Arte na Usina, Água Preta (PE)
Apesar de estar ainda em sua segunda noite e com outros grandes nomes compondo a escalação dos dias restantes, não seria um absurdo afirmar que a última sexta-feira (8) já se firmou como a maior festa da safra 2023 do Arte na Usina.
A praça de Vila Terezinha se apresentou totalmente diferente comparado à abertura, com nomes mais nichados da música brasileira. A plateia pequena, contida e familiar se transformou em uma multidão elétrica e aficionada. E a seleção de artistas diz tudo.
A “Noite do Brega” transformou o distrito em seu próprio microcosmo cultural e político. No palco, a artista local Patrícia Firmino iniciava os trabalhos da noite, com um repertório recheado de clássicos que seriam entoados algumas outras vezes antes do dia acabar. Mas a maior movimentação acontecia nos bastidores, onde os organizadores do evento e os políticos locais se perdiam na correria das equipes de produção do Conde Só Brega e de Dany Myler, dois dos maiores nomes do gênero.
Todo mundo almejando alguma influencia na região queria ser visto ao lado do Conde, apertar sua mão e tirar uma foto. Não por acaso está também foi a noite escolhida pelo prefeito de Água Preta, Neto Cavalcanti (PSB), para subir ao palco e comentar a primeira vez que o poder executivo apoia o Arte na Usina.
O brega tem sido uma das mais populares escolhas de palanques políticos indiretos nos últimos anos, e independente das pretensões por trás da súbita apropriação, o ritmo tem saído beneficiado. Uma ausência sentida nos bastidores, inclusive, foi a do deputado Pedro Campos (PSB), autor do projeto de lei que cria o Dia Nacional do Brega, pauta que levou vários nomes do gênero à Brasília, incluindo as duas atrações restantes da noite.
“Fico lisonjeado e honrado (em representar o brega em Brasília). Precisamos ter um representante forte, e não temos só eu, mas as mulheres Dany Myler, Michelle Melo, Nega do Babado, entre outros cantores e cantoras. Estamos todos na luta para tornar o brega um patrimônio imaterial”, disse o Conde, minutos depois de encerrar o show que arrastou uma multidão para a praça de Vila Terezinha.
Beirando os 70 anos, a lenda do brega não se move muito no palco, nem projeta a voz como colegas do ritmo, mas sua presença é mais do que o suficiente para comandar o público e tirar gritos de paixão das senhorinhas às moças. E o amor foi correspondido.
“Espero ter a oportunidade de estar aqui outras vezes. Fomos muito bem recebidos, vai ser uma honra muito grande voltar, gostei muito da comunidade e das pessoas”, confessou o Conde, olhando através de seus óculos escuros para a organizadora do evento e presidente da Associação Socioambiental e Cultural Jacuípe, que administra a Usina de Arte, Bruna Pessoa de Queiroz.
“Queremos muitos mais, foi lindo. E que venham com tempo para conhecerem o projeto (Usina de Arte). Ano que vem serão 10 anos do Arte na Usina, e queremos o Conde”, respondeu Bruna, entrando empolgada na conversa.
Após a partida do Conde, que já se preparava para voltar à estrada, parte do público também começou a se despedir, mas quem permaneceu teve toda sua energia abraçada por Dany Myler, transbordando de carisma contagiante e vozeirão típico de uma diva do gênero.
“Estar num festival como o Arte na Usina, que fala de arte e respira arte, mostrando o nosso trabalho, não tem como nominar. Estou muito feliz e grata”, disse Dany, que também comentou sua participação na audiência em Brasília que discutiu a instituição do Dia Nacional do Brega em 14 de fevereiro.
“Esse dia consagra, é um dia de merecimento, pertencimento, um movimento que vive de resistência, que abraça a diversidade e a massa. Somos acolhidos pelo povo. A cultura é feita pelo povo. Nada mais importante que tenhamos o nosso dia, e no aniversário do Rei do Brega, Reginaldo Rossi. Estar em Brasília foi muito importante para mostrarmos nossa relevância enquanto movimento cultural”, pontuou.
O festival Arte na Usina é totalmente gratuito e acontece até o domingo (10).
O jornalista viajou a convite da organização do festival.
