Beirando os 20 anos de carreira, banda Fim de Feira abriu a festa; Otto fechou a noite com repertório em homenagem a Reginaldo Rossi
O último sábado (9) foi um pouco diferente na Usina de Arte. O terceiro dia do festival Arte na Usina viu mais movimentação de artistas do que o normal — ao invés de três atrações animarem a praça da vila de Santa Terezinha, desta vez eram quatro, e com equipes mais numerosas que as anteriores.
E esse maior fluxo de pessoas não foi visto apenas entre os convidados, mas também entre o público, já um indicativo da diferença de direcionamento da programação comparada a noite anterior.
Nos bastidores, ouviam-se comentários de que este foi um dos dia com mais forasteiros e menor número de habitantes da vila da história do festival. Mas não é como se não tivesse sido proposital — um ponto do evento é justamente atrair turismo para a região, e o objetivo foi alcançado excepcionalmente.
Era visível que a maioria das pessoas que pegaram a estrada até a vila de Santa Terezinha se dividiam em dois grupos muito similares: os fãs de Filipe Catto, e os fãs de Marina Lima, dois dos principais nomes da noite, ambas participações inéditas no festival. Mas ainda havia um dia inteiro pela frente, e o evento fez questão de se aproveita disso.
Algumas horas antes do pontapé inicial na praça, ao por do sol, o Usina de Arte realizou a inauguração do Teatro Aberto Camilo Simões — batizado em homenagem ao falecido ex-secretário de Turismo do Recife e irmão da administradora da propriedade e do evento, Bruna Pessoa de Queiroz — com o show “Nuvem Rósea, Chão de Estrelas“, da cantora Lívia Nestrovski e do musicista Fred Ferreira, uma etérea e intimista reimaginação de serestas e serenatas.
Ao escurecer do céu, as luzes da praça já chamam a atenção desde a usina, e o público começa a dar as caras. A maratona de atrações do sábado começou com a banda de forró Fim de Feira, um nome já bem familiar aos locais.
“Tocamos aqui na primeira edição do festival. Não tínhamos dimensão do que era. E foi se moldando como um projeto sociocultural e ambiental. Essa conexão que temos com as pessoas daqui foi sendo construída ano após ano. Temos duas plateias: uma em Recife, e outra em Santa Terezinha”, disse o vocalista Bruno Lins.
O conjunto está vivendo uma nova e próspera era de sua carreira. Em 2023, quebraram o hiato de 12 anos sem trabalhos autorais com o disco “Forró da Liberdade“, e em 2024 completam 20 anos de estrada.
“Trabalho independente durar 20 anos no Brasil é difícil. Tudo o que produzimos ao longo dos anos foi com muito suor, talento, trabalho e amizade. É uma conquista muito grande. Em 2014 não imaginávamos que chegaríamos aos 20 anos”, contou Bruno.
“Para o ano que vem, temos projetos para realizar um um DVD ao vivo do Forró da Liberdade, juntando com a comemoração do aniversário”, anunciou a banda.
Um breve atraso separou a saída dos forrozeiros do palco e a entrada da cantora Filipe Catto. Apesar de dividir o line-up com nomes mais consolidados na indústria, Catto era um dos nomes mais aguardados do festival, e não desapontou.
Com um repertório em homenagem a Gal Costa, a poderosa performance vocal e corporal da cantora arrancou gritos e cantos da platéia, mais interativa do que nunca. Mesmo quem não a conhecia entrou na fila para tirar foto e pedir autógrafos ao fim do show.
“Este foi um ano tão surpreendente e maravilhoso que só podia terminar em Pernambuco. Tenho um carinho tão verdadeiro pelo público daqui desde meu primeiro EP. Estou me sentindo em casa, fiz o show de coração por toda essa trajetória”, declarou Catto.
Filipe Catto criou uma situação complicada: quem viesse na sequência precisava manter o nível do espetáculo. Mas para quem já tem status de lenda da música brasileira, isso não é um problema.
A entrada de Marina Lima no palco parecia até um pouco formal, até um tanto quadrada para alguém tão disruptiva. Era perceptível o preciosismo com cada detalhe, que rendeu até algumas broncas silenciosas aos músicos no palco. Mas a sintonia crescia à medida que o show prosseguia.
Misturando pop-rock com dança contemporânea, tudo carregado com muito sex appeal e atitude, Marina se provou mais uma vez com sua presença crua e intimidadoramente carismática apesar das dificuldades vocais.
E como um agrado, tornando o palco ainda mais LGBTQIA+, Filipe Catto voltou ao palco à convite de Marina para dividir duetos e flertes platônicos.
“Eu e Marina somos muito afins. Ela é uma das artistas brasileiras com quem eu mais me identifico. Ela é imprevisível, sensível, profunda, sexy. Ela me acompanhou durante muitos momentos, e apesar dela ser minha amiga, a artista Marina Lima é de outro mundo”, confessou Filipe Catto.
Responsável por comandar o encerramento da madrugada, Otto trouxe ao Arte na Usina seu repertório de releitura do rei do brega Reginaldo Rossi, e contou com a participação especial da cantora baiana Lavínia.
“Reginaldo (Rossi) é um sonho pra mim, um ídolo maior. E eu quero mostrar que ele poder ser ainda mais do que brega, mas rock ‘n roll”, disse Otto rapidamente sobre o repertório.