Adaptação de romance húngaro, Pilato emociona ao falar de mãe e filha

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Magda Szabó foi uma escritora húngara que sofreu perseguições políticas na Hungria comunista. Sua obra contundente, no entanto, está voltada para o terreno árido dos dramas pessoais.  Pilatos, adaptada para o cinema por Linda Dombrovszky,  com a colaboração dos roteiristas György Somogyi e Sándor Szélesi, trata mais especificamente das relações entre Anna (Ildikó Hámori), a mãe, dona de casa provinciana, e sua filha, Iza (Anna Györgyi), médica e profissional bem-sucedida.

É também uma trama que aborda a forma como lidamos com a morte e a velhice, com a nossa mortalidade. A narrativa está dividida, assim como o livro em terra, fogo, água e ar. O outro título em inglês, Iza´s Ballad, coloca a filha Iza num papel central, enquanto Pilatos remete à figura do governante romano Pôncio Pilatos, conhecido por ter sido o juiz que não interveio contra os fariseus na condenação de Jesus Cristo a morrer na cruz. Desta forma, o ato de Iza de  lavar as mãos, ao início do filme e ao seu final,  eximindo-se de sua responsabilidade, está envolto em culpa e dor.
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A abertura do filme, com a mãe recebendo a notícia da morte de seu amado marido, com a câmera em close, funciona como uma introdução ao belo trabalho de Dombrovszky, em seu primeiro longa. Não há diálogos, o  médico é apenas uma voz, a relação se estabelece a partir da expressão facial de Anna – ela entra como uma mulher feliz, empoderada, e a partir da notícia, seu rosto se apaga, como se ela estivesse entranto em transe.

O que é importante não são os detalhes, as imagens do hospital são muito rápidas,  são as emoções de Anna que nos conduzem. Para a viúva, que conversa com o marido e companheiro como se jamais houvesse partido ao longo de todo o filme, o tempo não passou.

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A partir dali, vamos acompanhar as duas em sua conflituosa jornada que se inicia com Iza decidindo, de forma autoritária, que a mãe irá morar com ela, na cidade. O apartamento elegante e moderno em tons de cinza contrasta de forma impactante com a casa ampla e iluminada do campo, com artefatos simples, e um coelho de estimação, o Capitão.

Iza decide o que é melhor para sua mãe naquele momento, porque não consegue entender a importância afetiva de uma panela velha, de um quadro roto, que para ela são apenas elementos decorativos. É preciso inovar, ela diz. Para Anna, tudo é memória, e sua expressão vazia e dilacerada antecipa a tragédia.

O filme é excepcionalmente maduro para uma autora estreante, não apenas pelos lindos planos, pela fotografia, e pelo trabalho de atores, mas pelo tema escolhido e pelo recorte preciso que ela faz dos dois mundos que jamais se encontram, o da mãe e o da filha.  Não se trata aqui apenas de mais uma história abordando as relações nem sempre fáceis entre mãe e filha, mas também de uma reflexão sobre a morte e a vida. Anna representa um passado antiquado, Iza a cidade moderna e nem sempre acolhedora, e elas travam aqui um embate duro e fatal.

O filme deve estrear na televisão húngara em novembro.

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