O escritor André Balaio lança Quebranto (Patuá), seu primeiro livro de contos, neste sábado (10).
O trabalho reúne 13 contos de literatura fantástica como o premiado “O lado de lá”, que venceu na categoria conto na OFF Flip em 2016. Balaio é escritor, roteirista e cofundador do site O Recife Assombrado. Estas treze histórias levam o leitor para um passeio pelo terreno já conhecido do autor, o sobrenatural. Ele é autor, ao lado de Téo Pinheiro, das HQs Algumas Assombrações do Recife Velho e A Rasteira da Perna Cabeluda.
Embora escreva há anos, André demorou a sentir que estava pronto para trilhar um caminho independente e ter um livro só seu. O processo de amadurecimento o levou a publicações coletivas e a procurar o apoio e mentoria de escritores como Raimundo Carrero, Sidney Rocha, Marcelino Freire e Paulo Caldas.
Quebranto é uma reunião de narrativas em que fantástico e o insólito aparecem como fissuras na aparente normalidade de seus personagens. Após ler o livro, Marcelino Freire ressaltou que, embora fosse uma obra de literatura fantástica, o melhor dos contos era justamente a construção dos personagens. A obra conquistou o terceiro lugar no concurso literário internacional da União Brasileira de Escritores (UBE–RJ) no último ano, assim como foi finalista no Prêmio Nacional Sesc de Literatura de 2017 (sob o título “Noite Cega”) e também no Concurso Literário Nacional CEPE 2017.
O lançamento será na charmosa Casa Cultural Vila Ritinha – casarão do século 19 localizado na Boa Vista que hoje é um café e centro cultural – no sábado, 10, das 17h às 21h. Durante o evento, o escritor Sidney Rocha (responsável pelo texto de apresentação na contracapa) e o ator, diretor e escritor Marcello Trigo farão leituras de trechos do livro
A entrada é gratuita e o exemplar será vendido por R$ 40.
Leia um trecho do livro:
Na estrada vicinal, passou a ponte sobre um leito de rio seco e virou no caminho estreito após um trecho de mata, dobrou à direita e viu outra ponte feita com ripas de madeira transversais idêntica à anterior. Parou o carro e observou. Era a mesma ponte. O suor escorria e não aparecia ninguém a quem perguntar. Seguiu. De novo os arbustos, a estradinha de terra, novamente a ponte, a mesma ponte. Estava em círculos.
Surgiu na curva uma carroça puxada por um pangaré, tão magro quanto o velho de barba branca, chapéu de palha e fumo no canto da boca que a conduzia. Veio devagar na direção do carro. Lorena desceu e balançou as duas mãos para que parasse. Já não acreditava que encontraria o lugar, queria ao menos achar o caminho de volta. O homem era igual, igualzinho a Sebastião, o empregado da fazenda. Sebastião, é você?
Ele não respondeu, apenas apontou para uma casinha logo na frente, quase invisível no meio de plantas e arbustos. A casa estava lá o tempo todo mas era como se tivesse aparecido naquele momento. O velho açoitou o cavalo com um chicote e continuou o caminho sem se despedir. Lorena bateu palmas na frente do portãozinho e uma mulher: pode entrar! Tentou girar a maçaneta, estava fechada, bateu na porta pequena – parecia a casa dos sete anões – e nada. De novo a voz: aqui atrás!
Nos fundos da casa havia uma mesa coberta de imagens de São Sebastião flechado, Iemanjá de braços abertos e São Jorge a cavalo matando o dragão, crucifixos, velas brancas, bandejas com mangas, melões e melancias, abrigada à sombra
de uma mangueira de copa imensa.
– Finalmente a moça da cidade.
A voz guiou a vista de Lorena para cima, para um galho da árvore, onde se agarrava a velhinha miúda de vestido branco e cachimbo na boca que desceu pelo tronco com a rapidez de uma onça e esticou o braço à frente com a mão de pele grossa emborcada que a jovem, sem jeito, beijou.