Anos 00: Excessos de – e da – moda

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CELEBRAÇÃO FASHION
Os 00 foi a década em que o fashion foi abraçado por todos e que todos os limites foram derrubados. Nos anos 10, é bem possível que a década anterior – os 90 – bata à porta. Peguem as flanelas grunges
Por Joana Coccarelli, colunista da Revista O Grito!

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Vamos admitir: se vestir foi mais divertido do que nunca nos anos 00. Todo mundo entrou na dança – o termo “fashion” foi adotado até mesmo pelas classes baixas, virando bordão para looks produzidos. Assim como há vinte e poucos anos atrás, o revisionismo oitentista que comandou esta década (e no momento culmina com a celebração dos ombros aumentados) caminhou de mãos dadas com flashes dos anos cinqüenta, desta vez freqüentemente traduzidos com a onda das pin-ups (cada vez mais tatuadas) e muito bem representados pela proliferação dos óculos Wayfarer. Ainda assim, o grande pano de fundo da moda dos anos 00 foi o rock n´roll: gostando ou não, os emos são um produto disso.

Programas televisivos de canais fechados ensinaram às mulheres que sapato de salto e bico fino alonga a silhueta – o que não evitou que as sapatilhas dominassem a cena a partir de 2007. Experts em moda gongaram as leggings, mas não adiantou, e muitos estilistas continuam lançando variações em desfiles internacionais. Calças skinny, graças a Deus, foram adotadas apenas pela limitadíssima fatia de antenados com shape para usá-las, e muita mulher se matou na academia para vestir microshorts. Viseiras, munhequeiras, all star converse, óculos enormes, balonés, cintura marcada, estampa camuflada, camiseta regata, calças cargo, esmaltes em cores cada vez mais berrantes e ainda em franca inclusão de verdes, azuis e amarelos: foi um mundo de luzes, cores e cristais Swarovskys de Beyoncé, e a chegada definitiva da estética independente ao mainstream.

Mas os últimos dez anos também tiveram suas febres próprias: camisetas com estampas vintage, os controversos crocs, as horrendas botas pata-de-bode, geek chic, sandálias gladiadores, rasteirinhas… sem contar que, aos poucos, modelos conceituais vão ganhando mais adeptos – em outras palavras, mais e mais gente anda desbravando mares antes apenas navegados por Bjork (num vestido de cisne, é claro!) e outros poucos excêntricos. Sai a obrigação datada da roupa como adequação social e entra a do estilo pela diversão de se produzir, encontrando nos hipsters sua autoridade suprema.

Vimos Gisele Bündchen se tornar a modelo mais rica de todos os tempos e Kate Moss seguir impávida como ícone cult mesmo após cliques indiscretos e namorados trash; conhecemos todo o potencial oculto de Gwyneth Paltrow, que virou um mulherão depois de parir Apple; adoramos a estranheza de Chloe Sevigny e Agnes Deyn, a androginia de Tilda Swinton, as centenas de vestidos Carolina Herrera de Renée Zelwegger e até mesmo a cara aguada de Siena Miller; odiamos o pink eterno de Paris Hilton, o jeca do loiro-sobre-pele-morena de Britney Spears e a permanente carranca de Victoria Beckham. Recebemos, como nunca, imputs gráficos de toda uma legião de celebridades.

O volume de novas mídias de moda bateu com a cabeça no teto: revistas como Vogue, L´Officiel, Elle e W procuraram buscar mais e mais leitores, alavancando a editora Anna Wintour para o status de celebridade mundial com direito a personagem em “O Diabo Veste Prada”. Aliás, desde “Pret a Porter”, de Robert Altman, a moda não tinha tanto foco no cinemão. Mas os anos 00 também serão lembrados como a era em que as revistas passaram a competir com canais exclusivos de tevê (no Brasil há o Fashion TV) com ampla programação própria, incluindo reality shows como o aclamado “Project Runway”; e, de surpreendente impacto sobre a indústria formal, os blogs de estilo, com destaque para o The Sartorialist.

No país, a saída de Erika Palomino da Folha de S. Paulo para focar em seu site e em sua House of Palomino firmou-a como a mais nova papisa do jornalismo fashion, arfando uma lufada de frescor a uma corte antes apenas estrelada por senhoras como Constanza Pascolato. Paulo Borges, idealizador do São Paulo Fashion Week, resolveu dar um passo além e lançou a Mag!, a melhor revista nacional de estilo. Cursar Moda passou a ser tão comum quanto Turismo, inflando o já fervido boom de novos estilistas e stylists brasileiros.

A peça revival que também marcou os anos 00, a muito incompreendida calça saruel, é um aceno de que, com o início dos anos 10, os idos 90 estão regressando (conforme previsto). Foi de lá que veio a saruel – os clipes de MC Hammer não mentem. Aos poucos, muito timidamente, vemos um editorial sobre minimalismo andrógino, um anúncio da Escada com Christy Turlington, um batom opaco. Pelo jeito, daqui a dez anos a retrospectiva da década que daqui a pouco começa estará embalado em flanela grunge.

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