A 14ª edição do ANIMAGE – Festival Internacional de Animação de Pernambuco ocorrerá de 1º a 6 de outubro, trazendo uma série de exibições, palestras e workshops dedicados à animação de diversos estilos e origens. Entre as atrações, está inclusa a Mostra Africana, uma iniciativa que busca valorizar a riqueza da animação do continente africano, composto por 54 países, cada um com suas tradições e modos de expressão únicos.
Com curadoria de Kalor Pacheco, a Mostra Africana visa desafiar a visão monolítica que muitas vezes é associada à África. “Há uma imposição imperialista de que pensemos, cá da diáspora, na África como algo homogêneo”, afirma Pacheco. “A animação africana nos oferece um vislumbre dessa complexidade, mostrando tanto uma África tradicional, conectada à natureza e à ancestralidade, quanto uma África moderna, inovadora, e para além dos binarismos, continuamente ativa e criativa politicamente. É uma forma de desmistificar a visão exótica e limitada que muitas vezes se tem do continente”, ressalta.
A curadora também reflete sobre os desafios que cineastas africanos enfrentam no mercado global de animação. “A cada Mostra e a cada interação com realizadores africanos e africanas, seja assistindo aos seus filmes ou trocando e-mails e se acompanhando nas redes sociais, fico mais consciente dos desafios que enfrentamos no Sul Global. O mercado global de animação ainda é extremamente hegemônico, concentrado em grandes centros econômicos, o que cria barreiras tanto para a África quanto para a América do Sul”, destaca.
Temas de ancestralidade
A ancestralidade é um tema central abordado na Mostra Africana, sendo explorada em duas dimensões principais. A primeira é a conexão com as tradições culturais dos países representados. Um exemplo é o filme Sacrifice, de Mahoutandji Kinmagbo, do Benin, que retrata práticas e crenças tradicionais da região.
A segunda dimensão se refere à ancestralidade mais imediata, relacionada a figuras familiares e à continuidade de legados. Isso é evidenciado em filmes como Impa Le Sang Melê (Boumale Cristian Hermann Kouame, Costa do Marfim, 2022) e En Surface (Fan Sissoko, Mali, 2021), que abordam as relações intergeracionais e a conexão com as raízes familiares.
“Para o público do festival, oferecemos uma perspectiva mais palpável de ancestralidade, tendo em vista a diáspora africana, em uma experiência de conexão com o presente e com nossas próprias famílias”, afirma Kalor Pacheco.
Atrações e interações
Além da Mostra Africana, o festival ANIMAGE 2024 apresenta uma programação variada, com a exibição de 138 filmes de 43 países, incluindo 5 longas e 133 curtas-metragens. Entre os longas, estão a exibição do clássico japonês Akira, em versão restaurada, e o documentário francês Miyazaki, L’Esprit de la Nature, que abre o festival.
Também serão apresentados Boys Go to Jupiter, uma comédia pop norte-americana, e o feminista El Sueño de la Sultana, coprodução Espanha e Alemanha. O festival conta ainda com 45 sessões, 9 mostras especiais e atividades formativas, como oficinas e bate-papos.
Veja a seleção de filmes da Mostra Africana (Class Ind: 12 anos)
- Kwaba, de Sindo Ghislain-Arthur e Piña (Costa do Marfim, 2021, 2’)
- There Once Was a Boy, de Salma Waleed Enani (Egito, 2023, 5’)
- We Are All Mad Here, de Bochra Triki (Tunísia, 2023, 16’)
- En Surface, de Fan Sissoko (Mali, 2021, 4’)
- 00PRFNTNT, de Ismael Ahlamine (Marrocos, 2024, 2’)
- Christopher Changes His Name, de Cilia Sawadogo (Burkina Faso/ EUA, 2000, 7’)
- Black Barbie, de Comfort Arthur (Gana, 2016, 4’)
- Luminary Shades, de Ismail Sijelmassi (Marrocos, 2024, 1’)
- Impa le Sang-Mêlé, de Bomale Christian Hermann Kouame (Costa do Marfim, 2022, 16’)
- Sacrifice, de Mahoutondji Kinmagbo (Benin, 2023, 2’)
- Echoes of the Soul, de Mourad Hamla (Argélia, 2024, 6’)