmplice. A quadrinista inglesa Una transformou em metáfora visual essa violência masculina, em geral nunca exposta ou punida. Ela fez uma retrospectiva de sua vida e usa sua própria experiência para tratar do tema, o que torna a leitura perturbadora de tão verdadeira. E faz isso através de uma desconstrução da própria linguagem dos quadrinhos, explorando traço, enquadramento e texto de maneira pouco usual. | Compre.

andredahmer

06
QUADRINHOS DOS ANOS 10, de André Dahmer
[Quadrinhos na Cia/Companhia das Letras]

André Dahmer é hoje o autor que melhor reflete esse estado de torpor que vivemos no Brasil em relação aos pequenos absurdos do cotidiano. Com um cenário político que é, por si só, um roteiro ruim cheio de plot twists, essa série de tiras explora essas mazelas do momento conturbado do país. Além disso usa como matéria-prima atitudes execráveis normalizadas no dia a dia, como o preconceito de classe. Dahmer faz tudo isso com um humor bastante direto, que muitas vezes chegam contundentes ao final da terceira tira, nos forçando a reconhecer esses loucos anos 10 em que vivemos. | Compre.

tunguska

05
INCIDENTE EM TUNGUSKA, de Pedro Franz
[Independente]

Pedro Franz trabalhou Incidente em Tunguska como sua dissertação de mestrado e acabou transformando a experiência em uma exposição e uma publicação independente. Mas só em 2016 ele lançou a obra em seu site para venda (cobrando só o envio), o que possibilitou que mais leitores tivessem acesso a esta que é uma das HQs mais experimentais e ousadas nos últimos anos. Franz fez diversos estudos em texturas, narrativa e linguagem dos quadrinhos para contar a história do episódio real que aconteceu na Sibéria em 1908 quando um meteoro explodiu na região em circunstâncias ainda hoje pouco explicadas. A obra tem uma importância para a cena de quadrinhos no Brasil por propor um diálogo com as artes plásticas até então inédito – os originais ganharam uma exposição em uma galeria e foram comercializados originais. Franz explora esse trânsito entre duas artes distintas como parte intrínseca à obra e não como um plus ou colecionismo. Além disso, ao iniciar esse projeto como um trabalho acadêmico o autor discute os lugares que os quadrinhos podem ocupar e o que significa para a HQ enquanto produto artístico. É uma obra que ainda merece muitas outras leituras e que rende reflexões importantes sobre a produção autoral de quadrinhos no Brasil hoje. | Adquira grátis ou leia online.

hiphop

04
HIP HOP GENEALOGIA, de Ed Piskor
[Veneta]

A história do hip hop é também a história da superação da comunidade negra explorada e violentada na América. Ed Piskor reuniu a história da gênese desse movimento cultural que começou nos subúrbios pobres da Nova York dos anos 1970. Hip Hop Genealogia é um documento importante que nos ajuda a compreender como essa cultura nascida nos guetos acabou tornando-se um dos maiores fenômenos pop de nosso tempo. O autor conta histórias que serviram de combustível para o nascimento do hip hop, como o violência policial, a segregação, o racismo institucional. O livro faz parte do selo Sumário de Rua, uma parceria da editora com o Laboratório Fantasma, produtora do rapper Emicida, que inclusive assina o prefácio. | Compre.

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03
SOPA DE LÁGRIMAS, de Gilbert Hernández
[Veneta]

Uma das obras mais importantes das HQs americanas. Ponto. Sopa de Lágrimas merece estar disponível em qualquer mercado editorial que se preze e esse lançamento da Veneta foi umas das melhores notícias que tivemos este ano. Criado por Gilbert Hernandez na série Love&Rockets, a obra conta histórias passadas na cidade fictícia de Palomar, esquecida por deus em algum recanto da América do Sul. Os personagens possuem aquela profundidade que nos conecta de um modo bem particular, como se os conhêcessemos. Hernandez aglutina referências do imaginário latinoamericano, o que nos conecta com um passado que já vemos com afeto e distância. Como um bom contador de histórias o autor usa poucos artifícios e faz da fluidez de sua narrativa, dos personagens e do traço sóbrio os motores que fizeram desse gibi um clássico. | Compre.

