Kylie Minogue
Tension
BMG, 2023. Gênero: Pop
Em quatro décadas de carreira, Kylie Minogue já não precisava provar nada a ninguém. Seus fãs estão engajados o suficiente para apoiar as diferentes empreitadas da artista, como provam os seus shows lotados (inclusive aqui no Brasil). Mas aí veio “Padam Padam”, um dos maiores hits de 2023 e certamente um dos maiores clássicos pop pós-pandêmicos. Quem esteve vive este ano certamente se deparou com o hit em algum momento. Se for LGBT então, aí a certeza beira os 100%.
Tension, seu novo trabalho, traz Kylie Minogue ao pop clássico, ou seja, aquele sem atravessamento de outros gêneros, conceitos que buscam desconstrui-lo ou levá-lo a interagir com outras paisagens sonoras. É o pop escapista, emotivo, de emoções evidentes, de impacto rápido. O pop que não necessita de explicação alguma. Em diferentes momentos de sua carreira, Kylie foi fazendo esses passeios para fora de sua zona de conforto, com resultados irregulares.
Seu ultimo disco, inclusive, busca a nostalgia das discotecas (DISCO, de 2020). Mas já tivemos a Kylie introspectiva e experimental no ótimo e pouco conhecido Impossible Princess (1997) e até mesmo uma tentativa de soar country em Golden (2018). Tension realoca a cantora para junto de seus clássicos, como Fever (2001) e Body Language (2003), álbuns que até hoje soam como um padrão-ouro no pop, referências de um som cativante, sofisticado, porém com personalidade de não soar genérico ou apelativo.
Além de “Padam Padam”, Tension tem diversas faixas que apelam a esse sentimento de urgência, mas sem soarem histriônicos, como “One More Time” e a faixa-título. O outro single dessa leva, “You Still Get Me High”, que oscila entre a balada e as batidas pesadas, também entra nesse conjunto de faixas que farão bonito no catálogo de hits da artista. A melhor do álbum é “Hold On To Now”, com uma batida house que explode em catarse após um clímax muito bem construído.
O disco se retrai apenas em “Vegas High”, que faz escolhas duvidosas que fazem a faixa soar genérica demais, com batidas que soam monótonas. A impressão é que a música foi adicionada às pressas para promover a residência artística de Kylie Minogue em Las Vegas.
A produção elegante de Biff Stannard, Duck Blackwell, Jon Green e da própria Kylie buscaram adicionar arranjos originais que exploram o estilo vocal da cantora, sempre mirando a proposta dançante, mais solta, sem um conceito que sirva de cola entre as faixas. É como se ela retornasse ao âmago de seu projeto artístico, de diva pop com acenos ao eletrônico (sobretudo o EDM e o eurohouse), uma escolha certeira em pistas de dança.
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