COMO NÃO SUCUMBIR AO HYPE
Com o lançamento de Suck it and See, os ingleses do Arctic Monkeys provam mais uma vez porque são uma das melhores coisas do século 21
Por Lidiana de Moraes
Da Revista O Grito!
Cinco anos. Esse é o tempo que passou desde que o Arctic Monkeys apareceu dominando a internet, as rádios e tudo o mais ao alcance dos inúmeros fãs indies responsáveis por catapultar os rapazes de Sheffield para o sucesso. Meia década é pouco tempo comparado com os anos de estrada de alguns dinossauros do rock, como Rolling Stones e Neil Young, só para citar alguns. No entanto, em um século tão volúvel quanto o 21, já é o bastante para saber se uma carreira está consolidada ou não. Com o recém lançado Suck it and See, a banda inglesa comprova que só desaparecerá do cenário musical se cansar dessa vida.
Para aqueles que se espelham no Arctic Monkeys e sonham em chegar lá no topo, ao acompanhar a trajetória artística do grupo é possível apontar algumas lições que eles podem ensinar com maestria para se continuar relevante musicalmente, sem sucumbir ao hype.
A primeira lição, mesmo sendo um enorme clichê, é que continuar verdadeiro a si mesmo funciona. O Arctic Monkeys poderia ter se deixado levar pelos inúmeros conselhos musico-administrativos que receberam ao longo dos anos – em especial depois do mal interpretado passeio pelo desert rock de Humbug – mas eles preferiram persistir confiando no próprio taco e com isso aprenderam a segunda lição que a maioria de seus contemporâneos ainda sofre para compreender: é preciso criar uma identidade.
Não importa se você gosta ou não do som dos ingleses, tendo ouvido uma vez, ele penetra na memória musical de tal forma que se torna impossível não reconhecer uma canção deles. Não se trata de repetição massiva, mas sim de dar forma a uma personalidade artística pela qual é possível ser lembrado. Não dá pra confiar só na voz para que as pessoas saibam que determinada música é sua, uma banda é um time, todos os integrantes devem estar unidos tentando atingir um objetivo que é trazer a tona os elementos que fazem se destacar e ser lembrado.
Para os despreparados, o som da banda ter uma cara definida pode ser um tiro no pé, uma desculpa para repetir a mesma fórmula sem parar, com medo de desapontar os fãs. Com o intuito de superar essa fase de insegurança é preciso aprender a terceira lição: torne qualquer mudança de estilo, uma evolução natural. É impressionante pensar que os ingleses estão em seu quarto disco e que com apenas 25 anos apresentam uma maturidade sonora tão espantosa. Suck it and See é um disco completo, uniforme, interessante do começo ao fim. Quando a audição termina, ainda continua impossível apontar qual a canção predileta.
Não é preciso analisar cada acorde do disco para perceber o bom momento desses jovens; é só começar pelas letras. Se Turner já era apontado como o novo poeta da geração atual, em sua quarta empreitada, ele nos presenteia com jogos de palavras e frases cheias de sarcasmo que só podiam sair da cabeça de alguém que ficou mais sábio do que as pessoas de sua idade. Tanta esperteza é resultado de ter passado o fim da adolescência sendo perseguido por possíveis palpiteiros aduladores e resistindo bravamente, guardando as piadas para contar e rir por último a cada novo lançamento.
A estabilidade em torno das 12 criações apresentadas no disco é a resposta perfeita para todos que em algum momento podem ter levantado a hipótese de que a relevância dos Monkeys só diminuiria a cada novo trabalho, afinal eles não passariam de mais uma onda adolescente que passa com o tempo e a chegada de algo mais “moderno”.
Para quem insiste em comparar cada novo trabalho do Arctic Monkeys com o Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not, chegou a hora de encarar que eles não repetirão a fórmula que causou uma revolução no panorama indie mundial. Grandes insurreições só podem ser feitas uma vez. Quem se importa com a moda, melhor aguardar a “próxima grande descoberta”, em vez de ficar reclamando que “eles não são mais os mesmos”. Agora se a música é ainda o mais importante, o Arctic Monkeys merece aplausos, mais uma vez.
ARCTIC MONKEYS
Suck It And See
[Domino, 2011]
NOTA: 8,5
[Recomendado]