Arte contemporânea assusta muita gente: um passeio pelo FILE, em São Paulo

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A instalação de Daniel Canogar, "Tracks" (Divulgação)
Fachada do prédio da Fiepe preparada para o File deste ano (Divulgação)
Fachada do prédio da Fiepe preparada para o File deste ano (Divulgação)

O 14º Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE) instiga o toque e outras sensações do corpo e vai até 1º de setembro

Por Giovanna Casimiro
De São Paulo

Mesmo cercado de dispositivos tecnológicos, interfaces e mídias, o público em geral apresenta certo receio quando o assunto é a produção artística contemporânea aliada às mídias digitais. O SESI-SP apresentou a 14ª edição do FILEFestival Internacional de Linguagem Eletrônica, o principal evento de arte digital no Brasil, que acontece até 1º de setembro de 2013. São quatro espaços: a Galeria de Arte, o SESI-SP Galeria de Arte Digital (fachada da FIESP / SESI-SP Building), o Espaço FIESP I, e o mezanino, além da estação de metrô Trianon-Masp. O programa, que é gratuito para todas as idades, provoca os sentidos e questiona os conceitos preestabelecidos pela maioria das pessoas sobre a arte do nosso tempo. Muito além da visualidade, o festival explora as diversas linguagens tecnológicas na arte, extrapolando a sensibilidade. As obras em exposição trabalham o sentir em seu significado mais profundo: o tato, a visão, a audição, a fala, as diferentes maneiras de percepção do corpo, as emoções, as relações sociais, a realidade aumentada.

Obras como Martela, dos artistas Maria Hsu e Ricardo Barreto, trazem a tona um redescobrimento da percepção do corpo, seus movimentos e sensibilidade. Balance from Within, do artista americano Jacob Tonski, brinca com o olhar do público, que se depara com um sofá equilibrado em apenas uma perna – ilusionismo? Ciência ou arte? A instalação interativa Homage to Benjamin Franklin, criada pela dupla Nacho Cossío & Fernanda Ramos, deflagra cores e sons em uma recriação da famosa sinfonia de copos de cristal, trabalhando as notas musicais e explorando a audição do interator.

Fala, da dupla brasileira (Divulgação)
Fala, da dupla brasileira Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti (Divulgação)

FALA, da dupla brasileira Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti, gera uma divertida conversa entre 40 celulares e o público, a partir de uma palavra falada pelo interator que desencadeia uma espécie de telefone sem fio entre essas “máquinas de falar”. O conjunto de obras (estas e muitas outras) deste ano no festival é a prova de que a tecnologia pode gerar uma grande proximidade entre o ser humano e a redescoberta de suas próprias sensações.

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Não bastasse a exposição de arte e tecnologia, o espaço também reúne games, animações, mangás, jogos e aplicativos para tablets e o inédito Led Show, que acontece diariamente. FILE Games 2013 traz jogos incríveis dos estúdios indie, produções pelos principais desenvolvedores, e instalações de diversos países para o mais importante evento artístico-cultural dedicado à arte e tecnologia na América Latina. Os jogos selecionados são todos relacionados às artes, seja por meio de inovações tecnológicas, gráficos ou jogabilidade. As animações, em sua 3ª edição Anima + apresenta diferentes tipos de animação que vão desde filmes experimentais curtas e longas para filmes produzidos pelos estúdios de renome, incluindo animações interativas.

A instalação de Daniel Canogar, "Tracks" (Divulgação)
A instalação de Daniel Canogar, “Tracks” (Divulgação)

Pela primeira vez apresenta a MOSTRA LED FILE, um novo trabalho interativo pelo famoso grupo francês 1024 arquitetura, formado por artistas Pierre Schneider e François Wunshel, no enorme painel de LED na fachada da FIESP / SESI-SP. As pessoas podem mudar as imagens no painel através de sua voz ou cantando uma canção. Há também a instalação interativa Corpo digitalizado, da artista brasileira Juliana Cerqueira, que será apresentado na estação de metrô Trianon-Masp. Nesta instalação, o visitante pode digitalizar seu corpo em diferentes posições e vê-lo através de monitores de TV.

O evento possui ainda uma área de dedica aos tablets, onde ficam disponíveis diversos dispositivos com games, aplicativos para o público jogar e interagir. Por fim, ocorrem diversos workshops e simpósios com artistas e convidados abertos ao público: propõe discutir a cultura digital eletrônica em termos de suas relações internacionais e promover o diálogo sobre a cultura digital em seu aspecto transdisciplinar. O simpósio também é uma oportunidade de ver apresentações de artistas, como a American Jacob Tonski, que estão exibindo obras na Galeria de Arte do SESI.

Portanto, há um caráter único na dinâmica do FILE: tornar parte da produção artística contemporânea acessível. E diferentemente de tantas obras em museus e espaços expositivos legitimadores, onde o público está habituado a apenas “admirá-las”, aqui, as obras são convidativas ao toque, à participação, à interatividade. Uma exposição, cujo resultado maior é a democratização e popularização da arte. O Festival Internacional de Linguagem Eletrônica confirma o quanto o ser humano busca interagir e trabalhar os seus sentidos através de linguagens digitais/eletrônicas. Muito além do saber quanto às técnicas, procedimentos ou conceitos, no FILE, o participante se relaciona diretamente com a obra, trabalhando seu sentir e agir, independente de sua, idade, classe social ou condição cultural. Arte e Tecnologia mais do que acessível, amigável. Mais informações no site do File.