A Agência Nacional do Cinema (ANCINE) publicou, nesta terça-feira (3), o Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2024, um estudo que analisa a presença de obras brasileiras nas principais plataformas de Vídeo sob Demanda (VoD) no país. A pesquisa, que abrange uma amostra de 60 plataformas, destaca as tendências de oferta e consumo de conteúdos nacionais, com foco na distribuição e financiamento de produções brasileiras.
De acordo com o levantamento, as obras brasileiras representam 8,5% do total de conteúdos nas 25 principais plataformas analisadas, o que equivale a 4.634 títulos. Esse percentual é semelhante ao observado em 2023, quando a participação era de 8,8%, com 4.407 títulos. No entanto, uma redução foi registrada nas cinco plataformas com maior audiência: a participação de obras brasileiras caiu de 8,5% em 2023 para 7% em 2024, com uma diminuição no número absoluto de títulos, de 1.867 para 1.824.
“A representatividade do cinema nacional nas plataformas de Vídeo sob Demanda (VoD) ainda é limitada e desigual. O Brasil não possui uma regulação que garanta espaço para produções locais nesses serviços, concentrando-se em poucas plataformas. Isso afeta tanto o alcance do cinema industrial, voltado ao mercado, quanto do cinema cultural, que promove diversidade e expressão artística”, comentou Tiago Martins Rêgo, diretor, produtor e roteirista audiovisual.
Dentre as plataformas com maior volume de títulos brasileiros, destacam-se Vivo Play e Claro TV+, ambas vinculadas a serviços de telecomunicações. Essas plataformas somam 65% dos títulos brasileiros da amostra, com 1.943 títulos na Vivo Play (13,3% do seu catálogo) e 1.734 títulos na Claro TV+ (12,7%). A Globoplay também figura entre as principais, com 1.241 títulos, correspondendo a 28,3% do catálogo.
Por outro lado, seis das 25 plataformas analisadas apresentam uma participação percentual de conteúdo brasileiro abaixo de 5%, refletindo a discrepância na oferta de títulos nacionais entre os serviços.
“Enquanto obras como Ainda Estou Aqui mostram o potencial do audiovisual nacional em conquistar audiências globais, a ausência de políticas públicas eficazes impede que esse impacto se amplie. A falta de regulamentação do VoD desfavorece pequenos produtores e limita o financiamento para projetos culturais, restringindo a presença do cinema brasileiro em catálogos internacionais”, analisou Rêgo.
O estudo também revelou que a grande maioria das obras brasileiras disponíveis nas plataformas de VoD são independentes. Das 4.396 obras brasileiras com espaço qualificado identificadas, 70,1% (3.247 títulos) são produções independentes. Em termos de financiamento, 31,7% das obras brasileiras foram viabilizadas com recursos públicos, sendo que 14,4% receberam apoio exclusivamente das leis de incentivo federais e 9,3% foram financiadas pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Além disso, 8,1% das produções utilizaram ambas as fontes de financiamento público.
“É urgente criar uma legislação que exija das plataformas uma cota mínima de produções nacionais e investimentos no setor. Além disso, é necessário equilibrar o financiamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), com recursos reembolsáveis para projetos comerciais e subsídios diretos para obras culturais. Investir na internacionalização e descentralização da produção também é fundamental para fortalecer narrativas regionais e diversificar a representação do Brasil no exterior”, afirmou o diretor.
O levantamento também destaca a concentração da produção brasileira nas regiões Sudeste e Sul. Os estados do Rio de Janeiro e São Paulo representam juntos 79% das obras brasileiras disponíveis nas plataformas, com 2.270 e 1.393 títulos, respectivamente. Os estados do Rio Grande do Sul (205 títulos), Paraná (118) e Distrito Federal (102) seguem na sequência, mas com um volume bem menor de produções.
“Sem essas medidas, o cinema nacional seguirá subaproveitado, perdendo oportunidades de se consolidar como uma força no mercado global e de promover a identidade cultural do país”, concluiu Rêgo.
Este panorama segue a linha do estudo de 2023 e amplia a análise, incluindo novos enfoques como o financiamento das produções e a origem geográfica das obras. O levantamento completo pode ser acessado no site da ANCINE aqui.