Zé Manoel
Coral
Independente, 2024. Gênero: MPB
Pensar a música a partir de diferenças geracionais tem sido um dos destaques no trabalho de Zé Manoel desde seu terceiro álbum, Delírio de um Romance a Céu Aberto (2016), ao fazer um panorama da MPB com as cantoras convidadas para acompanhar o seu piano. No álbum seguinte, o exemplar Do Meu Coração Nu (2020), que rendeu indicação ao Grammy Latino, o artista pernambucano seguiu com a reflexão sobre o tempo, mas da perspectiva de raça, um trabalho delicado para falar de ancestralidade através da música.
Esse ainda é o percurso seguido em Coral, mas agora expandido para outros lugares e outros ritmos. Zé Manoel, junto da produção de Bruno Morais, relembra os grupos que são base da cultura brasileira, mesmo que pouquíssimo creditados por isso, e cria momentos no disco para saudar os indígenas, nordestinos e, principalmente, o povo negro do Brasil. Tudo isso de um jeito de une passado e presente da música.
O que Zé Manoel faz com profundidade é reverberar vozes do passado que, direta ou indiretamente, estão presentes na música que ele faz hoje. Seja pelo trecho da poesia da poeta mineira Lubi Prata recitado por Luedji Luna, pelas interpolações de clássicos como “Malaika” de Miriam Makeba ou “Siriri-Sirirá” de Marinês e Sua gente ou em formas de homenagem mais diretas como “Uma Canção de Amor Para Johnny Alf”, um aceno para o músico Johnny Alf, um nome que tem grande contribuição para a MPB e, no entanto, tão pouco reconhecimento.
Todas as referências dentro desse trabalho são permeadas por uma produção bem modernosa. As faixas como “Golden” e “Iyá Mesan”, um feat com Alessandra Leão, que remetem muito às músicas de Xênia França, Liniker – que assina “Deságua Para Emergir” – e da própria Luedji Luna, que no caso são músicas que fundem elementos de gêneros como jazz, soul R&B com elementos da música brasileira. O que traz brilho ao disco é fato de que essa fusão de gêneros e do passado com o presente se amplifica para outras áreas como o baião, caboclinho e bossa nova.
Coral parece afunilar a discussão sobre ancestralidade e herança cultural para dentro da música brasileira. Ao colecionar referências e inspirações, e as adaptar em uma produção atual, Zé Manoel faz uma espécie de reverência ao passado da música e, obviamente, decide demonstrar que esses legados continuam no que produzimos e consumimos hoje.
Escute Coral, de Zé Manoel
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