BABAIOFF

Tom na Fazenda, com Armando Babaioff, retorna ao Recife: “Teatro é o museu da humanidade”

Peça está em cartaz desde 2017 e já acumula mais de 60 mil espectadores. "Espero levar aos espetáculos pessoas que nunca foram ao teatro"

Quando o ator e produtor pernambucano Armando Babaioff começou a ensaiar a peça Tom na Fazenda, um dos maiores sucessos do teatro brasileiro recente, o Brasil ainda vivia o segundo governo Dilma Rousseff, que em 2016 já dava sinais de desgaste. Quando a montagem finalmente ficou pronta, o presidente já era Michel Temer, mas a trajetória da peça ainda atravessaria mais dois governos e uma pandemia até chegar aos dias atuais com mais de 370 apresentações no Brasil e no exterior.

“Essa peça viu tudo isso”, diz Armando Babaioff em entrevista à Revista O Grito!. Tom na Fazenda retorna ao Teatro do Parque, no Recife, neste sábado (09) e domingo (10) após uma primeira vinda de muito sucesso. “Dá para contar parte da história do teatro brasileiro e do Brasil a partir dessa peça. No governo Bolsonaro sofremos perseguição, vimos a presença do público rarear, fomos sentindo o desmonte, as coisas ficando esquisitas. Foi uma época difícil, em que fiquei muito apreensivo em relação ao futuro”, recorda. Se pensarmos em como o governo anterior foi danoso e violento para a população LGBTQIA+, mulheres e outros grupos minorizados, dá para compreender a apreensão.

O contexto do Brasil à época levou Babaioff e equipe a buscarem palcos mais receptivos, com a estreia da peça em cidades no exterior, incluindo uma temporada de sucesso na França. “O que chamou atenção no público internacional foi nossa maneira de fazer teatro. Nossa peça tem um palco nu, sem coxias, com o espaço aberto, há uma sensação de intimidade e proximidade muito grande”, diz Armando Babaioff. “Parte do sucesso se deve ao nosso diretor Rodrigo Portella em acessar outras camadas do texto, como as relações familiares”.

Na história, escrita por Michel Marc Bouchard, o jovem Tom vai à fazenda da família do seu falecido companheiro. Ao chegar ao funeral, ele descobre que a sogra nunca tinha ouvido falar dele, nem tampouco sabia que o filho era gay. A trama relata como a busca por uma “heteronormatividade” pode dar origem a diferentes formas de violência dentro das famílias.

Tom na Fazenda.

“No Brasil, tem o fato de muitas pessoas ainda estarem descobrindo essas questões, como a homofobia, e isso é muito forte”, diz Babaioff. “O teatro tem um papel muito importante de discutir e debater esses assuntos. Teatro é o Museu da Humanidade, tem relação com nossa ancestralidade, nosso sonhos, o que nos conecta. É tudo muito verdadeiro, acontecendo ali ao vivo”, diz o produtor.

A chegada de Tom na Fazenda ao Teatro do Parque, um espaço histórico recém-restaurado, é também motivo de orgulho para a equipe da peça. “É lindo demais estar nessa casa, em um local público, no Centro. Estamos viajando ao Brasil encenando em locais históricos, que resistem.”, diz Babaioff. “Meu maior desejo é levar ao teatro pessoas que nunca foram”.

Tom na Fazenda faz oito apresentações no Nordeste e em seguida se prepara para uma nova turnê no exterior ainda este ano. Desde 2017, a peça já acumula mais de 60 mil pessoas. “O teatro salvou minha vida. Eu levo essa peça como uma missão de vida. Vou me manter no palco enquanto durar o meu tesão por esse texto e tudo o que ele representa”, resume Babaioff.

Serviço

Sábado (07), às 20h e domingo (08), às 19h
No Teatro do Parque (Rua do Hospício, 81 – Boa Vista)
Ingressos: R$55 (meia), R$ 110 (inteira), pelo Sympla
Classificação: 18 anos

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