André Paixão
Fora do Ritmo
Super Discos, 2023. Gênero: Indie Rock, Pop, MPB
Conhecido como Nervoso, o baterista André Paixão esteve envolvido em bandas que marcaram o pop brasileiro, como Acabou La Tequila, Matanza e Lafayette e os Tremendões. O apelido veio do vigor com que tocava bateria, instrumento com o qual sempre esteve associado. Agora, em seu projeto mais pessoal e ambicioso, ele vai fundo nas possibilidades percussivas em um trabalho construído ao longo de mais de dez anos. Ao lado da sua empreitada estão nomes como Pupillo, Wilson das Neves (1936-2017), Bacalhau (ex-Planet Hemp), Rodrigo Barba (Los Hermanos), Guto Goffi (Barão Vermelho), Dany Roland, Domenico Lancellotti e Marcelo Callado.
Ao lado de todo essa turma, Paixão conseguiu explorar diferentes possibilidades da bateria, com resultados variados. Em todas as faixas perpassa um interesse genuíno em abraçar diferentes caminhos no pop, mas fica nítido também o tom colaborativo do trabalho. É também um disco muito pessoal, em que o músico evoca diferentes momentos de sua vida, alguns bem duros e marcados por desilusões amorosas.
Parte da melancolia de algumas faixas se deve ao fato do trabalho ser influenciado pelo término de seu relacionamento com Guta Stresser, atriz com que viveu por 14 anos e de quem se separou no ano passado. “Amor Egoísta”, com Wilson das Neves na bateria, representa bem um desses momentos de certa tristeza contemplativa. “Maduro”, com Domenico Lancellotti, com sua levada de música de baile, tem uma nostalgia que conversa bem com a proposta conceitual do disco.
O álbum tem ainda outros momentos bem ricos em que exploram bem a bateria como um instrumento em primeiro plano, que carrega a canção, e menos como um elemento de composição. “O Ladrão de Vírgulas”, com Marcelo Callado, “Vestido Vermelho” com Pupillo e “O Colecionador de Céus”, com Katia Jorgensen e Biba Meira, são bons exemplos. Ainda olhando para a bateria com olhar inovador, André Paixão deixou de lado os solos virtuosos, intermináveis (de que ele é capaz, evidentemente), mas que soariam óbvios demais para quem busca novos olhares para o instrumento.
Fora do Ritmo é um disco com um conceito muito bem amarrado e ótimas letras, mas como muitos trabalhos feitos por um período de tempo muito longo, o resultado soou irregular em alguns momentos. “Franchement” com Guto Goffi e “Um Povo Só” soam deslocadas do restante do disco.
Mas, apesar desses momentos, o disco é muito convidativo e marcado por um olhar muito interessante de um instrumento muitas vezes negligenciado pelos ouvidos menos atentos. Em seu primeiro disco solo com seu nome de batismo, André Paixão construiu um trabalho marcado por vulnerabilidade e sentimentos genuínos, com ótimas composições alinhado a uma produção bem sofisticada que conseguiu extrair o melhor de cada participação.