laerte

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02
MODELO VIVO / A HISTÓRIA DO SÉCULO XXI / DEUSA, de Laerte Coutinho
[Barricada/Boitempo]

Laerte Coutinho fez de sua inquietude a matéria-prima para os melhores trabalhos de sua carreira. Sem lançar uma narrativa longa desde Vizinhos, que saiu pela finada Narval Comix, a autora vem explorando diversas possibilidades narrativas e temáticas em sua tira diária na Folha de S. Paulo, publicadas regularmente no seu blog, Manual do Minotauro. Deusa e A História do Século XXI são as séries mais inspiradas deste ano, mas poderíamos considerar toda a sua produção publicada ao longo de 2016. Ativa nas redes sociais, a cartunista não perde a oportunidade de comentar sobre o momento atual do País através de seus desenhos, o que só aumenta a sua importância não só para os quadrinhos, mas como a arte brasileira como um todo. Em Deusa ela aborda de maneira delicada temas como nascimento, morte e identidade. É um dos ápices da atual fase de Laerte com suas HQs que refletem de maneira filosófica e surreal sobre sentimentos e aspectos da vida. Já a História do Século XXI é uma narrativa autobiográfica sobre a passagem do tempo e suas transformações. E já no final do ano tivemos Modelo Vivo, que revelou mais uma faceta da quadrinista, que vem se dedicando a fazer nus artísticos em aulas de artes. O livro reúne vários desses trabalhos, além de alguns quadrinhos, tanto dessa fase atual quanto da anterior. O lançamento coincidiu com a exposição Adágio, em que o fotógrafo Rafael Roncato retratou Laerte nua. Despida por completo, seja em foto ou no traço, Laerte vive seu melhor momento. | Compre e leia online.

bulldogma

01
BULLDOGMA, de Wagner William
[Veneta]

Na entrevista que fizemos com o autor de Bulldogma, Wagner Willian, o editor Paulo Floro disse que a HQ não cabe no papel. E não cabe mesmo: de que quadrinho autoral nacional podemos dizer o mesmo? Que HQ trouxe uma narrativa que se espalhou por outras mídias e fez de sua protagonista uma persona tão crível que até mesmo interagiu com outros quadrinistas e jornalistas? Que outra personagem dos quadrinhos brasileiros foi tão próxima de todxs nós como Deyse Mantovani?

Willian superou tantos marcos nessa HQ que poderíamos defender esse primeiro lugar por muitos parágrafos. Para encerrar esse Top de uma vez queremos dizer que Bulldogma tem uma das histórias mais originais e uma das narrativas mais interessantes do ano. E ponto. O desenho com um tom soturno e o experimentalismo na linguagem reforçam a originalidade dessa HQ. A trama conta a história de Deisy, uma designer e ilustradora que precisar lidar com situações absurdas em seu cotidiano, como o fato de morar em um apartamento com histórico de abduções alienígenas.

É uma HQ com um tempo todo próprio, cuja narrativa não-linear vai sendo entrecortada por lembranças, conversas online, cenas de filme e muitas referências da cultura pop e da filosofia. Mesmo explorando elementos fantásticos, Bulldogma é bastante atual e real, um registro divertido do cotidiano dos dias atuais. Leia nossa entrevista com Wagner Willian. | Compre.

MENÇÕES HONROSAS

REPORTAGENS, de Joe Sacco
QUADRADINHOS, de Lucas Gehre
MATADOURO DE UNICÓRNIOS, de Juscelino Neco
ENTRE UMAS E OUTRAS, de Julia Werz
TÔ MIRÓ, de Ayodê França, Christiano Mascaro, Flavão, Shiko e Raoni Rassis
FUNGOS, de Kochalka
CAROLINA, de Sirlene Barbosa e João Pinheiro
HINÁRIO NACIONAL, de Marcello Quintanilha
A BOCA QUENTE PARTE 2, de Shiko
MAYARA E ANNABELLE VOL. 3, de Pablo Casado, Talles Rodrigues e Brendda Lima
TRAGICAL MISERY TOUR, de Bruno Maron e Ricardo Coimbra